Saber em ruínas
6 de maio de 2005Durante a ascensão do nazismo e em pleno período de guerra, a Universidade Técnica de Berlim não diferia muito das outras instituições de ensino no país. Tanto entre os professores quanto entre os alunos havia fortes heranças da ideologia nazista.
Em maio de 1945, esta e outras universidades do país tiveram que enfrentar vários desafios. As condições eram duras: prédios destruídos, ruínas por todos os lados e alojamentos estudantis sem calefação. "Ter condições de freqüentar o restaurante universitário já era considerado luxo", contam estudantes da época, hoje em sua maioria já em torno de 80 anos de idade.
Inauguração e não reabertura
No caso da Universidade Técnica de Berlim (TU), a "inauguração" no ano de 1946 se deu propositalmente. Para mostrar que não se tratava de uma reabertura, rompendo de vez com o passado nazista. Uma tarefa, diga-se de passagem, não muito fácil.
Denúncias de "tendências nazistas" em várias das instituições do país não eram raras. Em relato datado de março de 1946, os estudantes da zona ocupada no país pelas forças britâncias eram tidos como "ainda nazistas". "Nenhum de nós quer ter alguma coisa a ver com democracia", consta do depoimento de um estudante da época, citado pelo semanário Der Spiegel em texto sobre a reconstrução das universidades alemãs no pós-guerra.
Por uma "educação universal"
Na tentativa de implantar novo curso à situação, universidades como a TU de Berlim recebiam a incumbência de focalizar seus esforços na "educação universal". Para isso, as Ciências Humanas passaram a fazer parte indispensável dos cursos de graduação.
Em 1948, foram criadas as cadeiras de História, Letras, Antropologia e Ética Social. Disciplinas ligadas às Ciências Humanas acabaram, no entanto, sendo abolidas do currículo dos estudantes de Engenharia décadas mais tarde, em 1968. O questionamento acerca do papel social da técnica na sociedade permaneceu como um dos pilares da universidade.
Começar do nada
As condições para o aprendizado que deveria a partir de então ser democrático e isento de resquícios do regime nazista não eram as melhores. Muitos dos estudantes em 1945 começaram literalmente do nada, tendo sido obrigados a organizar, eles próprios, a estrutura acadêmia então destruída.
No pós-guerra, muitas universidades alemãs encontravam-se destruídas e muitas delas com instalações completamente inutilizáveis. Segundo o semanário Der Spiegel, em Aachen, por exemplo, quase 70% dos prédios ocupados pela universidade estavam sem condições de uso no fim da Guerra. Em Darmstadt, 80% estavam neste estado e em Bonn e Münster dois terços das salas de aula e laboratórios estavam em ruínas.
Nos invernos gélidos, muitos estudantes enfrentavam o frio de salas de aula sem calefação. Responsáveis oficiais por quesitos como alimentação ou moradia dos estudantes simplesmente não existiam. Muitos se viam obrigados a se virar no "mercado negro" ou a fazer uso de contatos pessoais para sobreviver.
Decisões pragmáticas
Não apenas a sede de saber, mas boas doses de pragmatismo guiaram a vida dos estudantes na época. Muitos deles se transformaram em pedreiros de ocasião e reconstruíram com as próprias mãos as salas de aula.
O aparato social que hoje é parte integrante das universidades do país também teve de ser reerguido. Além da criação de sistemas de seguros de saúde, foram fundadas centrais de empregos para os estudantes. Na Universidade Técnica de Berlim, esta instituição encontra-se ainda hoje em atividade.