Seca na Espanha ameaça tornar azeite de oliva item de luxo
Ralph Schulze
8 de maio de 2023
Oliveiras sofrem com falta de água e altas temperaturas, e colheita deste ano deverá ser pior que a anterior, que já foi ruim. Essencial na dieta mediterrânea, azeite custa hoje na Europa 50% mais que há um ano.
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"Senhor, mandai-nos chuva!", clamavam as vozes de uma recente procissão liderada por Sebastián Chico, bispo da cidade de Jaén, capital da província de mesmo nome, no sul da Espanha. Apesar do reforço de muitos olivicultores da região que acabaram se juntando à caminhada religiosa, o pedido lançado aos céus ainda não foi atendido.
No próprio dia da procissão, o sol fustigava os olivais. Há meses não chove na província de Jaén. Se o tão esperado milagre da água não acontecer logo, há o risco de grandes quebras de safra pelo segundo ano consecutivo. Uma catástrofe para os agricultores que é sentida também pelos consumidores: os preços do azeite, já bastante elevados, devem subir ainda mais.
"Sem água, não tem azeitona. E sem azeitona, a província sofre", preconiza o bispo Chico. "Nossa economia depende da produção de azeitonas." Com cerca de 630 mil habitantes e 66 milhões de oliveiras, Jaén é considerada a mais importante área olivícola do mundo. Aqui é produzido o azeite destinado a grande parte da Europa.
Água para pessoas e turistas, mas não para plantas
Os meteorologistas, no entanto, não trazem boas notícias para os agricultores. A escassez de água na Espanha, que ameaça não apenas os olivicultores de Jaén, mas também grande parte da agricultura espanhola, ainda deve continuar por muito tempo. Segundo a agência meteorológica estatal Aemet, não há previsão de chuvas fortes até o outono europeu, que começa em setembro. E os pesquisadores do clima alertam: a longo prazo, a Espanha deve se preparar para temperaturas mais altas e ainda menos precipitações.
O drama vivido pelos moradores de Jaén se reflete nas barragens no interior do país. Agora, em plena primavera, os reservatórios estão apenas 25% cheios. Isso é suficiente para abastecer a população e os turistas com água potável, mas não os agricultores. Embora precisem desesperadamente da água para salvar seus campos de oliveiras, eles recebem apenas um quarto da quantidade normal.
Oliveiras em risco
"A situação é catastrófica", diz Juan Luis Ávila, olivicultor de Jaén. "Este ano não só a colheita está em perigo, mas o futuro das plantações de oliveiras como um todo."
Nas últimas semanas, várias ondas de calor, com temperaturas de quase 40 graus, literalmente queimaram as flores brancas de muitas oliveiras. Grande parte da safra de azeitona, normalmente colhida de novembro a fevereiro, já foi perdida, um panorama que nunca foi tão ruim.
"A oliveira é capaz, sim, de suportar temperaturas muito altas, mas apenas se receber água suficiente", explica Ávila, que também é porta-voz da indústria olivícola na associação de agricultores COAG. Quando há falta de água extrema, a árvore não tem forças para formar frutos saudáveis.
A última temporada já havia sido ruim. Escassez de chuvas e fortes ondas de calor também ocorreram em 2022, o ano mais quente já registrado na Espanha. "Colhi 70% menos do que nos anos anteriores", conta Ávila, prevendo que a próxima temporada irá trazer ainda menos produção.
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Outros países também sofrem com a seca
O pessimismo de Ávila é compartilhado pela maioria dos olivicultores espanhóis. Com quase 1,5 milhão de toneladas de azeite oriundos da safra 2021/22, a Espanha viu sua produção cair para apenas 680 mil toneladas em 2022/23 – menos da metade. Se as previsões sombrias para 2023/24 se concretizarem, a próxima safra poderá registrar grandes perdas novamente.
Mas não é apenas na Espanha que esta seca do século vem causando danos gigantescos às colheitas. A situação não parece estar muito melhor para os olivicultores em Portugal ou na Itália, o que coloca pressão adicional sobre os preços do azeite no mercado europeu.
Segundo estatísticas da União Europeia, quase 2,3 milhões de toneladas de azeite foram produzidas na Europa em 2021/22, caindo para pouco menos de 1,4 milhão de toneladas em 2022/23. As quebras de safra no setor oleícola europeu só não foram maiores devido à Grécia, onde até agora houve menos falta de água. A Grécia foi o único país produtor europeu que conseguiu aumentar sua produção de azeite na última safra.
Falta de água eleva preços de alimentos
A seca nas plantações de azeitona tem feito com que os preços do óleo subam para níveis recordes: de acordo com uma pesquisa da UE, o azeite na Europa custa hoje em média 50% a mais do que doze meses atrás. O que significa que o azeite, parte indispensável da famosa dieta mediterrânea, corre risco de se tornar um item de luxo.
"O choque do custo do azeite é uma evidência de que a seca está causando o aumento dos preços dos alimentos", escreve o El País, o maior jornal da Espanha. De acordo com os últimos dados disponíveis (de março de 2023), os preços dos alimentos no país aumentaram 16,5% em doze meses – em toda a UE, o aumento foi de até 19,2%. A crise climática poderia desencadear uma crise alimentar?
Na tentativa de contornar a crise, alguns fabricantes espanhóis têm usado a criatividade. Uma das soluções encontradas foi misturar o precioso azeite de oliva com óleo de girassol, que é muito mais barato, e vender o novo "produto" a preços mais baixos. O fato de se tratar de uma mistura, camuflada por um rótulo de azeitonas verdes e brilhantes, só fica claro para quem se dá ao trabalho de ler as letras miúdas.
