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Eleição na Venezuela tem seções vazias e denúncias de fraude

20 de maio de 2018

Após boicote da oposição, políticos antichavistas dizem que participação nas urnas foi baixíssima e acusam governo Maduro de prometer recompensas a eleitores em troca de votos. EUA reiteram que não reconhecerão votação.

Nicolás Maduro
Maduro, que espera garantir mais um mandato de seis anos, vota em CaracasFoto: Reuters/C. Garcia Rawlins

Os venezuelanos foram convocados às urnas neste domingo (20/05) em eleições presidenciais controversas, que devem garantir um novo mandato de seis anos a Nicolás Maduro. O pleito foi boicotado pela maioria da oposição e vem sendo contestado pela comunidade internacional.

Segundo políticos opositores, a participação nas urnas era de apenas 12% até meio-dia (horário local). A votação teve início às 6h e terminou às 18h. A imprensa, por sua vez, relata colégios eleitorais vazios em partes de Caracas, mas diz que os eleitores foram às urnas em alguns bairros.

"Os 12% de participação mostram que não há ninguém nos centros [de votação], que não há qualquer tipo de participação", afirmou o deputado Jose Manuel Olivares, porta-voz da opositora Frente Ampla Venezuela Livre, idealizada pela coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Segundo o deputado, do partido Primeiro Justiça (PJ), o cálculo é feito a partir de um sistema de dados da Frente Ampla em nível nacional. O grupo de oposição também tem pessoas em algumas seções e um registro da votação.

"É menos da metade da participação esperada em processos anteriores. Isso é um relato importante para que todos estejamos preparados para o que estão montando para esta noite. Para o show que pretendem fazer", acrescentou Olivares.

O ministro venezuelano de Comunicação e Informação, Jorge Rodríguez, por sua vez, afirmou que cerca de 2,5 milhões de pessoas já haviam votado até as 10h (horário local). Em todo o país, há pouco mais de 20,5 milhões de venezuelanos habilitados a votar.

A MUD, para quem o pleito não é livre nem independente, decidiu que seus partidos não participariam das eleições e pediu à população que as boicote. Diante disso, analistas adiantaram que o índice de abstenção pode ser maior que o percentual de votos obtidos pelo vencedor.

A coalizão opositora já anunciou que não reconhecerá os resultados das eleições – que devem ser conhecidos entre este domingo e segunda-feira –, um movimento apoiado por vários países, entre eles os Estados Unidos.

A imprensa relata, contudo, que muitos eleitores anti-Maduro foram às urnas para votar no opositor Henri Falcón. Ele dividiu a MUD ao romper o boicote, confiante de que o enorme descontentamento com a falta de comida e remédios no país poderia favorecer um voto de protesto a seu favor.

"Eu vim votar porque quero que este senhor [Maduro] vá embora. Não podemos continuar assim", afirmou uma eleitora de 65 anos à agência de notícias DPA. "Voto porque temos que salvar o país. Os venezuelanos estão indo embora", disse um outro venezuelano, de 45 anos.

Neste domingo, Maduro pediu ao comando de sua campanha e aos militantes chavistas que facilitem o transporte de eleitores para que eles possam comparecer às urnas. O presidente disse estar acompanhando os índices de participação, mas não divulgou números.

"Vamos facilitar tudo o que pudermos facilitar para que tenhamos uma participação verdadeiramente histórica, necessária para consolidar um dia de paz", afirmou o líder, em declaração no Palácio de Miraflores.

Colégio eleitoral na cidade de Barquisimeto, no norte da VenezuelaFoto: Reuters/C. Jasso

Voto por recompensa

Políticos da oposição também denunciaram a instalação dos chamados "pontos vermelhos", mecanismo usado pelo governo para controlar os votos da população. Os candidatos Henri Falcón e Javier Bertucci disseram ter recebido cerca de 350 denúncias de irregularidades ligadas a eles.

Os pontos vermelhos são tendas instaladas pelo governo durante as eleições muito perto das seções eleitorais. Simpatizantes dão orientações aos eleitores sobre como votar nos candidatos do chavismo.

De acordo com Bertucci, o governo tinha firmado um acordo para montar esses pontos vermelhos a 200 metros dos colégios eleitorais, mas muitos deles foram registrados a distâncias menores ou mesmo dentro dos locais de votação.

Segundo os políticos, os venezuelanos estão sendo coagidos a ir às urnas para votar em Maduro em troca de recompensas. Críticos alegam ainda que o governo estaria assustando a população fazendo-a acreditar que quem não votar poderá ficar sem as rações de comida.

A imprensa relatou que muitas dessas tendas acumularam filas de eleitores neste domingo. Ali, eles apresentavam aos voluntários seu chamado "cartão da pátria" – por meio do qual recebem os benefícios do governo, como alimentação –, na esperança de receber um bônus em dinheiro por ter votado.

A presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, desqualificou as denúncias da oposição neste domingo, afirmando que não são "nada" em comparação com outros processos de votação.

"Recebemos denúncias de natureza diferente, nada que se compare com outros processos eleitorais, mas a nossa avaliação demonstra que tudo decorreu com tranquilidade", disse Lucena, citada pela agência Efe.

A chefe do CNE afirmou, contudo, que as denúncias, feitas em sua maioria contra as organizações que apoiam a reeleição de Maduro, foram atendidas, analisadas e que algumas foram reencaminhadas para serem averiguadas.

Os candidatos à Presidência: Maduro, Henri Falcón, Javier Bertucci e Reinaldo QuijadaFoto: Getty Images/AFP/B. Cremel

EUA contestam votação

Vários países – incluindo União Europeia, EUA, Canadá e inúmeros Estados vizinhos, entre eles o Brasil – haviam pedido a suspensão das eleições por considerarem que não há condições para a realização de uma votação livre na Venezuela.

Os presidentes da Argentina, Mauricio Macri, e da Colômbia, Juan Manuel Santos, declararam que não reconhecerão o vencedor. O mesmo foi reafirmado neste domingo pelo governo americano.

O vice-secretário de Estado, John Sullivan, disse inclusive que os EUA estão considerando impor sanções ao petróleo da Venezuela. Segundo ele, uma resposta às eleições deste domingo será discutida na reunião do G20 em Buenos Aires na segunda-feira.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, por sua vez, classificou a votação de "fraudulenta" e disse que ela "não mudará nada" no cenário do país latino-americano.

"Estou observando hoje [o que acontece na] Venezuela. As fraudulentas eleições não mudam nada. É preciso que o povo venezuelano comande este país... Uma nação com tanto a oferecer ao mundo", escreveu ele no Twitter.

O pleito deste domingo foi comentado inclusive pelo papa Francisco, que desejou paz e união aos venezuelanos. "Quero dedicar uma consideração especial à minha querida Venezuela", disse o pontífice em prece na praça São Pedro, no Vaticano.

"Peço ao espírito santo que dê a todos os venezuelanos, aos líderes e aos cidadãos sabedoria para encontrar um caminho para a paz e a união", acrescentou Francisco.

EK/ap/dpa/efe/lusa/rtr

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