Saxônia, o reduto da ultradireita alemã
16 de setembro de 2021Sempre que Tino Chrupalla viaja para Berlim, ele precisa de proteção policial. Ele é o co-líder do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que muitos na capital alemã encaram como uma legenda que incita o ódio contra os imigrantes com slogans racistas e cujos membros às vezes chamam a atenção por sua proximidade com o neonazismo.
Por outro lado, quando Chrupalla – candidato a chanceler federal da Alemanha juntamente com Alice Weidel, copresidente da bancada da AfD no Parlamento alemão – está na região de Oberlausitz, no estado alemão da Saxônia, ele é recebido com saudações amigáveis e apertos de mão, apesar da pandemia de coronavírus. Ele se sente em casa nesta região, e Berlim – embora geograficamente próxima – parece muito, muito distante.
Na última eleição para o Parlamento da Alemanha (Bundestag) há quatro anos, Chrupalla – representando o partido de ultradireita AfD – venceu em seu distrito eleitoral de Görlitz com mais de 32% dos votos. Agora, ele pretende repetir esse sucesso.
Na hora do almoço em um dia útil de setembro, ele faz campanha nas ruas de Löbau, um vilarejo com cerca de 15 mil habitantes localizada a cerca de 35 quilômetros ao norte da fronteira com a República Tcheca. Ele está tranquilo embaixo de uma sombrinha e pronto para falar.
Não há muito movimento de pessoas no estande de campanha, e o morador Heiner Putzmann é um dos poucos transeuntes. Ele conta a Chrupalla que nasceu e foi criado em Löbau: "Eu nasci em casa no inverno europeu de 1952, e estava um frio de rachar", diz, e continua a contar como "a vida é muito boa" na região de Oberlausitz, com suas belas montanhas e casas elegantes. "É por isso que vivemos aqui e nunca queremos morar em uma cidade grande", conta.
Mas a infraestrutura é ruim, e há muitos roubos e furto de carros. As preocupações de Putzmann são compartilhadas por muitos na região, embora os índices de criminalidade venham caindo há anos.
Aqui na região de Oberlausitz, Chrupalla é simplesmente o mestre artesão com o seu próprio negócio de pintura e decoração que, para muitos, luta pelas pessoas comuns. "Os trabalhadores e aqueles que realmente agregam valor não se sentem mais representados na política", disse ele à DW em seu estande eleitoral. Seus sentimentos encontram ressonância em muitas pessoas da região.
Temas como refugiados não têm vez
Temas – como, por exemplo, o movimento Black Lives Matter, gênero neutro na linguagem, direitos das pessoas LGBTQ e a situação no Afeganistão e na Síria – não são de particular interesse na região. No máximo, eles são tópicos que evocam ansiedade e raiva.
"Os políticos em Berlim e Dresden [a capital do estado] deveriam finalmente cuidar de seu próprio povo antes de levar o dinheiro de sua própria população para o exterior", diz Chrupalla.
A região de Oberlausitz é marcada por contínuas mudanças. Alemães expulsos de antigos territórios anexados pela Polônia e República Tcheca chegaram após a Segunda Guerra Mundial. Após o fim da Alemanha Oriental, em 1990, a economia entrou em colapso. Como resultado, a região leste da Alemanha se tornou muito menos coesa socialmente: preconceito, racismo e inveja na sociedade se tornaram tensões dominantes na cultura local.
E isso só se intensificou na medida em que os jovens e os mais instruídos deixaram a região o mais rápido que puderam. Hoje, Oberlausitz é uma das áreas mais subdesenvolvidas economicamente na Alemanha – e um reduto de partidos de ultradireita, como a AfD.
Promoção da democracia e da coesão
Bernd Stracke tem lutado contra as estruturas de ultradireita desde o final dos anos 1990. Naquela época, ele se mudou voluntariamente para a região de Oberlausitz. "Meus pais e amigos ficaram chocados: 'Você está maluco?'", afirma.
Como músico punk, Stracke era um inimigo do Estado na Alemanha Oriental e muito diferente das outras pessoas da região. Na época da Alemanha Oriental, Oberlausitz já era considerada o "vale dos ignorantes" ("Tal der Ahnungslosen") – uma gíria da Alemanha Oriental para lugares onde não era possível captar o sinal de emissoras de televisão da Alemanha Ocidental.
Hoje, Stracke é conselheiro do gabinete do governador da Saxônia e seu trabalho é estabelecer uma ponte entre cidadãos e políticos. Seu cargo é um reconhecimento de que muitas cidades, vilas e famílias estão divididas entre o despertar social e uma renúncia reacionária à democracia moderna.
Assim, Stracke tem a tarefa de promover um novo sentido de coesão, e ele a chama de uma revolução a partir de dentro – isso porque, para ele, a mudança não pode ser prescrita por alguém que está fora dessa sociedade. "Estamos vendo isso agora também no Afeganistão, e isso não funciona. Importar novas ideias e mentalidades também não vai funcionar por aqui", conta.
Bernd Stracke mantém um diálogo – inclusive com a AfD. "É necessário certa aptidão – a tolerância – para fazer frente a pensamentos diferentes dos seus", afirma.
Oberlausitz é uma região cheia de contrastes: algumas cidades ainda parecem ruínas da extinta Alemanha Oriental. Em contraste, a cidade de Görlitz é um ímã turístico: ela foi poupada das bombas da Segunda Guerra Mundial.
Ruas antigas e imaculadas ladeadas de edifícios históricos imponentes também atraíram sucessos de bilheteria de Hollywood: Quentin Tarantino filmou na cidade seu filme Bastardos Inglórios, de 2009, trazendo a era nazista de volta à vida. A cidade se apelidou orgulhosamente de "Görliwood", devido às muitas produções cinematográficas.
Campanha eleitoral da ultradireita
No restaurante Kretscham, no pequeno vilarejo de Lawalde, Tino Chrupalla realiza um comício eleitoral. Cerca de 300 pessoas se aglomeram e, apesar do espaço limitado e da pandemia, ninguém usa máscara.
Este repórter da DW, que usa proteção facial, recebe olhares que variam de zombaria à hostilidade. Na porta está um jovem usando trajes visivelmente neonazistas, e o braço da pessoa ao seu lado é tatuado com caveiras. A cada segundo, uma pessoa chega e o cumprimenta – e todos parecem se conhecer.
A maioria dos participantes é formada por aposentados da classe média. Mas, entre eles, há também pessoas com tatuagens de caveiras – algumas com runas populares da era nazista, outras são ilustradas junto com imagens de munições. A convergência entre direitistas e extremistas de direita é fluida por aqui.
Nesse ambiente, Chrupalla não faz nenhuma tentativa de se distanciar da ala extremista de seu partido. Este grupo, inclusive, o elegeu como um dos dois principais candidatos da legenda nas eleições federais alemãs.
Quando ele alerta sobre a erosão de supostas virtudes alemãs, deportações tardias para países estrangeiros, uma iminente ditadura progressista, um retumbante "Jawoll!" ("Sim, senhor!") ecoa através da sala.
Com seu curso supostamente pragmático, Chrupalla percorreu um longo caminho na AfD. E ele tem um anúncio para os seus eleitores na região de Oberlausitz: a partir de 2025, a AfD pretende fazer parte de um governo de coalização na Alemanha.