Em entrevista, biólogo alemão Norbert Becker, especializado em mosquitos, defende eficácia da eliminação dos focos do vetor do vírus zika. Envolvimento da população é essencial, destaca.
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O vírus zika ocupa manchetes mundo afora. A notícia – ainda controvertida – de que ele pode estar associado à microcefalia é motivo de apreensão entre mães e gestantes, e ocupa as autoridades sanitárias da América do Sul.
Na falta de uma vacina, todos os esforços estão concentrados na luta contra o provável vetor do vírus, o mosquito Aedes aegypti. No Brasil – país atualmente mais afetado pelo zika –, a partir de 13 de fevereiro, 220 mil soldados irão de casa em casa, educando a população sobre a necessidade de eliminar focos potenciais do inseto.
Em entrevista à DW, o biólogo alemão especializado em mosquitos Norbert Becker presta mais esclarecimentos sobre o vetor do zika e da dengue e sobre como combatê-lo. Desde 1981, Becker é diretor científico da sociedade Ação Comunal para Combate à Praga de Mosquitos (KABS), sediada em Speyer, no estado alemão da Renânia-Palatinado.
DW: Como combater mosquitos perigosos?
Norbert Becker: O pernilongo-rajado africano (Aedes aegypti) e o asiático (Aedes albopictus), por exemplo, são especialmente perigosos. Essas espécies são vetores de vírus, provavelmente também do zika. Assim como o mosquito caseiro europeu, os pernilongos-rajados se reproduzem em recipientes coletores de chuva e concentrações artificiais de água. As fêmeas põem seus ovos na borda do recipiente, acima da superfície dá água, e quando o nível do líquido sobe, as larvas eclodem.
Por isso, é especialmente importante evitar concentrações desnecessárias de água nas áreas residenciais. Podem ser vasos de plantas com água acumulada, vasos de flores não utilizados, ou baldes e regadores em que ficou um pouco de água da chuva.
Como o desenvolvimento do ovo até o mosquito adulto transcorre em velocidade vertiginosa, é preciso eliminar esses focos de postura de ovos. Podem-se cobrir os recipientes, evitando que as fêmeas sequer cheguem à superfície da água para pôr os ovos. E, claro, se pode empregar a substância química BTI em forma de tabletes, que extermina as larvas.
O que quer dizer BTI?
BTI é a abreviatura de Bacillus thuringiensis israelensis. Essa bactéria foi descoberta numa lagoa no deserto de Negev. Ela produz proteínas que matam as larvas de mosquito que as ingerirem.
Quanto tempo duram as medidas de combate com BTI?
Na ecologia, existem duas estratégias de preservação de espécies. A vaca preserva a sua tendo mais ou menos um bezerro por ano e por hectare, que fica bem protegido junto à mãe. ["Estratégia K".]
As fêmeas dos mosquitos, por outro lado, são "mães desnaturadas". Elas inundam a natureza com sua prole. Se põem 200 ovos e 99% das larvas são exterminadas, ainda sobram dois mosquitos, que vão pôr outros 200 ovos.
Eles empregam a assim chamada "estratégia R", garantindo a sobrevivência de sua espécie através de produção em massa. Por isso, o combate não leva a uma redução significativa do número de mosquitos: a cada ano eles têm que ser novamente combatidos, pois conseguem compensar relativamente rápido a perda de descendência.
O mais importante no combate dos vírus zika, da dengue ou da chikungunya, porém, é o saneamento ambiental. Eliminar os focos evitáveis é mais eficaz do que os procedimentos químicos. Para tal, a população precisa ser informada sobre onde os mosquitos podem se desenvolver e o que se pode fazer para evitá-lo. Se todos participarem, os mosquitos não têm chance.
Os 10 vírus mais perigosos do mundo
Embora a covid-19 seja muito contagiosa, sua taxa de mortalidade é relativamente baixa em comparação com esses dez vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Vírus de Marburg
O vírus mais perigoso do mundo é o Marburg. Ele leva o nome de uma pequena cidade alemã às margens do rio Lahn, onde o vírus foi documentado pela primeira vez. O Marburg provoca febre hemorrágica e, assim como o ebola, causa convulsões e sangramentos das mucosas, da pele e dos órgãos. A taxa de mortalidade do vírus chega a 88%.
Foto: Bernhard-Nocht-Institut
Ebola
O vírus do ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo por uma equipe de pesquisadores belgas. A doença foi batizada com o nome do rio que passa pelo vilarejo onde ela foi identificada pela primeira vez. Ele pode ocorrer em cinco cepas distintas, denominadas de acordo com países e regiões na África: Zaire, Sudão, Bundibugyo, Reston, Floresta de Tai. A cepa Zaire é a mais fatal.
Foto: Reuters
Hantavírus
O hantavírus descreve uma ampla variedade de vírus. Assim como o ebola, ele também leva o nome de um rio – neste caso, onde soldados americanos foram os primeiros a se infectarem com a doença durante a Guerra da Coreia, em 1950. Os sinais são doenças pulmonares, febre e insuficiência renal.
Foto: REUTERS
Gripe aviária
Com uma taxa de mortalidade de 70%, o agente causador da gripe aviária espalhou medo durante meses. Mas o risco real de alguém se infectar com o vírus H5NI é muito baixo. Os seres humanos podem ser contaminados somente através do contato muito próximo com as aves. Por esse motivo, a maioria dos casos ocorre na Ásia, onde pessoas e galinhas às vezes vivem juntas em espaço pequeno.
Foto: AP
Febre de Lassa
Uma enfermeira na Nigéria foi a primeira pessoa a se infectar com o vírus Lassa. A doença é transmitida aos humanos através do contato com excrementos de roedores. A febre de Lassa ocorre de forma endêmica na África Ocidental, como é o caso, atualmente, mais uma vez na Nigéria. Pesquisadores acreditam que 15% dos roedores dali sejam portadores do vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Junin
O vírus Junin é associado à febre hemorrágica argentina. As pessoas infectadas apresentam inflamações nos tecidos, hemorragia e sépsis, uma inflamação geral do organismo. O problema é que os sintomas parecem ser tão comuns que a doença raramente é detectada ou identificada à primeira vista.
Crimeia-Congo
O vírus da febre hemorrágica Crimeia-Congo é transmitido por carrapatos. Ele é semelhante ao ebola e ao Marburg na forma como se desenvolve. Durante os primeiros dias de infecção, os doentes apresentam sangramentos na face, na boca e na faringe.
Foto: picture-alliance/dpa
Machupo
O vírus Machupo está associado à febre hemorrágica boliviana. A infecção causa febre alta, acompanhada de fortes sangramentos. Ele desenvolve-se de maneira semelhante ao vírus Junin. O Machupo pode ser transmitido de humano para humano, e é encontrado com frequência em roedores.
Foto: picture-alliance/dpa/Marks
Doença da floresta de Kyasanur
Cientistas descobriram o vírus da floresta de Kyasanur na costa sudoeste da Índia em 1955. Ele é transmitido por carrapatos, mas supõe-se que ratos, aves e suínos também possam ser hospedeiros. As pessoas infectadas apresentam febre alta, fortes dores de cabeça e musculares, que podem causar hemorragias.
Dengue
A dengue é uma ameaça constante. Transmitida pelo mosquito aedes aegypti, a doença afeta entre 50 e 100 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. O vírus representa um problema para os dois bilhões de habitantes que vivem nas áreas ameaçadas, como Tailândia, Índia e Brasil.