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Salman Rushdie apresenta melhora no quadro clínico

14 de agosto de 2022

Escritor anglo-indiano foi vítima de atentado na última sexta-feira. Segundo agente, Rushdie foi extubado e já consegue falar. "Os ferimentos são graves, mas sua condição está indo na direção certa".

Salman Rushdie
O ataque a Rushdie gerou reações de indignação entre escritores e políticos de todo o mundoFoto: Chris Young/empics/picture alliance

O escritor anglo-indiano Salman Rushdie apresentou melhora em seu quadro clínico e já consegue falar. Seu agente, Andrew Wylie, declarou neste domingo (14/08) que Rushdie foi extubado do respirador e está "no caminho para a recuperação".

"Será [um caminho] longo; os ferimentos são graves, mas sua condição está indo na direção certa", declarou o agente. Segundo o agente, Rushdie deve restabelecer o movimento da mão, apesar de os nervos do braço terem sido afetados pelo ataque. O escritor ainda corre o risco de perder um olho, e ainda teve o fígado atingido.

Já a família de Salman Rushdie disse que está "muito aliviada" com a melhora do seu estado de saúde, acrescentando que o autor vem mantendo seu "senso de humor".

"Estamos extremamente aliviados que ontem ele tenha sido retirado do ventilador", tuitou Zafar, filho do escritor. "Seu habitual senso de humor aguerrido e desafiador permanece intacto".

Rushdie, de 75 anos foi apunhalado repetidamente no pescoço e no torso na última sexta-feira, enquanto se preparava para dar uma palestra na região oeste do estado de Nova York. Nos anos 1980, ele foi jurado de morte pelo regime fundamentalista islâmico do Irã, que considerou um dos livros de Rushdie como "herético". Membros do regime totalitário de Teerã chegaram a oferecer recompensas em dinheiro para quem assassinasse o autor.

O autor do atentado contra o escritor foi identificado como Hadi Matar, de 24 anos e que mora em Fairview, no estado americano Nova Jersey. Ele foi preso e formalmente acusado pelos crimes de tentativa de homicídio em segundo grau e agressão em segundo grau.

Em audiência realizada num tribunal de Nova York neste sábado, Matar se declarou inocente. O acusado compareceu à corte vestindo um macacão preto e branco e uma máscara facial branca. As mãos dele estavam algemadas à sua frente.

Reações

O ataque a Rushdie gerou reações de indignação entre escritores e políticos de todo o mundo, que classificaram o crime como um atentado à liberdade de expressão.

O presidente dos EUA, Joe Biden, condenou o "ataque violento" e elogiou Rushdie por sua "recusa em ser intimidado ou silenciado". Em comunicado, o democrata afirmou que ele e sua esposa Jill, "junto com todos os americanos e pessoas ao redor do mundo, estão orando por sua saúde e recuperação".

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, também disse "condenar" fortemente o atentado. "A rejeição internacional de tais ações criminosas, que violam direitos e liberdades fundamentais, é o único caminho para um mundo melhor e mais pacífico", escreveu.

Já o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, chamou o ataque de um "ato desprezível" e desejou força ao escritor para sua recuperação. "O mundo precisa de pessoas como você que não são intimidadas pelo ódio e defendem corajosamente a liberdade de expressão."

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que "ninguém deve ser ameaçado ou prejudicado com base no que escreveu". "Desejo a ele uma rápida recuperação", acrescentou.

Salman Rushdie

Salman Rushdie é um importante porta-voz da liberdade de expressão e de causas liberais. Ele tem recebido ameaças de morte há décadas, e inclusive há uma recompensa oferecida por organizações iranianas de mais de 3 milhões de dólares a qualquer pessoa que o mate.

Seu romance Os versos satânicos, de 1988, foi considerado uma blasfêmia por muitos muçulmanos radficais, que interpretaram um dos personagens como um insulto ao profeta Maomé, entre outras críticas. Protestos muitas vezes violentos irromperam contra Rushdie, que nasceu na Índia em uma família muçulmana. Um desses protestos acabou com 12 mortos em Mumbai, sua cidade natal.

O livro foi proibido no Irã, onde o então aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu em 1989 uma fatwa (decreto religioso) pedindo a morte de Rushdie – Khomeini morreu naquele mesmo ano. O atual líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, nunca emitiu uma fatwa própria e revogou o decreto. Nos últimos anos, órgãos ligados ao regime iraniano e jornais raciais do país reiteraram as ameaças contra o escritor, chegando a anunciar acréscimos na recompensa pela morte do escritor.

As ameaças de morte levaram Rushdie a se esconder sob um programa de proteção do governo britânico, que envolvia segurança armada 24 horas por dia. Rushdie reapareceu depois de nove anos de reclusão e cautelosamente retomou as aparições públicas, mantendo suas críticas abertas ao extremismo religioso.

Ele disse em uma palestra de 2012 que o terrorismo é a arte do medo. "A única maneira de vencê-lo é decidindo não ter medo'', afirmou. Rushdie obteve cidadania americana em 2016 e vive na cidade de Nova York. Ele venceu em 1981 o Booker, principal prêmio da literatura em língua inglesa, pelo livro Os filhos da meia-noite.

A Chautauqua Institution, onde ocorreu o ataque, fica em uma região rural de Nova York e funciona há mais de um século como espaço para reflexão e orientação espiritual. Os visitantes não passam por detectores de metal ou revista de bolsas.

O local é famoso por suas conferências de verão, nas quais Rushdie já havia falado antes. Os palestrantes abordam um tema diferente a cada semana. Rushdie e o moderador, Henry Reese, tinham sido convidados para discutir "os Estados Unidos como asilo para escritores e outros artistas no exílio, e como um lar para a liberdade de expressão criativa".

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