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Schröder e a União Européia: um balanço

Bernd Riegert (lk)2 de agosto de 2005

O atual chanceler federal da Alemanha nunca foi um europeu de coração. Sua atuação no palco de Bruxelas foi marcada pelo pragmatismo e às vezes pela falta de tato. Que vestígios ele vai deixar na política européia?

Schröder em Bruxelas: não apenas sucessosFoto: AP

Ao receber a imprensa européia – provavelmente pela última vez – para um papo informal ao pé da lareira, durante a conferência de cúpula de Bruxelas em meados de junho, o chanceler federal alemão deixou transparecer uma ponta de melancolia. Nos anos em que esteve no governo, ele se tornou um europeu mais convicto, afirmou Gerhard Schröder aos surpresos correspondentes, que sempre atribuíram ao político social-democrático uma certa frieza na maneira de ser.

Benquisto em Bruxelas: Helmut KohlFoto: AP

Schröder sempre fez questão de se diferenciar de seu antecessor, Helmut Kohl, para o qual a Europa era uma questão de guerra e paz. Além disso, estava sempre de olho na possibilidade de impor os interesses da Alemanha no palco europeu sem gastar muito dinheiro. Helmut Kohl era apreciado em Bruxelas por ter coração mole e um talão de cheques sempre ao alcance da mão. Schröder nunca demonstrou tal generosidade. Chegou sete anos atrás com ar de quem representava um país que já tinha alcançado prestígio no mundo e queria, por isso, aumentar sua influência no panorama internacional.

Motor da UE

Amizade arrefeceu com o tempo: Blair (esq.) e SchröderFoto: dpa

Ligado no início politicamente ao primeiro-ministro britânico, Tony Blair, Schröder foi com o tempo se aproximando cada vez mais do presidente francês, Jacques Chirac, e de suas posições políticas no contexto europeu. A dupla Schröder-Chirac exercia conjuntamente pressão sobre Bruxelas, impondo muitas de suas idéias, seja na questão da ampliação do bloco para o Leste Europeu, seja na abertura de uma perspectiva para a entrada da Turquia no bloco.

Houve até uma conferênia de cúpula em que Chirac foi representado por Schröder. Na época, diplomatas europeus até brincavam que provavelmente logo se veria os dois passeando de mãos dadas pela Grand Place da capital belga.

Motor da UE: amizade teuto-francesaFoto: AP

Em 2002, os dois bolaram sozinhos um consenso sobre os subsídios agrários que já na época desagradou a Blair. Agora o primeiro-ministro britânico e atual presidente do Conselho Europeu se vingou: a mais recente conferência de cúpula do bloco fracassou justamente por causa dos subsídios agrários. Enfraquecidos por questões de política interna, Schröder-Chirac já não conseguiram mais se impor.

Falta de "diplomacia"

Em Bruxelas, Schröder sempre pôde contar com Günter Verheugen, social-democrata que coordenou a ampliação da UE para o Leste Europeu e é o atual comissário da Indústria do bloco. Graças a sua lealdade, Verheugen ganhou entre seus colegas da Comissão Européia a fama de ser o poodle de Schröder. Mas os demais comissários também costumam afinar suas ações em Bruxelas com os respectivos governos nacionais.

Fiel escudeiro: Günter VerheugenFoto: AP

O que Schröder não conseguiu, contudo, foi fazer de Verheugen um "supercomissário" com várias pastas, por ocasião da reestruturação do órgão executivo do bloco, no segundo semestre de 2004. Observadores afirmam que o chefe de governo alemão não foi suficientemente diplomático ao manifestar esse intento.

Aliás, a falta de tato tem sido vista por muitos diplomatas como motivo da perda de influência da Alemanha em Bruxelas de uns anos para cá. Os alemães já não ocupam mais tantas posições de importância. O governo alemão muitas vezes teria tentado tarde demais mudar os rumos dos acontecimentos com iniciativas espontâneas. Ao que tudo indica, Schröder apostou demais no peso da Alemanha. Resultado: quando se sentem ameaçados de ser passados para trás, os países-membros de menor porte se referem ao "trator alemão".

Resultados ambivalentes

Aliança nem sempre bem-sucedida: Schröder (dir.) e VerhofstadtFoto: AP

Não existe unanimidade em Bruxelas, quando se trata de avaliar o papel do chanceler federal alemão no conflito gerado pela política norte-americana para o Iraque. Opositores da guerra, tais como o primeiro-ministro belga, Guy Verhofstadt, elogiam Schröder por ele ter enfrentado Washington, proporcionando à Europa, a longo prazo, uma maior autoconfiança.

Já os países-membros mais fiéis aos EUA acusam Schröder de ter levado o bloco à beira do racha, com sua oposição ferrenha a uma intervenção militar no Iraque. Até hoje persiste no bloco de 25 a divisão entre aliados e adversários de Bush.

A coalizão social-democrata e verde deixará em Bruxelas pelo menos uma lembrança permanente: a atenuação do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Como a Alemanha não tem conseguido observar os rigorosos critérios relativos ao endividamento interno impostos pelo pacto, as condições foram amenizadas, graças à intervenção do ministro alemão das Finanças, Hans Eichel, e de seu colega de pasta francês.

O longo processo de busca de um novo presidente para a Comissão Européia, no ano passado, trouxe para Schröder uma derrota sensível. Seu apoio à candidatura de Guy Verhofstadt ao cargo – talvez em agradecimento pela oposição do premiê belga à guerra no Iraque – foi vão.

A eleição do liberal fracassou em função da resistência da maioria dos chefes de Estado e de governo conservadores. Por trás da manobra, encontrava-se Angela Merkel, presidente da União Democrata Cristã e atual concorrente de Schröder na corrida pelo cargo de chanceler federal, que já mostrou então até onde vai sua influência no palco europeu.