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ConflitosAfeganistão

Sanções dificultam a ajuda ao Afeganistão

13 de janeiro de 2022

Nações Unidas apelam por ajuda urgente contra a grave crise de fome no país asiático. As sanções internacionais agravam significativamente as dificuldades já enfrentadas pela população afegã.

Mulher com criança no colo
Mãe e filho num campo de desalojados perto de Herat, AfeganistãoFoto: © WFP/Marco Di Lauro

"Um enorme desastre humanitário se aproxima", adverte Martin Griffiths, coordenador de ajuda de emergência das Nações Unidas. Segundo ele, 22 milhões de habitantes precisam de ajuda no Afeganistão, e quase 6 milhões de afegãos deslocados nos países vizinhos necessitam urgentemente de apoio. De acordo com dados da ONU, são necessários pelo menos 4,5 bilhões de euros para esse fim, o maior apelo de ajuda já lançado pelas Nações Unidas.

O comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, adverte que uma catástrofe no país também acarretará mais deslocamentos, com consequências para toda a região, e "esse movimento de refugiados será difícil de controlar". O fato também está sendo sentido na Alemanha: o número de requerentes de asilo do Afeganistão aumentou significativamente desde que o Talibã tomou o poder.

Quase nada funciona sem ajuda estrangeira

Mas as razões para a grande crise não são apenas a grave seca e o fato de o Talibã ter restringido severamente as oportunidades de ganho das mulheres. Depois que o Talibã conquistou o país inteiro, em agosto de 2021, muitos governos de todo o mundo suspenderam ou reduziram significativamente a ajuda ao Afeganistão e congelaram as reservas do banco central afegão no exterior.

O país já era muito pobre. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), cerca da metade da população afegã vivia na pobreza antes de o Talibã tomar o poder. Em meados de 2022, o PNUD estima que esse número possa subir para 97%.

Muitos governos suspenderam ajuda após ascensão dos talibãs ao poderFoto: dpa/AP/picture alliance

Muitos agricultores, professores, policiais e empregados da área da saúde e administrativa não têm renda desde o início das sanções, porque eram pagos pela comunidade internacional. Até agosto de 2021, a ajuda externa respondia por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) e até mesmo cerca de 75% dos gastos do governo afegão. Isso significa que, da importação de energia aos salários dos professores, de longe a maior parte era coberta pela ajuda externa.

"A fome mata mais do que a guerra civil"

Quando os talibãs assumiram o poder, a comunidade internacional não quis deixar fundos para os novos governantes. Praticamente da noite para o dia os bancos ficaram sem capital, milhões de cidadãos perderam o emprego ou o salário, a moeda perdeu valor drasticamente e os preços subiram acentuadamente.

Mathias Mogge, secretário geral da Ação Agrária Alemã (Welthungerhilfe), confirma que a "economia está em queda livre". Quase ninguém tem trabalho, o dinheiro é extremamente escasso, o sistema bancário entrou em colapso", assim como os sistemas de saúde e educação.

Economia do Afeganistão à beira do colapso

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Pelo menos a ajuda humanitária continuou sendo paga pela comunidade internacional. A ONU registra que em 2021 seu valor atingiu cerca de 1,5 bilhão de euros. A soma ainda é significativamente maior do que em anos anteriores, porém não basta para compensar a perda de outras fontes de auxílio.

A organização International Crisis Group (ICG), com sede em Bruxelas, adverte que a fome e a miséria provavelmente matarão "mais afegãos do que todas as bombas e balas nos últimos 20 anos". E o "principal culpado" seria o fato de os doadores estrangeiros terem suspenso todo apoio, exceto a ajuda humanitária.

Talibãs são considerados organização terrorista

Para a comunidade internacional, o Talibã continua sendo uma organização terrorista, portanto as sanções contra o grupo dificultam a ajuda rápida. Em dezembro, o Conselho de Segurança da ONU havia dado luz verde às organizações de ajuda para aumentarem seu apoio, a fim de salvar vidas, sem que isso fosse considerado violação das sanções. Mas muitos observadores consideram a medida insuficiente, pois as verbas precisariam fluir de volta para a economia afegã.

É a primeira vez que um grupo considerado ilegal e sob sanções internacionais toma o poder num país. Isso representa um dilema para governos e organizações de ajuda: como apoiar a população que sofre sem que essa ajuda beneficie os talibãs, que são culpados pelas mais graves violações dos direitos humanos?

Maioria dos bancos não tem dinheiroFoto: TASS/dpa/picture alliance

Como saída, os trabalhadores humanitários estrangeiros tentam contornar as autoridades talibãs. No final de 2021, o Banco Mundial liberou parte do Fundo para a Reconstrução do Afeganistão, no valor de US$ 1,5 bilhão, para o Programa Mundial de Alimentos e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, que era a maior fonte de financiamento do governo afegão anterior, apoiado pelo Ocidente.

A ONU também pagou os salários de milhares de funcionários de saúde afegãos, contornando o Ministério da Saúde do país, e criou um fundo de empréstimo para pequenas empresas e para projetos de infraestrutura. Mas ists não trouxe uma melhoria substancial.

Agências de ajuda: negociar com o Talibã

O Grupo Internacional de Crise está apelando para a comunidade internacional liberar os bens congelados do Afeganistão no exterior, aliviar as sanções e negociar com os talibãs a fim de restaurar os serviços básicos à população. "Preparamos a maior operação de ajuda do mundo, mas ao mesmo tempo mantemos as restrições econômicas, que pioram a situação a cada dia", diz Graeme Smith, da ICG. "Isto é contraproducente".

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Mathias Mogge, da Ação Agrária Alemã, diz que os próprios talibãs estão "batendo à nossa porta, dizendo 'façam algo, ajudem o nosso povo'", mas "Isso nem de longe significa que é preciso reconhecer o regime talibã". O apelo de Mogge se dirige também ao governo da Alemanha, para "encontrar formas de negociar com o talibã, a fim de que os serviços básicos possam ser restaurados".

Sem um aumento substancial da ajuda, "não há futuro", adverte Griffiths, pois a população perderia a esperança. Mas, se a ajuda vier, "o Afeganistão terá uma chance de finalmente desfrutar de alguma segurança". 

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