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Scholz viaja à China sob pressão por menos dependência

Christina zur Nedden
3 de novembro de 2022

Visita do líder alemão ao país asiático coloca em foco uma relação ambivalente: por um lado, repúdio a violações de direitos humanos, por outro, aprofundamento continuado de laços comerciais.

Olaf Scholz
Governo liderado por Scholz anunciou para 2023 uma nova estratégia para a China, tratando Pequim de forma muito mais crítica do que nos últimos anosFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, viaja nesta quinta-feira (03/11) para Pequim com uma delegação comercial, após três anos de política de isolamento por parte da potência asiática.

Para a Alemanha, a China é a maior parceira comercial, e o empresariado alemão investe fortemente nela. Em setembro, o conglomerado químico Basf abriu uma grande central de produção em Zhanjiang, no sul do país, para a qual deverão fluir 10 bilhões de euros até 2030. Até o fim da década, cerca de dois terços do crescimento da Basf deverão vir da China.

O setor industrial alemão também investe maciçamente na China: 40% de todos os automóveis da Volkswagen são vendidos para o país. Mesmo depois que, em meados deste ano,  a Organização das Nações Unidas denunciou violações dos direitos humanos e trabalho forçado na região oriental de Xinjiang, a montadora alemã se recusou a fechar sua fábrica no local.

Na última semana de outubro, a agência de notícias Reuters anunciou que a Volkswagen planeja uma grande joint venture com a empresa chinesa de tecnologia Horizon Robotics, com o investimento de 2 bilhões de euros. Também fez manchetes um controvertido acordo com a estatal chinesa de transporte marítimo Cosco.

A estatal se candidatou a comprar partes de um terminal de contêineres do porto de Hamburgo, considerado infraestrutura crítica para a Alemanha. Scholz, que já foi prefeito da metrópole portuária, fez aprovar a transação, mesmo contra as advertências de especialistas em assuntos chineses e a resistência em seu gabinete.

Taiwan como fator de risco para economia alemã e mundial

Críticos afirmam que a Alemanha estaria cometendo em relação a Pequim o mesmo erro que cometeu com Moscou, entregando-se a grande dependência econômica de Estados que desprezam abertamente as leis internacionais – o que, no caso da Rússia, redundou na atual guerra na Ucrânia –, ou que ameaçam indiretamente com violência militar a fim de impor as próprias pretensões territoriais.

No recém-concluído 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), o chefe de Estado e partido Xi Jinping confirmou mais uma vez sua política para Taiwan,: "A reunificação deve ser alcançada, e será", afirmou, recebendo prolongado aplauso dos 2.300 delegados presentes no Grande Salão do Povo.

Para os taiwaneses, a reunificação é cada vez menos desejável, menos ainda sob o domínio do PCC. Mas Xi não se deixa abalar: "A solução da questão taiwanesa é assunto dos chineses", disse, e "forças externas" não têm que "se intrometer".

Bernhard Bartsch, especialista do instituto Merics de pesquisas sobre a China, sediado em Berlim, não prevê que vá ocorrer uma guerra em Taiwan nos próximos anos, contanto que todas as partes consigam evitar choques involuntários ou uma escalada, no caso de conflitos menores. Contudo, "se de fato se chegar a uma guerra, estariam em confronto as maiores potências do mundo, os EUA e a China, e isso numa região que é ainda muito mais importante para a economia mundial do que o Leste Europeu".

Diversos setores da economia alemã seriam afetados. A China tem monopólio de mercado no campo dos metais de terras raras, sendo principal fornecedora 19 das 30 matérias-primas classificadas pela União Europeia como "críticas". Elas são necessárias para a fabricação de smartphones, lâmpadas de LED, motores elétricos, células fotovoltaicas e chips de computador. Portanto a virada energética da Alemanha depende decisivamente de importações chinesas.

Restrições à "rival sistêmica"

Apesar dos riscos geopolíticos e das violações de direitos humanos, Berlim segue ampliando suas relações comerciais com a China. O Partido Verde alemão – a que são filiados os ministros do Exterior, Annalena Baerbock, e da Economia, Robert Habeck – exige a redução dessas dependências, para que o país não esteja exposto a chantagens como a atualmente praticada pela Rússia.

Mas a advertência em relação à China não vem só dos políticos: recentemente o Serviço Federal de Informações da Alemanha (BND) alertou que o país europeu se submeteu a uma "dolorosa dependência" de uma potência que "de repente não parece mais ter boas intenções".

Após visitar Taiwan no fim de outubro, Michael Brand, presidente da comissão do Parlamento alemão para os direitos humanos e assistência humanitária, afirmou que a China tem "uma pretensão autoritária" que promove "de forma global e obstinada". "Devemos nos libertar passo a passo da dependência autoeleita, se não quisermos perder gradualmente nossa liberdade", disse.

Os Estados Unidos já estão caminhando nessa direção, tendo endurecido drasticamente as restrições à exportação de chips de computadores para a China. No futuro, a multinacional Appel passará a produzir mais na Índia e no Vietnã.

O governo alemão também anunciou para 2023 uma nova estratégia para a China, tratando Pequim de forma muito mais crítica do que nos últimos anos. A iniciativa é liderada pelo Ministério do Exterior, cuja chefe, a verde Baerbock, classifica a potência asiática como "rival sistêmica" e denuncia abertamente seus atos contra os direitos humanos.

Entretanto, enquanto as conexões econômicas sino-alemãs prosperam, o governo de Xi Jinping se mostra pouco impressionado com os anúncios, por parte de Berlim, de uma política mais crítica em relação à China.

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