Schröder adverte EUA contra guerra
28 de janeiro de 2003![](https://static.dw.com/image/765297_800.webp)
Os inspetores de armas da ONU não constataram uma violação, porque não encontraram provas de existência ou produção de armas de destruição em massa, disse o chanceler federal alemão, em conversa com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Berlim, na noite de terça-feira (27). Por isso Schröder disse esperar que os Estados Unidos não façam pressão sobre seus aliados na questão do Iraque. "Eu não sou sensível a pressão", avisou o político social-democrata.
Durante a campanha eleitoral de 2002, Schröder anunciou um categórico não a uma guerra no Iraque, gerando a pior crise entre Alemanha e EUA após a Segunda Guerra Mundial.
Depois do relatório do chefe da Comissão de Inspeção de Armas da ONU, Hans Blix, Schröder insistiu que cabe às Nações Unidas a iniciativa de solucionar o conflito com o Iraque por meios pacíficos. Sobre a ameaça de intervenção militar de Washington no país, mesmo sem aval das Nações Unidas, o dirigente alemão insistiu que "ninguém tem o direito de agir sem a legitimação do Conselho de Segurança".
Sintonia entre Lula e Schröder
Schröder se manifestou por ocasião da visita do presidente Lula e falou de "uma grande sintonia" entre ele e o seu hóspede brasileiro na avaliação do conflito do Iraque. Ambos acham que os inspetores não encontraram prova de grave violação da resolução 1441, com a qual a ONU obrigou o Iraque a eliminar seu arsenal de armas de destruição em massa e instalações bélicas.
Washington acusa o regime de Saddam Hussein de possuir armas biológicas e químicas, bem como um programa nuclear visando a bomba atômica. O presidente George W. Bush ameaça uma intervenção militar para desarmar o país e destituir o seu presidente Saddam Hussein. Schröder repete com freqüência que, sob a sua liderança, a Alemanha não participará de uma guerra no Iraque.
Contras confirmados
A falta de provas contundentes contra o regime iraquiano e o pedido de mais tempo para o trabalho dos inspetores, feito por Blix e o presidente da Comissão Internacional de Energia Atômica, Mohammed El Baradei, confirmaram a posição pacifista alemã. Horas antes de Blix e Baradei fazerem seus relatos ao Conselho de Segurança em Nova York, os ministros das Relações Exteriores da União Européia haviam aprovado uma declaração conjunta exigindo mais tempo para a equipe de Blix no Iraque.
O ponto de partida para a posição comum européia foi o consenso alcançado pouco antes entre quatro países-membros que integram o Conselho de Segurança ONU – Alemanha, França, Grã-Bretanha e Espanha, por iniciativa franco-alemã.
A China, que é membro permanente do Conselho e tem direito a veto, também defendeu agora o ponto de vista de que os inspetores devem decidir sobre a duração do seu trabalho no Iraque. A Grã-Bretanha, único aliado incondicional dos EUA, repetiu a acusação de Washington, de "grave violação" da resolução da ONU sobre desarmamento, nas palavras do chanceler britânico Jack Straw. Washington e Londres haviam ameaçado o Iraque com um ataque militar, caso Bagdá não cumprisse a resolução 1441.
Oposição tende para guerra
Enquanto os inspetores de armas da ONU prosseguiam o seu trabalho no Iraque, um dia após a entrega no relatório na ONU, a presidente e líder do maior partido de oposição da Alemanha, a União Democrata-Cristã (CDU), Angela Merkel, confirmava suas acusações ao gabinete de Schröder de empreender uma política isolada na UE: "A via especial alemã do chanceler é um erro, que prejudica os interesses alemães. A lição do pós-guerra é de que a paz e a liberdade só são possíveis com alianças", disse ela.
Na opinião do vice de Merkel, Wolfgang Schäuble, um golpe militar contra o Iraque "está provavelmente justificado na resolução das Nações Unidas". Mesmo assim ele acha que os inspetores da ONU devem ter mais quatro semanas para o seu trabalho no Iraque. Assim como a CDU e a União Social-Cristã (CSU), o Partido Liberal também exigiu que o governo alemão discuta a questão do Iraque, sem posição unilateral, no Conselho de Segurança.
O Partido Verde, governista, enquanto isso, mostrou grande alívio com o pedido de mais tempo do chefe da Comissão de Inspeções da ONU. O governo alemão foi o primeiro a exigir um prolongamento das inspeções no Iraque e conseguiu apoio unânime dos 15 países membros da UE, na terça-feira (27), horas antes de Blix e El Baradei apresentarem seus respectivos relatórios no Conselho de Segurança da ONU.