Música pop alemã é obrigatória no Carnaval e na Oktoberfest. Melodias sentimentais com estética brega dividem gostos, mas ficam impregnadas na mente de cada um.
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"Sem fôlego, noite adentro, os seus olhos me despem”. Os versos da cantora Helena Fischer embalam as noites de muitos bares alemães. A canção Atemlos durch die Nacht é apenas um dos sucessos da música popular da Alemanha. Schlager não é apenas o gênero oficial da Oktoberfest de Munique. As letras melosas e sentimentais são também mandatórias no Carnaval alemão.
Colônia, no oeste do país. É fevereiro, com temperaturas negativas, e as ruas estão lotadas de ursos, leões, médicos, caubóis e tudo mais que a criatividade para fantasias permitir. Na Zülpicher Straße, parte sul de Colônia, os bares competem para ver qual toca Schlager mais alto.
A música Viva Colonia será de longe a mais tocada. Mesmo que não saiba alemão, você vai sair cantando "Wir lieben das Leben, die Liebe und die Lust./Wir glauben an den lieben Gott und hab'n noch immer Durst ("Nós amamos a vida, o amor e o desejo./Nós acreditamos no bom Deus e ainda temos sede”).
Poucos vão admitir que gostam do ritmo dançante do Schlager, mas as melodias ficam inevitavelmente impregnadas na memória. Mesmo que odiado por muitos, o gênero é a cara da festa alemã e, ainda que irrite, garante a diversão.
Os hits contagiosos sobre relacionamentos e as mazelas do amor são populares também em outros países, dos Bálcãs à Finlândia. O estilo easy listening de estética brega reflete aspectos técnicos, sociais, políticos e culturais, transportando emoções.
Ao visitar plantações de uva na região de Ahrweiler, no estado da Renânia-Palatinado, eu e uns amigos seguimos o som do Schlager para chegar a um pequeno vilarejo. Era a festa da rainha da uva.
Na plateia, um público maduro comia salsichas embebidos nos vinhos da região. No palco, uma sósia de Helena Fischer, com pose de rainha do Schlager. De vestido rosa curto e um cabelão loiro no estilo dos anos 70, ela cantava Atemlos ao lado de um tecladista que ensaiava algumas notas sobre a gravação com sintetizadores.
"Sem fôlego, noite adentro / Até que um novo dia desperte" ficou na mente. No dia seguinte, a letra não saía da cabeça.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.
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Falco, o austríaco que virou ícone mundial do pop
Falco conquistou as paradas mundiais em 1982 e chegou ao primeiro lugar nos EUA com uma homenagem a Mozart. O ícone pop da Áustria morreu há exatos 20 anos num acidente de carro.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kerstin
"Ele era um virtuoso, um ídolo do rock"
Definitivamente, Falco é um nome artístico bem melhor do que Johann "Hans" Hölzel. O cantor admirava muito o esquiador Falko Weißpflog, da antiga RDA. Por isso, Hölzel emprestou o nome do atleta e passou a se apresentar como Falco. Ficou famoso. Excêntrico, obstinado – um homem de terno e pomada nos cabelos, conhecido pelo estilo e pelos escândalos. Há muito tempo, Falco é uma lenda na Áustria.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kerstin
Quem precisa estudar música?
Seu primeiro instrumento foi um piano de cauda – e seu brinquedo preferido, um toca-discos. Mais tarde, ele tocou em bandas de punk rock que tinham nomes como "Umspannwerk" (estação de transformação) e "Drahdiwaberl", que coloquialmente quer dizer "oportunista". Falco tocava vários instrumentos. Abandonou o conservatório porque queria se tornar popstar. Emplacou seu primeiro sucesso em 1981.
Foto: picture-alliance/dpa
Topo das paradas
Inacreditável! O austríaco desconhecido com forte sotaque vienense estourou nas paradas alemãs fazendo rap – com batidas eletrônicas e de funk! Uma mescla que agradou muito aos fãs alemães, que levaram a música "Der Komissar" ao topo das paradas do país. Falco passou a ser convidado frequente nos maiores programas de TV da Alemanha – como na foto, com o apresentador Joachim Fuchsberger.
Foto: picture alliance
Falco e sua fiel banda
Uma figura tão ostensiva quanto Falco precisava de pessoas igualmente fascinantes à sua volta. Esta é sua banda – nos anos 1980. Os músicos se reúnem regularmente até hoje para tocar os maiores hits de Falco nas chamadas "Falco-Conventions" (convenções Falco). Hoje, todos têm cabelos curtos e deixaram de usar peruca.
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"Rock me Amadeus"
Em 1985, o filme "Amadeus" tinha acabado de estrear nos cinemas, contando a história de Mozart e retratando o compositor como punk excêntrico. Que inspiração para um músico vienense! Falco fez mais uma homenagem ao punk barroco com "Rock me Amadeus", canção na qual também descreve a si mesmo. "Rock me Amadeus" foi o primeiro hit em língua alemã a alcançar o topo das paradas americanas.
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Sucesso, estresse e drogas demais
O sucesso impulsionou Falco, e a Bolland & Bolland, sua equipe holandesa de produção, criou um hit após o outro com ele. Drogas e álcool eram os amigos sombrios do músico. A imprensa de fofocas sempre estava presente quando ele saía bêbado de uma discoteca ou caía no chão do lobby de um hotel. Mas, no show business, ele recebeu inúmeros prêmios.
Foto: picture-alliance/dpa/Votava
Letra polêmica
A letra da música "Jeanny" causou polêmica: uma moça sequestrada, maquiada, deitada sobre um altar e enfeitada com flores. Ela morreu ou dorme? Ao lado dela, o sequestrador e um cenário inspirado no filme "M, O Vampiro de Düsseldorf", de Fritz Lang. Críticos falaram em incitação à violência. Muitas estações de rádio se recusaram a tocar a música. Mesmo assim, ela chegou ao topo das paradas.
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Fim de uma era
Falco se apresentou no Japão e planejava uma turnê pelos EUA. Mas, de repente, desistiu da carreira e abandonou os palcos. Seus discos seguintes só fizeram sucesso na Áustria. Em 1992, com "Titanic", ele reeditou sucessos do passado, e conseguiu uma volta inesperada em 1995 com a canção tecno "Mãe, chegou o homem com a cocaína". Em 1996, saiu "Naked", último título lançado durante sua vida.
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Morte no paraíso
Falco escolheu a República Dominicana para viver. No país caribenho, ele bateu seu jipe num ônibus no dia 6 de fevereiro de 1998 e morreu imediatamente. A autópsia mostrou que ele bebeu muito, fumou maconha e cheirou cocaína. As especulações em torno de sua morte não tardaram: foi suicídio? Vinte anos depois, as circunstâncias ainda não foram completamente esclarecidas.
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"Falco não morreu"
Duas décadas depois de sua morte, os fãs de Falco ainda comemoram seu aniversário ou lembram o dia de sua morte no mundo todo. No seu aniversário de 50 anos, foi lançado um álbum-retrospectiva. Em 2013, foi encenada uma peça de teatro sobre sua vida. Em 2017, ano em que faria 60 anos, foi a vez de "Falco 60", com as melhores músicas, videoclipes inéditos, faixas raras e remixes de famosos DJs.
Foto: picture-alliance/dpa
O maior popstar da Áustria
Não dá para ignorar o túmulo de Falco no cemitério central de Viena. O obelisco em homenagem ao músico tem três metros de altura. A placa de vidro com sua imagem lembra sua obra artística. A lápide se tornou centro de peregrinação para seus fãs e para turistas que visitam Viena.