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Saída de Rattle da Filarmônica de Berlim abre especulações sobre sucessor

24 de janeiro de 2013

O maestro abandona o barco: o inglês Simon Rattle anunciou, para surpresa geral, que deixará a orquestra ao fim de seu contrato, em meados de 2018. Especulações em torno do sucessor já começaram.

Foto: picture-alliance/dpa

"A decisão não foi fácil para mim", afirmou a seus músicos o regente Simon Rattle, predileto do público, com sua cabeleira de cachos grisalhos. "Em 2018, terei trabalhado durante 16 anos na Filarmônica de Berlim. Antes, passei 18 anos como titular em Birmingham. Além disso, estarei prestes a comemorar 64 anos". E com o charme que lhe é peculiar, acrescentou com uma ponta de humor: "Como alguém natural de Liverpool, não se pode passar por esse aniversário sem a pergunta dos Beatles: will you still need me, when I'm 64?".

Com isso, Rattle abre uma série de questões. Será que ele quer abdicar das tarefas de organização que cabem ao titular de uma orquestra para se concentrar mais, como profissional autônomo, em seu lado artístico? Ou suas ideias estão aos poucos se acabando? Essas são algumas das perguntas que os músicos da orquestra de elite fazem a si mesmos. A insatisfação com o titular cresce dentro da filarmônica, mas somente entre poucos e assim mesmo lentamente. Será que Rattle quer sair no auge?

Simon Rattle em HelsinkiFoto: picture-alliance/dpa

Nos últimos dez anos, Rattle reestruturou completamente a Filarmônica de Berlim, organizada por princípios democráticos de base. Condição para que ele assumisse o cargo de titular, em 2002, era a fusão de duas instituições em uma fundação: a Berliner Philharmonische Orchester (Orquestra Filarmônica de Berlim), subvencionada pelo Estado, e a sociedade de capital privado Berliner Philharmoniker (Filarmônica de Berlim), cujos royalties fluíam diretamente para as contas dos músicos. Isso aconteceu sem que a nova Fundação da Filarmônica de Berlim tivesse que abdicar dos subsídios estatais. Pois sob a batuta de Simon Rattle, o "pop star do universo dos regentes", a orquestra de 129 membros rejuvenesceu consideravelmente. E assumiu novas tarefas.

Dando as costas ao pomposo e voltando-se à juventude

O britânico Simon Rattle: um caso de sucesso à frente da Filarmônica de BerlimFoto: picture-alliance/dpa

O repertório da Filarmônica foi reestruturado, dando menos espaço aos encerramentos apoteóticos de praxe, com Beethoven, Brahms e Bruckner. E com coragem para se voltar ao moderno: Dutilleux, Debussy, Britten, Strawinsky. E também projetos crossover com músicos de jazz, como Wynton Marsalis, ou com o diretor de teatro e compositor Heiner Goebbels. As gravações de CD ainda são remuneradas com prêmios, mas não mais com royalties, e sir Simon Rattle introduziu transmissões ao vivo de concertos da Filarmônica de Berlim na internet.

Seu Digital Concert Hall – a sala de concertos virtuais da Filarmônica – começa aos poucos a dar lucro, segundo seus organizadores. O número de admiradores cresceu, e Rattle conseguiu atrair às salas de concerto até mesmo pessoas que jamais teriam pisado lá. A arquitetura da famosa Filarmônica de Berlim, a cargo de Hans Scharoun, reluz e emana uma atmosfera cosmopolita.

Numa época em que o Estado alemão relega a segundo plano a educação musical nas escolas, a Filarmônica de Berlim finalmente passou a se dedicar à sua tarefa de ensinar. Os músicos deslocam-se até o espaço urbano para dar aulas e fazer música: nas escolas, nos hospitais e também em áreas socialmente problemáticas da cidade.

Rhythm is it!

Rattle com crianças e jovens na VenezuelaFoto: picture-alliance/dpa

O primeiro grande projeto "educativo" da Filarmônica de Berlim, sob a direção de Rattle, levou o nome de Rhythm is it!. O filme sobre a interpretação e apresentação do balé A sagração da primavera, de Igor Strawinsky, em um antigo depósito de ônibus de Berlim, em janeiro de 2003, tornou-se sucesso internacional. O projeto reuniu 250 alunos das escolas berlinenses, de 25 países e classes sociais diversas.

Muitos deles, até aquele momento, não tinham tido qualquer contato com a música erudita ou a free dance. Através dos músicos da Filarmônica de Berlim, descobriram quais capacidades e potenciais se escondiam neles próprios e quanto isso poderia lhes dar força para a vida. Rhythm is it! fala, de maneira esfuziante, do fascínio que a música exerce, da confiança em si mesmo e no outro, bem como de paixão, teimosia, respeito, amor e alegria de viver – hoje uma mensagem central da Filarmônica de Berlim.

Quem ocupará seu lugar?

Rattle é visto pela maioria dos músicos da Filarmônica e pelo público como um caso de sucesso: o regente aberto a novas experiências deu início a uma nova era na orquestra. "Lamentamos a decisão de Simon Rattle", afirmou o presidente da orquestra, Stefan Dohr, sobre o anúncio da saída.

"Ao mesmo tempo, respeitamos sua decisão pessoal. O trabalho a seu lado é marcado por uma grande simpatia e por uma conduta respeitosa, tanto do ponto de vista da arte quanto pessoal. E esta será uma base maravilhosa para nossa cooperação com ele, como diretor artístico, nos próximos cinco anos. Estamos contentes com os diversos projetos interessantes, que já estão sendo planejados. Depois de 2018 continuaremos estreitamente ligados a ele em função de nossa amizade", completou Dohr.

Rattle irá conseguir se despedir com elegância de Berlim, ao que tudo indica. A orquestra não irá se manifestar sobre o sucessor nos próximos dois ou três anos. Nem sobre uma possível troca de geração na batuta. Andris Nelson, de 34 anos, é tão bem-vindo entre os músicos da Filarmônica de Berlim quanto o venezuelano Gustavo Dudamel, de 31 anos, cujo contrato com a Filarmônica de Los Angeles irá acabar exatamente em 2018. O espanhol Pablo Heras-Casado, de 35 anos, e o canadense Yannick Nézet-Séguin, de 37, também serão certamente observados de perto nos próximos anos.

Ensaios em VienaFoto: picture-alliance/dpa

Ou será que a busca vai se dar entre a geração acima de 50 anos? Estaria o septuagenário Daniel Barenboim, que com sua Staatskapelle de Berlim fez forte concorrência à Filarmônica nos últimos anos, velho demais para o cargo? Christian Thielemann, de 53 anos, que acaba de assinar contrato como titular da Staatskapelle de Dresden, válido até 2019, certamente aceitaria o cobiçado cargo na Filarmônica de Berlim. Thielemann, contudo, é considerado por muitos como um retrocesso ao autoritarismo, como o experimentado na época de Herbert von Karajan. Ou opta-se por um outsider, quem sabe por Thomas Hengelbrock, de 54 anos, que faz atualmente um sucesso estrondoso com a Orquestra Sinfônica da emissora NDR, em Hamburgo?

Tudo vai girar – como na decisão por Rattle, em 2002 – em torno do dinheiro, ou seja, com quem a Filarmônica de Berlim poderá gerar mais lucros? Os boatos vão circular. E os músicos da orquestra berlinense irão, na hora certa, escolher seu próximo titular entre os melhores regentes do mundo. E, com isso, certamente iniciar uma nova etapa. Rattle terá dado tempo suficiente a eles para pensar bem a respeito.

Autor: Peter Zimmermann (sv)
Revisão: Francis França

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