Sítio Burle Marx se torna Patrimônio Mundial da Unesco
27 de julho de 2021
Antiga residência do paisagista brasileiro, jardim no Rio abriga mais de 3.500 espécies de plantas, algumas ameaçadas de extinção ou já desaparecidas em seus países de origem. Brasil tem agora 23 bens na seleta lista.
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O Sítio Roberto Burle Marx, jardim botânico brasileiro com uma das maiores coleções de plantas tropicais e subtropicais do mundo, foi incluído nesta terça-feira (27/07) na seleta e cobiçada lista de Patrimônio Mundial da Unesco, na categoria paisagem cultural.
Localizado em Barra de Guaratiba, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, o espaço de 407 mil metros quadrados de área florestal abriga uma coleção com mais de 3.500 espécies de plantas, algumas ameaçadas de extinção ou já desaparecidas em seus países de origem, e muitas raras ou exóticas.
A propriedade conta com vários jardins, viveiros, sete edificações e seis lagos. O local também abriga um acervo museológico de mais de 3 mil itens, com coleções de arte cusquenha, pré-colombiana, sacra e popular brasileira, além da coleção de obras do próprio Burle Marx.
A candidatura brasileira foi apreciada durante a 44ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, que começou no sábado e vai até 31 de julho, na cidade de Fuzhou, na China. Agora, o Brasil conta com 23 bens inscritos na lista – 15 deles culturais, um misto e sete naturais.
"Os espaços ajardinados do sítio materializam tanto os princípios paisagísticos da obra de Burle Marx quanto os processos de análise, cultivo e experimentação que impulsionaram a criação do paisagismo tropical moderno", destaca Claudia Storino, que dirige o local desde 2012.
Segundo ela, além da satisfação de estar listado entre os mais importantes bens do mundo, o reconhecimento também aumenta ainda mais a responsabilidade em "manter, conservar e divulgar esse bem cultural".
Jardim botânico e laboratório
Em 1949, o renomado paisagista Roberto Burle Marx e seu irmão Guilherme Siegfried adquiriram o Sítio Santo Antônio da Bica, que viria a se tornar o Sítio Burle Marx.
O paisagista transformou o local em seu jardim botânico particular e um "laboratório" de experiências em paisagismo que deu origem ao moderno jardim tropical. O sítio se destaca pela vegetação nativa, formada principalmente por manguezal, restinga e Mata Atlântica. Posteriormente, os irmãos compraram outros terrenos, que foram anexados ao sítio.
Burle Marx morou no local entre 1973 e 1994. Em 1985, o paisagista doou o sítio ao governo federal, no intuito de assegurar a continuidade das pesquisas, a disseminação do conhecimento adquirido e o compartilhamento daquele espaço com a sociedade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) passou a gerir o local a partir de 1994, após a morte de Burle Max.
Para concorrer ao título de Patrimônio Mundial da Unesco, o sítio passou por um processo de requalificação – por exemplo, para se tornar mais acessível a deficientes – a partir de outubro de 2018, que foi concluído em fevereiro deste ano.
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Quem foi Burle Marx
Além de paisagista, Burle Marx foi artista plástico, pintor, escultor, designer de joias, figurinista, cenógrafo, ceramista e tapeceiro. Nascido em São Paulo, foi criado no Rio de Janeiro, onde morreu em 4 de junho de 1994.
Com milhares de projetos espalhados pelo mundo, Burle Marx concebeu paisagens de destaque no país, como os jardins do Complexo da Pampulha (1942), em Belo Horizonte, o jardim do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1954), o paisagismo do Aterro do Flamengo (1961), os jardins da sede da Unesco, em Paris, e o famoso traçado do calçadão de Copacabana, em 1970, entre outras.
Ele introduziu o paisagismo modernista no Brasil e foi um dos primeiros paisagistas a utilizar plantas nativas brasileiras em seus projetos. Foi também um dos pioneiros ambientalistas a reivindicar a conservação das florestas tropicais no Brasil, tendo organizado muitas expedições e excursões pelos biomas nacionais, onde descobriu mais de 30 novas espécies de plantas que levam seu nome.
le/ek (Efe, Agência Brasil)
Burle Marx, o criador do jardim moderno
Museu Judaico de Nova York dedica retrospectiva a Roberto Burle Marx, um dos mais influentes paisagistas do século 20 e, segundo o Instituto de Arquitetos Americanos, o "verdadeiro criador do jardim moderno".
Foto: Burle Marx Landscape Design Studio
Um modernista brasileiro
Ele foi paisagista, pintor, escultor, designer de tecidos, joias e cenários. Além de objetos, fotos e maquetes, a exposição "Roberto Burle Marx: Brazilian Modernist", no Museu Judaico de Nova York, traz trabalhos de artistas influenciados pela obra do modernista brasileiro. Aqui se tem uma visão geral da mostra que vai até setembro. Em 2017, ela estará em Berlim e, depois, no Rio de Janeiro.
Foto: David Heald
Burle Marx
Filho de Willem Marx, um comerciante alemão judeu, e Cecília Burle, uma pernambucana católica, Roberto Burle Marx (1909-1994) nasceu em São Paulo, mas cresceu no Rio de Janeiro. Seu amor pela flora veio da mãe e, ao longo de sua vida, ele projetou mais de 2 mil jardins e descobriu quase 50 novas espécies de plantas. Na foto, ele segura uma "Heliconia hirsuta burle marx ii", flor que leva seu nome.
Foto: Tyba
Paisagista excepcional
O que diferenciou Burle Marx de outros paisagistas foi não somente ter um conhecimento profundo de plantas, mas também de ele mesmo cultivá-las em seu sítio em Barra de Guaratiba, bairro litorâneo do Rio de Janeiro. Comprado com seu irmão Sigfried, em 1949, foi lá que o artista residiu até sua morte. Hoje, ali se encontra o Centro de Estudos de Paisagismo, Botânica e Conservação da Natureza.
