Scholz diz que o n° de refugiados é "muito alto no momento"
1 de outubro de 2023
Chanceler federal da Alemanha prometeu ajudar estados a lidar com os refugiados em meio a um aumento acentuado em pedidos de asilo. Berlim também introduziu controles nas fronteiras com a Polônia e a República Tcheca.
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O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, disse em uma entrevista publicada no sábado (30/09) que seu governo está tentando conter a imigração ilegal para o país com controles de fronteira mais rígidos.
As observações de Scholz, feitas para a Redaktionsnetzwerk Deutschland, foram feitas após a eclosão de um escândalo de venda de vistos na Polônia e tratativas no âmbito da União Europeia para a adoção de uma política de migração comum em todo o bloco. Além disso, há crescente insatisfação na Alemanha com a política de migração, que tem sido alvo de críticas de políticos de direita e ultradireita.
"O número de refugiados que tentam chegar à Alemanha é muito alto no momento", disse o chanceler. Ele também disse que mais de 70% de todas as chegadas não foram registradas previamente em outros países, "apesar de quase todos eles terem estado em outro país da UE".
A Polícia Federal alemã registou cerca de 71 mil entradas ilegais no país este ano, segundo o Ministério do Interior, indicando que os principais países de origem são a Síria, o Afeganistão, a Turquia e o Iraque. No leste alemão, há registro de abrigos lotados com a chegada de tantos migrantes.
Planos de um "limite flexível"
O chanceler também afirmou que pretende desenvolver "um sistema permanente para os municípios" em todos os estados alemães para lidar com a migração.
Segundo Scholz, está em discussão a adoção de um "limite flexível" durante uma reunião já agendada com todos os governadores alemães em novembro. O plano envolve oferecer financiamento com base na quantidade de refugiados que cada estado receber.
Scholz também disse que Berlim pediu para que a Polônia garanta que vistos não sejam mais vendidos ilegalmente a refugiados para que eles possam entrar de maneira fraudulenta na Alemanha.
Apesar de várias discordâncias, por vezes públicas, na coalizão governante da Alemanha, o social-democrata Scholz sublinhou que o seu governo, que conta com apoio dos liberais e verdes, está "em total acordo para impedir a migração irregular para a União Europeia".
"Isto só pode ser feito em conjunto e em solidariedade. A Alemanha fará tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar", acrescentou.
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Peso político
Berlim anunciou recentemente a imposição de controles nas fronteiras com as vizinhas Polônia e República Tcheca, depois de a Alemanha ter registado um aumento de quase 80% nos pedidos de asilo este ano. Todos os três países fazem formalmente parte do espaço comum de vistos de Schengen, onde as pessoas há muito conseguem atravessar as fronteiras sem controles de segurança rigorosos.
Entretanto, a chegada de milhares de requerentes de asilo à pequena ilha italiana de Lampedusa aumentou a urgência da elaboração de um pacto comum europeu sobre migração e asilo.
Scholz também enfrenta pressão política interna. No momento, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), abertamente anti-imigração, está avançando nas pesquisas, enquanto o Partido Social Democrata (SPD), juntamente com os seus parceiros de coligação, regista uma queda na preferência eleitoral.
Refugiados na Alemanha
A Alemanha recebeu cerca de 175.000 pedidos de asilo em 2023 – excluindo os ucranianos, que passam por um processo especial de asilo que a UE introduziu pouco após o início da invasão russa. No total, a Alemanha acolheu mais de 1 milhão de refugiados da Ucrânia.
Em 2015, no auge do que foi apelidado em toda a UE como uma "crise migratória", a Alemanha recebeu cerca de 1 milhão de refugiados - a maioria pessoas que escapavam da guerra civil da Síria.
jps (DW, AFP, Lusa)
Entre saudades de casa e recomeço: ucranianas na Alemanha
Elas fugiram da guerra sem saber exatamente o que as esperava. DW conversou com cinco refugiadas da Ucrânia que deixaram o país em guerra, em nome da própria segurança e dos filhos, deixando para trás parte de si.
Foto: DW
"Queria ir para casa"
Olexandra deixou Kiev em 23 de março de 2022 e agora vive na cidade de Bergisch Gladbach, no Oeste alemão. "Eu queria ir para casa, mas ainda não é possível. Às vezes tenho vontade de deixar tudo e voltar para Kiev, mesmo com bombas caindo. É difícil, aqui no estrangeiro. Temos que salvar tantas vidas quanto possível, para reconstruir o país. Esse pensamento me ajuda a aguentar a situação."