Doze alimentos caros e raros
Caviar e trufas pertencem certamente à cozinha dos ricos, mas quem tiver dinheiro de sobra também poderá pagar milhares de reais por um melão. Veja uma seleção de alimentos para quem não economiza na hora de comer.
Foto: Imago/Westend61
Caviar de esturjão albino
Chamado de caviar Almas (diamante, em russo), a cor dessa ova de peixe é mais clara, e o leve sabor de nozes proporciona uma combinação única de paladar. Encontrar um beluga branco é um golpe de sorte para um pescador, mas hoje eles também são criados numa fazenda próxima de Salzburg. O preço do produto varia de 55 mil a 235 mil reais. Anualmente, só são produzidos oito quilos em todo o mundo.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Gabbert
Chá de Panda
O empresário chinês An Yanshi produz o chá mais caro do mundo, usando fezes de panda para o crescimento de um tipo especial de folhas. Supostamente, o excremento do urso chinês é mais nutritivo do que qualquer outro fertilizante, e a bebida ajuda a emagrecer e protege até de radiações nocivas. Uma xícara pode custar mais de 350 reais, e um quilo do produto sai pela bagatela de 130 mil reais.
Foto: picture-alliance/Imaginechina/Gu Dao Cd
Trufas brancas
Encontradas na região do Piemonte, na Itália, um quilo de trufas brancas pode custar até 32 mil reais, no Japão, até 55 mil reais. Elas são colhidas em novembro e dezembro. Seu preço pode variar bastante, dependendo da qualidade e do tamanho. Para encontrá-las, são utilizados cães e porcos treinados. Bastante conhecida por sua produção de trufas brancas é a cidade italiana de Alba.
Foto: picture-alliance/dpa/XAMAX
Atum de barbatana azul
Apesar de estar ameaçado de extinção, o atum de barbatana azul é muito apreciado como sushi no Japão. Normalmente, esse peixe chega a três metros de comprimento e, aos 15 anos, pesa cerca de 300 quilos. Sua carne vermelha escura tem baixo teor de gordura, é rica em proteínas, iodo, ômega 3 e vitamina B12. O quilo desse peixe gira hoje em torno de 22,5 mil reais.
Foto: picture-alliance/dpa
Melão Yubari King
Inventado a partir do cruzamento de dois tipos de melões, ele é cultivado na cidade de Yubari, na ilha japonesa de Hokkaido, por algumas centenas de agricultores. Eles massageiam as frutas e seguem um rigoroso método de irrigação. Este melão é bastante doce e suculento e custa em média por volta de 350 reais, mas em leilões, unidades seletas do produto podem chegar a mais de 30 mil reais.
Foto: picture-alliance/Kyodo
Açafrão
Produzido principalmente no Irã, Afeganistão, na região de Caxemira e do Mediterrâneo, o açafrão é um dos temperos mais caros do mundo. Ele é extraído dos pistilos das flores de "Crocus sativus", que florescem somente uma vez por ano. Para se extrair um quilo do produto, é necessário colher cerca de 150 mil flores. O preço da especiaria, usada em risotos e paellas, chega a 14 mil reais.
Foto: MIZAN
Cogumelos matsutake
Os cogumelos matsutake são apreciados há pelo menos mil anos na culinária japonesa. Mas eles são muito difíceis de encontrar. No Japão, a produção anual não passa de mil toneladas. Eles podem ser achados também na China, Coreia, EUA, Finlândia e Suécia. Um quilo do matsutake original custa por volta de 7 mil reais, já os importados são bem mais baratos, custando o quilo somente 330 reais.
Foto: imago/Kyodo News
Queijo Pule
Feito do leite de uma espécie de burros da Sérvia, este é o queijo mais caro do mundo. Por volta de 25 litros de leite são necessários para fazer um quilo de queijo Pule. O problema é que uma jumenta não produz mais que 0,2l de leite por dia. O processo de fabricação também é complexo. Isso explica o preço de 3,5 mil reais por um quilo do produto. O queijo Pule tem baixíssimo teor de gordura.
Foto: picture-alliance/PIXSELL
Café de civeta
O café de civeta ou Kopi Luwak é extraído das fezes de um animal conhecido por civeta, uma espécie de gato-almiscarado, encontrado principalmente na Indonésia. Depois de passarem por um difícil processo de digestão, os grãos de café são expelidos nos excrementos do civeta. Eles são então limpos e vendidos por cerca de 3 mil reais cada quilo. O café tem um gosto suave e levemente adocicado.
Foto: picture-alliance/Arco Images GmbH/P. Wegner
Bife de Kobe
Essa raça de gado deve seu nome à cidade japonesa de Kobe, onde foram estabelecidos os padrões para a produção da carne de luxo. Além de dieta exclusiva e massagens, o animal só é abatido aos cinco anos de idade. Anualmente, somente cerca de 4 mil cabeças cumprem os requisitos. Rico em ômega 3 e com uma mistura ideal de carne e gordura, o quilo do produto sai por volta de 2 mil reais.
Foto: Imago/F. Abraham
Batata La Bonnote
Custando a bagatela de 2 mil reais o quilo, esta é a batata mais cara do mundo. Ela é cultivada em Noirmoutier, uma ilha na costa atlântica da França que produz a cada ano somente 100 toneladas do produto. Adubadas com algas marinhas, elas são colhidas a mão e possuem um sabor único.
Foto: Imago/imagebroker
Óleo de Argan
Também chamado de "ouro fluído do Marrocos", um litro de óleo de Argan custa cerca de 400 reais. Ele é extraído da semente de uma árvore que cresce somente no Marrocos. A colheita da fruta semelhante a uma oliva é bastante trabalhosa: é preciso esperar que elas caiam das árvores para ser colhidas. Além de saboroso, o óleo é excelente para o tratamento de cabelos.