Foto: Alexander Gorlin
Um brasileiro na Alemanha
Burle Marx cresceu em ambiente artístico, falava seis línguas e sua dedicação musical o levou a ser barítono. No final dos anos 1920, seu pai o trouxe para tratamento oftalmológico em Berlim, onde viveu dois anos. No Jardim Botânico da capital alemã, o artista descobriu a flora brasileira, que os europeus já colecionavam há muito. Na foto, vitórias-régias adornam jardim da Fazenda Vargem Grande.
Foto: Burle Marx Landscape Design Studio
Brasilidade
De volta ao Rio de Janeiro, em 1930, Burle Marx estudou pintura na Academia de Belas-Artes. Mas não perdeu o interesse pela botânica. É difícil dizer se a pintura o levou à jardinagem ou vice-versa. Na academia, Burle Marx foi contemporâneo de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Era a época da busca do caráter nacional, da "brasilidade". Na foto: o projeto de paisagismo do Palácio Capanema.
Foto: Burle Marx Landscape Design Studio
O jardim moderno
Burle Marx deve a Lúcio Costa sua primeira grande encomenda: os jardins do antigo Ministério da Educação, primeiro arranha-céu moderno do mundo projetado em 1936, hoje Palácio Capanema. Influenciado por formas de Hans Arp e Joan Miró, ele resgatou a textura e quebrou a simetria dos jardins franceses. Isso lhe valeu o título de "o criador do jardim moderno" pelo Instituto de Arquitetos Americanos.
Foto: Cesar Barreto
Paraíso reencontrado
Segundo Burle Marx, a Bíblia "descreve um paraíso em que havia um equilíbrio entre plantas, animais e o homem". Seu objetivo era resgatar esse paraíso perdido com o conhecimento da ecologia e da botânica. Mas o artista também achava que um jardim era algo do homem para o homem. Isso explica os objetos que posiciona em seus projetos, como este na Fazenda Vargem Grande, em Areias, São Paulo.
Foto: Burle Marx Landscape Studio
O longe e o perto
Influenciado pelo jardim japonês, Burle Marx introduziu os seixos no paisagismo moderno, onde criou formas e texturas que preenchia às vezes com plantas, às vezes com pedras. Para ele, o paisagismo deveria ter uma estrutura básica, o que lhe permitiu transformar seus jardins em pinturas quando observados de longe. Mas, de perto, eles assumem outras dimensões, como no Banco Safra, em São Paulo.
Foto: Leonardo Finotti
Arquiteto das plantas
Como aqui no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, Burle Marx introduziu a água no jardim moderno, trabalhando com grupos de plantas similares e regionais para facilitar os cuidados de manutenção. Ele também usava muros e paredes para contextualizar espacialmente os jardins, enriquecendo-os com azulejos e resgatando assim uma tradição portuguesa. Suas ideias foram copiadas em todo mundo.
Foto: Cesar Barreto
O belo mais belo
Burle Marx trabalhou com os principais arquitetos de sua época. Neste projeto de Oscar Niemeyer, do início dos anos 1950, ele deixou a natureza ainda mais bela, usando a montanha como pano de fundo, agrupando plantas em texturas e cores, complementando a arquitetura. O paisagista também gostava de ver pássaros em seus jardins, atraindo-os com flores e frutos.
Foto: Malcolm Raggett
Cores e formas
Seu vocabulário formal, no entanto, não se restringiu a seus projetos de paisagismo. Ele se estendeu por toda sua produção criativa. Variando entre o figurativo e o abstrato, Burle Marx criou os mais diversos objetos, que também utilizava em seus jardins. Na foto, vê-se ele pintando uma toalha de mesa em seu ateliê no seu sítio em Guaratiba, em 1980. O candelabro é adornado com frutas e flores.
Foto: Tyba
Plantas, joias e pedras
Formalmente, o contraste é uma das principais características do trabalho de Burle Marx. As formas desenvolvidas por ele podem ser traduzidas nos mais diversos objetos, sejam azulejos, pinturas, projetos de jardinagem ou até mesmo joias. Como neste bracelete em ouro e água-marinha que se vê na foto, desenhado provavelmente na década de 1960.
Foto: Isabella Matheus
Vitrais de sinagoga
Entre os projetos não executados de Roberto Burle Marx, apresentados na mostra do Museu Judaico de Nova York, está o desenho de oito vitrais, que foram projetados em 1985 para a sinagoga Beit Yaakov, no Guarujá em São Paulo. Mais uma vez, aqui se encontra o mesmo jogo de formas e cores que caracterizou toda a obra do artista brasileiro.
Foto: Burle Marx Landscape Design Studio
Do Brasil para o mundo
A calceteria - o famoso mosaico de "pedras portuguesas" - é uma das principais características dos pisos de jardins projetados por Burle Marx nas lajes e cobertas de edifícios, bem como ao longo de calçadões, como este no Biscayne Boulevard, em Miami, nos Estados Unidos. Com pedrinhas brancas, pretas e marrons, Burle Marx deu vida a pisos antes marcados pela monotonia monocromática.
Foto: Burle Marx Landscape Studio
Copacabana
O projeto de renovação urbana dessa parte da orla na zona do sul do Rio de Janeiro se iniciou em 1954 com as obras do aterro do Flamengo e foi concluído em 1970 com o calçadão de Copacabana. Burle Marx foi responsável pelo projeto de paisagismo, como também pelos desenhos abstratos de calceteria que elevaram ainda mais a fama de Copacabana como a praia mais famosa do mundo.