Salvini será julgado por bloquear navio com refugiados
17 de abril de 2021
Justiça italiana marca para 15 de setembro julgamento do político de extrema direita. Quando era ministro do Interior, ele impediu o desembarque de migrantes resgatados no Mediterrâneo, mantendo-os por dias no mar.
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A Justiça da Itália determinou neste sábado (17/04) que o político de extrema direita Matteo Salvini seja julgado por ter impedido que um navio com dezenas de migrantes atracasse em um porto italiano em 2019, quando ele ainda era ministro do Interior do país.
O juiz Lorenzo Iannelli marcou o julgamento para 15 de setembro. A decisão foi tomada em audiência no tribunal de Palermo, na Sicília, na qual Salvini esteve presente.
O ex-ministro insistiu que estava apenas fazendo seu trabalho e seu dever ao bloquear o navio humanitário da ONG espanhola Open Arms, que havia resgatado 147 refugiados de barcos precários no Mediterrâneo. Com o bloqueio de Salvini, essas pessoas foram mantidas no mar por dias.
"Vou a julgamento por isso, por ter defendido o meu país?", escreveu ele no Twitter após a decisão. "Irei [ao tribunal] com minha cabeça erguida."
Os promotores de Palermo acusaram Salvini de abandono do dever e sequestro por ter mantido os migrantes no mar durante 19 dias em agosto de 2019, perto da ilha de Lampedusa, o enclave mais ao sul do país.
A embarcação da Open Arms esperava um porto europeu para o desembarque, o que foi negado desde o primeiro momento por Salvini. O navio recusou ofertas das autoridades da Espanha, justificando que a travessia seria muito longa e arriscada.
Durante o impasse, alguns refugiados se jogaram ao mar em desespero, enquanto o capitão do navio implorava por um porto seguro e próximo para atracar a embarcação.
Em 15 de agosto, a Justiça italiana respondeu a um apelo da ONG contra o veto de Salvini e permitiu que o navio entrasse nas águas da ilha de Lampedusa para se proteger do mau tempo.
Finalmente, na noite de 20 de agosto, o Ministério Público permitiu que os 83 imigrantes que ainda estavam a bordo desembarcassem em Lampedusa, encerrando a odisseia.
Salvini, líder do partido de extrema direita Liga, promoveu uma forte política anti-imigração como ministro do Interior do primeiro governo do premiê Giuseppe Conte, entre 2018 e 2019.
Enquanto exigia que os países da União Europeia fizessem mais para acolher os migrantes que chegavam à Itália pelo Mediterrâneo, Salvini argumentava que os navios humanitários apenas encorajavam os traficantes de pessoas baseados na Líbia.
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ONG saúda decisão
Neste sábado, a Open Arms saudou a decisão de submeter o ex-ministro a julgamento. A organização também confirmou que se registrou como uma das partes civis da acusação, ao lado de alguns sobreviventes do resgate, a cidade de Barcelona (onde a Open Arms está sediada) e outros grupos de ajuda humanitária.
O fundador da ONG, Oscar Camps, afirmou que a decisão de julgar Salvini é "histórica" e mostra que líderes políticos europeus podem ser responsabilizados por não respeitarem os direitos humanos dos migrantes. "Esse julgamento é um lembrete para a Europa e para o mundo de que há princípios de responsabilidade individual na política", disse Camps em coletiva de imprensa.
Salvini também está sendo investigado por outro impasse semelhante, envolvendo o navio da guarda costeira italiana Gregoretti, que ele se recusou a deixar atracar em meados de 2019.
O promotor desse caso em Catania, Sicília, Andrea Bonomo, recomendou na semana passada que Salvini não fosse levado a julgamento, argumentando que ele estava apenas cumprindo a política do governo quando manteve os 116 migrantes no mar por cinco dias.
ek (AP, DPA, AFP)
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac