"Sírios devem ter chance de tomar rédeas da própria vida"
Juri Rescheto (lpf)11 de abril de 2016
Para Igor Konashenkov, porta-voz das forças russas na Síria, estrangeiros devem apoiar, e não atrapalhar o processo político no país. Em entrevista, ele destaca o papel de militares russos e a cooperação com os EUA.
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Militares russos vêm desempenhando um papel decisivo nos recentes êxitos das tropas do presidente sírio, Bashar al-Assad. A reconquista de Palmira das mãos do "Estado Islâmico" (EI), no final de março deste ano, é um exemplo.
"Assad valorizou muito a ajuda que a Força Aérea russa tem fornecido e sublinhou que sucessos como a retomada de Palmira teriam sido impossíveis sem o apoio russo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na ocasião.
Em entrevista à Deutsche Welle, o major-general Igor Konashenkov, porta-voz das forças de combate russas na Síria, fala sobre as operações no país. Apesar de o presidente Vladimir Putin ter ordenado, em meados de março, o início da retirada de suas forças militares da Síria, Konashenko diz que aviões e militares russos permanecem no país.
Para ele, além de participarem dos preparativos de operações e transferir conhecimentos militares, cabe aos militares russos apoiar o processo político na Síria, do qual a realização de eleições é o primeiro passo.
Deutsche Welle: Há algumas semanas jatos militares russos ainda cortavam o céu sobre a Síria. Agora tudo ficou mais calmo. Mas militares russos ainda estão presentes. O que eles fazem no país?
Igor Konashenkov: Conselheiros militares russos participam dos preparativos de operações militares, como a libertação de Palmira, Al-Qaratein e outras grandes localidades das mãos do "Estado Islâmico" (EI). Eles transferem a peritos sírios o conhecimento técnico necessário para operar armas que os fornecermos como parte de nossa cooperação. É claro que também participamos da elaboração dessas operações.
Os aviões russos desapareceram do céu sírio de maneira tão repentina quanto nele surgiram. A Síria, porém, continua repleta de terroristas. A Rússia não cumpriu, portanto, sua própria missão de livrar o país de extremistas?
Não, vejo isso como completamente equivocado. Os aviões russos continuam na base aérea de Hmeimim. E temos tantos aviões de quanto precisamos. São aeronaves modernas e helicópteros, que ainda realizam missões de combate. O alvo deles são grupos terroristas. Mas nossos peritos também desempenham uma missão humanitária, por exemplo, ao livrarem a antiga cidade de Palmira de minas. Para que, assim, possamos todos admirar novamente o que a humanidade criou há milênios.
As minas do EI em Palmira
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Como é a cooperação com outros países, como os Estados Unidos?
Muito ativa, no contexto dos acordos no processo de reconciliação das partes em conflito e da suspensão das hostilidades. Estabelecemos um ponto de observação na nossa base de Hmeinmim, aqui na Síria. Os americanos têm um centro semelhante em Aman. Estamos em contato diariamente. Informamos nossos colegas dos EUA sobre todos os casos de violação de cessar-fogos, e eles – é preciso reconhecer – compartilham conosco todas as informações que obtêm através de seus canais.
No momento, a situação é problemática somente em Aleppo. Segundo nosso levantamento, há mais de mil combatentes fortemente armados concentrados na cidade, sobretudo do grupo Jabhat al-Nusra. Eles têm armas pesadas, muitos veículos blindados, tanques.
No dia 13 de abril, serão realizadas eleições parlamentares na Síria – num momento extremamente desfavorável. Não há campanha eleitoral nem paz no país. Como o senhor acha que serão estas eleições?
É difícil dizer se a Síria está preparada para eleições ou não. Tudo é relativo. Sim, do ponto de vista europeu o país não está preparado. Mas é preciso começar em algum momento. Com alguma coisa. E essa coisa precisa ser o processo político. Eu viajo muito pela Síria e vejo como se trata de um país único. E diverso – em termos de mentalidade, estilo de vida das pessoas, de religião. Mas todas essas pessoas viveram juntas por milhares de anos. Acho que é preciso dar a elas, assim como a todos os outros, a chance de tomar as rédeas da própria vida. Não deveríamos atrapalhá-las nisso, mas sim apoiá-las.
