Sanções levam Rússia a dar 1º calote em mais de 100 anos
28 de junho de 2022
País perde prazo para pagamento de juros da dívida externa, após ser excluído do sistema financeiro internacional. Moscou diz ter dinheiro para pagar, mas que "ações de terceiros" impedem transações.
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A Rússia deu o primeiro calote no pagamento de sua dívida externa desde 1918, ano da Revolução Bolchevique, após o país ter sido praticamente excluído do sistema financeiro internacional em consequência das pesadas sanções internacionais impostas pelo Ocidente em reação a invasão da Ucrânia.
Moscou deveria ter pagado até este domingo mais de 100 milhões de dólares de juros sobre dois títulos de sua dívida. Esse pagamento venceu no dia 27 de maio, e o prazo de carência de 30 dias expirou.
O Ministério das Finanças russo afirmou nesta segunda-feira (27/06) que o dinheiro foi pago no dia 20 de maio, mas acabou admitindo que a quantia não chegou aos credores. O motivo para isso seria o fato de instituições intermediárias – como a Euroclear, que regula transações de títulos – terem bloqueado as transferências, em razão das sanções ocidentais.
Moscou, porém, nega ter dado o calote. O governo assegura que tem o dinheiro necessário para pagar, mas as sanções impedem os detentores de títulos estrangeiros de receberem os pagamentos, motivo pelo qual afirma que o calote é artificial.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a Rússia efetuou os pagamentos com vencimento em maio, e que o fato de terem sido bloqueados pela Euroclear por causa das sanções "não é problema nosso".
O Ministério das Finanças disse que as decisões dos intermediários estrangeiros estão além do seu controle, e pediu aos detentores de títulos estrangeiros que conversem diretamente com os que detêm os pagamentos.
"O não recebimento de dinheiro pelos investidores não ocorreu devido à falta de pagamento, mas devido às ações de terceiros, o que não é explicitado diretamente como uma situação de inadimplência pela documentação da emissão", explicou o Ministério.
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Sem classificação de crédito
Desde o fim de maio, os Estados Unidos bloqueiam a Rússia de efetuar pagamentos de suas dívidas em dólar.
Tradicionalmente, essas determinações são feitas pelas grandes agências de classificação de crédito, como a Fitch, Moody's e S&P Global Ratings. Entretanto, elas estão impedidas de fazer o chamado "rating" dos títulos russos, devido às sanções.
Segundo analistas, isso pode levar a um calote sem que haja uma declaração oficial de uma instituição autorizada.
A Rússia vem enfrentando dificuldades para cumprir pagamentos no valor de 40 bilhões de dólares em títulos em circulação desde que as sanções isolaram o país do sistema financeiro global.
rc (ots)
Sanções do Ocidente atingem círculo íntimo de Putin
Em reação à invasão da Ucrânia, UE, EUA e outros países ocidentais impuseram sanções severas à economia russa e aos associados do presidente Vladimir Putin. Quem são os bilionários atingidos?
Foto: Christian Charisius/dpa/picture alliance
Igor Sechin
Sechin é ex-primeiro-ministro da Rússia e diretor executivo da estatal petroleira Rosneft. No documento da União Europeia relativo às sanções, ele é descrito como "um dos assessores mais próximos e amigo pessoal" de Vladimir Putin. Além disso, apoia a consolidação da anexação ilegal da Crimeia à Rússia, sobretudo com o envolvimento da Rosneft no fornecimento de combustível à península.
Foto: Alexei Nikolsky/Russian Presidential Press and Information Office/TASS/picture alliance
Alisher Usmanov
Nascido no Uzbesquistão, Usmanov é magnata de metais e telecomunicação. A UE o cita como um dos oligarcas favoritos de Putin, tendo pago milhões a um de seus principais assessores, hospedado o presidente russo em sua luxuosa residência pessoal, além de atuar em sua "linha de frente" e "resolver seus problemas de negócios". Os EUA e o Reino Unido também o acrescentaram a suas listas negras.
Foto: Alexei Nikolsky/Kremlin/Sputnik/REUTERS
Mikhail Fridman e Petr Aven
A UE descreveu Fridman (c.) como "importante financiador e facilitador do círculo íntimo de Putin". Ele e seu parceiro de longa data Aven (dir.) lucraram bilhões de dólares com petróleo, transações bancárias e comércio de varejo, segundo a agência de notícias Reuters. A UE acrescenta que Aven é um dos homens de negócios russos ricos que se reúnem regularmente com Putin no Kremlin.
Foto: Mikhail Metzel/ITAR-TASS/imago
Negando conexões com Putin e o Kremlin
Numa coletiva de imprensa após o anúncio pela UE, tanto Fridman quanto Aven (dir.) negaram ter qualquer "relação financeira ou política com o presidente ou o Kremlin" e prometeram combater as punições, supostamente sem base, "com todos os meios à disposição". Nascido no oeste da Ucrânia, Fridman é um dos poucos russos submetidos a sanções que se pronunciou publicamente contra a guerra.
Foto: Alexander Nenenov, Pool/AP/picture alliance
Boris e Igor Rotenberg
A família Rotenberg é notória por seus laços estreitos com Putin. Boris é coproprietário do SMP Bank, associado à petroleira Gazprom. Seu irmão Arkady, já sob sanções da UE e dos EUA, praticava judô com Putin desde adolescente. Igor, filho de Arkady, controla a campanha de perfuração Gazprom Bureniye. Após a invasão russa, Boris e Igor entraram para as listas britânica e americana de sancionados.
Foto: Sergey Dolzhenko/epa/dpa/picture-alliance
Gennady Timchenko
Timchenko é um importante acionista do Rossiya Bank – definido no documento da UE como o banco pessoal das autoridades russas, investindo nas emissoras de televisão que apoiam ativamente as medidas do governo russo para desestabilizar a Ucrânia. Além disso, o Rossiya teria aberto sucursais na Crimeia, apoiando sua anexação ilegal.
Foto: Sergei Karpukhin/AFP/Getty Images
Alexei Mordashov
Mordashov investiu seriamente no National Media Group, o maior holding particular de mídia da Rússia, que apoia as medidas estatais de desestabilização da Ucrânia, afirma a UE. Em comunicado, o bilionário asseverou que não tem "nada a ver com a emergência da atual tensão geopolítica" e definiu essa guerra como uma "tragédia de dois povos fraternos".
Foto: Tass Zhukov/TASS/dpa/picture-alliance
Iates confiscados
As novas sanções incluem o congelamento de bens e restrições a viagens. Desde sua imposição, diversos iates de luxo pertencentes à elite russa foram confiscados na Itália, França e Reino Unido. Entre seus proprietários estão Sechin, Usmanov e Timchenko.