Foto: DW
"Meu Deus, que eu sobreviva até amanhã"
Olexandra recorda: "Em 15 de março decidi ir embora: uma estação de metrô nas vizinhanças tinha sido atingida, acordei com as paredes da casa tremendo. Em 23 de março tomei o trem para ficar com uma amiga em Lviv. Mas em 26 de março bombas caíram lá, também. Eu estava no porão e pensei: 'Deus, me deixa sobreviver até amanhã.' De Lviv, fui primeiro para a República Tcheca, e de lá para a Alemanha."
Foto: DW
Abrigo numa garagem
Olexandra passou os primeiros dias da guerra numa garagem subterrânea. "No terceiro dia acabou a comida. A um certo ponto eu não tinha forças nem para prender os cabelos com um elástico. No abrigo antiaéreo tinha uma toalete e uma pia em que se podia lavar a louça. Chuveiro não havia."
Foto: Privat
"Fiquei chocada"
Olena deixou a região de Kiev com os filhos em 10 de março, e agora vive em Colônia. "Venho da região de Donetsk, minha cidade natal é Avdiivka. Em 2014 e 2015 ficamos lá oito meses sob bombardeios. E aí veio o 24 de fevereiro de 2022. Meu Deus, eu nunca teria pensado que ia haver guerra novamente, fiquei chocada."
Foto: DW
Fuga sob perigo de vida
Sobre as duas primeiras semana de guerra nas proximidades de Kiev, Olena conta: "No lugarejo mesmo não havia soldados russos, mas bem perto, em Bucha, Makariv e Borodyanka. Havia bombardeios horríveis. Decidi pegar as minhas coisas e fugir. Ficar significaria pôr em perigo também a vida e a saúde dos meus filhos."
Foto: DW
"Ficamos na Alemanha"
Olena se considera de muita sorte: "Nunca estive aqui, mas era o único país para onde eu queria ir. Me ajudaram a encontrar um alojamento. Aqui me sinto bem e segura. Acho que vamos ficar na Alemanha. As crianças já estão indo à escola e aprendem alemão, eu também. Já fugimos duas vezes da guerra, agora os meus filhos precisam crescer em paz."
Foto: DW
"Mamãe, vou morrer agora?"
Tatiana se foi de Kharkiv em 5 de março e agora mora em Bonn. Na Ucrânia, viveu três semanas sob bombardeios. "Minha filha de dez anos tinha muito medo, chorava e perguntava, o tempo todo: 'Mamãe, eu vou morrer agora? Fugir foi amedrontador, mas não podia mais ver a minha filha nesse estado."
Foto: DW
Num bunker de Kharkiv
Sobre a fuga de Kharkiv, Tatiana relata: "Depois de cinco dias chegamos a Lviv, de lá seguimos para a Polônia. Os guardas de fronteira foram amigáveis e nos diziam o tempo todo que estávamos em segurança. Eles nos ajudaram a carregar nossas bolsas, voluntários davam brinquedos para as crianças, nos forneciam comida quente e tudo de que a gente precisava."
Foto: privat
"Meu coração está em Kharkiv"
Tatiana agradece à Alemanha e a outros países europeus pela ajuda: "Posso estar em segurança, mas com meu coração estou em Kharkiv, com a minha familia e os meus amigos. Todas as noites eu leio as notícias sobre bombardeios, mortos e feridos. Toda manhã eu ligo para minha família e amigos, na esperança de que tudo esteja em ordem com eles."
Foto: DW
Com amigos na Alemanha
Inna conta que ela e a amiga Xenia, ambas de Odessa, vieram para a Alemanha ficar com amigos que lhes ofereceram abrigo provisório. Os filhos de ambas continuam tendo aula online em suas escolas na Ucrânia. Elas são gratas a quem as ajudou.
Foto: DW
"O pior de tudo é a incerteza"
Entretanto elas estão longe de ter paz: "Vivemos na incerteza, pois não sabemos o que vai acontecer em seguida. Está claro que vamos ter que reconstruir o nosso país, e também que não vai haver empregos, porque a economia sofreu. Todos os ucranianos sabem disso. Mas o pior é ninguém saber quanto tempo isso vai durar, e o que fazer agora."
Foto: DW
"Também quero voltar para casa"
Inna quer retornar a Odessa. Xenia acrescenta: "Também eu quero ir para casa, aqui só somos hóspedes. Mas o meu marido é contra eu voltar, embora algumas vezes eu tenha estado quase a ponto de partir, apesar da guerra. Eu nunca teria deixado a minha cidade. Se o meu marido estivesse comigo, eu me sentiria diferente. Ele está em Odessa e patrulha a nossa rua."