Democracia x petróleo
3 de setembro de 2011Após a aprovação, nesta sexta-feira (02/09), do embargo às importações de petróleo da Síria, a União Europeia (UE) considera a adoção de novas sanções contra o regime de Bashar al Assad. Durante a reunião de dois dias dos ministros do Exterior europeus, na cidade polonesa de Sopot, no Mar Báltico, o chefe da diplomacia francesa, Alain Juppé, declarou: "Se Assad não ouvir e se não houver uma mudança de regime, vamos ter que aumentar a pressão".
Entre outras medidas, cogita-se uma interdição generalizada de investimentos sírios em território europeu, como a já decretada pelos Estados Unidos. No entanto, os conflitos de interesses dentro da UE não só atrasam como debilitam as resoluções.
Freio italiano
A proibição de importações de petróleo sírio, por exemplo, só se refere a novos contratos. A Itália conseguiu impor que, no tocante a contratos já existentes, ela só passe a vigorar a partir de 15 de novembro. O ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, defendeu o posicionamento de seu país: "Era uma exigência técnica. Precisamos de um certo tempo até podermos implementar o embargo de importações".
Em 2010, a UE importou da Síria mercadorias no valor de 3,6 bilhões de euros, dos quais 3,3 bilhões em derivados de petróleo. As transações com o combustível fóssil daquele país árabe perfazem 0,8% de todas as importações europeias. De todo o petróleo sírio comprado por membros da UE, 32% foi para a Alemanha, seguido de 31% para a Itália.
Além do conglomerado italiano de energia Eni, a anglo-holandesa Royal Dutch Shell e a francesa Total também mantêm relações comerciais intensas com a Síria.
Entre democracia e petróleo
Originalmente, os ministros da UE haviam pleiteado a aplicação imediata do embargo de petróleo. Entre outros, o chefe de pasta finlandês Erkki Tuomioja protestou: "Se as sanções só entrarem em vigor em novembro, será tarde demais. Se nossa intenção é séria, devemos agir imediatamente".
Os ministros reunidos na Polônia interditaram o acesso à UE a três empresas sírias: um banco imobiliário, o investidor financeiro Cham e a empresa de transportes Mada.
Além disso, a União Europeia acrescentou outras quatro figuras de liderança do governo de Assad à lista de pessoas proibidas de ingressar no território europeu. Atualmente estão congelados na UE os bens de 54 personagens do regime sírio. O embargo armamentista imposto em maio também foi confirmado.
As medidas punitivas vêm em protesto à repressão violenta do movimento democrático sírio pelas forças presidenciais. A alta representante da União Europeia para Assuntos Externos, Catherine Ashton, observou: "Estamos cada vez mais preocupados com o que ocorre na Síria. Vamos manter a pressão econômica sobre ela, a fim de chegar a uma solução política".
Protesto da Rússia
Segundo o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, a intenção é isolar o regime de Assad em nível internacional e forçá-lo a cooperar com os oposicionistas de seu país. O político liberal acrescentou que a UE seguirá se empenhando por decisões contra o regime Assad, no contexto do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Contudo, as resoluções neste sentido têm sido bloqueadas sobretudo pela Rússia e a China. Ambas as potências temem que as sanções possam ser pretexto para ações militares como a aplicada contra o governo líbio. O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, declarou neste sábado: "Somos contra sanções unilaterais". Segundo ele, tal procedimento não leva a nada de bom e destrói as possibilidades de abordar a crise como parceiros.
Enquanto o mundo discute, o Exército sírio continua investindo com violência contra os manifestantes em diversas cidades do país. Segundo dados de ativistas dos direitos humanos, desde sexta-feira ao menos 23 pessoas foram mortas nos confrontos.
AV/dap/rtr
Revisão: Francis França