Amor em tempos de guerra na Síria
Apesar dos contínuos bombardeios sobre sua cidade natal, um casal de Homs recusou-se a abandonar a esperança, usando as ruínas como cenário para seu álbum de casamento. A agência AFP deu projeção mundial às imagens.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Vida e amor entre ruínas
Nada Merhi, de 18 anos, e o soldado Hassan Youssef, de 27, escolheram um pano de fundo inusitado para suas fotos de casamento: as ruínas de sua cidade natal, Homs, na Síria, destroçada por bombardeios. A ideia foi do fotógrafo Jafar Meray, com a intenção de mostrar que "a vida é mais forte do que a morte".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
"O amor reconstrói a Síria"
Um mês depois de o casal sírio posar na cidade bombardeada, a agência de notícias francesa AFP divulgou uma série feita por um de seus fotojornalistas, documentando a iniciativa. O fotógrafo Meray postou o inusitado álbum de casamento no Facebook, sob o título "O amor reconstrói a Síria".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Cidade dilacerada
A guerra civil na Síria já fez mais de 250 mil vítimas, a maior parte delas civis. Terceira maior cidade síria, Homs tem sofrido tremendamente com as ofensivas das forças leais ao presidente Bashar al-Assad. Ela foi uma das primeiras cidades a se opor ao governo em 2012, embora em vão. Desde então, o governo conseguiu expulsar de Homs a maioria dos combatentes rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destroços cinzentos, vestido branco
Em meio à antes próspera metrópole, o branco do vestido de noiva de Nada realça a destruição que circunda o jovem casal. Buracos de bala, prédios abandonados, ruínas incendiadas e estradas desertas são um lembrete constante das vidas que Homs abrigava antes da guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Ataques continuam
Homs continua sendo alvo frequente de ataques armados. Em 26 de janeiro de 2016, 22 pessoas foram mortas e mais de cem feridas num atentado suicida a bomba no bairro de Al-Zahra. A maioria da população local é de alauítas, a seita islâmica minoritária a que também pertencem o presidente Assad e sua família. A milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ato terrorista.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Homs não é única vítima
Desde 30 de setembro de 2015, aviões de combate russos têm realizado ofensivas aéreas em apoio às forças de Assad. Homs não é a única cidade síria atingida: em 15 de fevereiro, um hospital perto de Murat al-Numan, a cerca de 280 quilômetros de Damasco, foi atingido por bombardeios. Ao menos nove pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Pressão internacional
Numa entrevista à agência de notícias AFP, Assad afirmou que continuaria a lutar, apesar da pressão internacional crescente no sentido de um cessar-fogo. O ministro saudita do Exterior, Adel al-Jubeir, rebateu, falando a um jornal alemão: "Não vai mais haver um Bashar al-Assad no futuro. Ele não vai mais arcar com a responsabilidade pela Síria."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destaque na Conferência de Munique
O sofrimento contínuo dos habitantes nas áreas sitiadas da Síria foi um dos pontos centrais de debate na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2016 e dedicada à segurança. O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "Em nossa opinião, a grande maioria dos ataques da Rússia foi contra grupos oposicionistas legítimos."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Repercussão na rede social
Alguns usuários do Facebook comentaram as imagens de Jafar Meray de forma emocional. "Sinto-me como o noivo na foto", escreveu um deles. Outro desejou: "Que Deus esteja com vocês e com todos os sírios. Obrigado por todas estas fotos e por partilhá-las com o mundo." Um terceiro propôs um título alternativo: "Amor em tempos de guerra".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Prova de que a vida continua
As fotografias de Meray se tornaram um sucesso tão grande que, além de comentá-las, seus seguidores no Facebook criaram sequências de slides com a série e a transformaram em vídeos para o YouTube. Para um usuário, o trabalho de Meray é "prova de que a vida continua, mesmo em Homs, a cidade mais devastada da Síria".