ONU critica países que ignoram alertas na pandemia
4 de dezembro de 2020
Em reunião da Assembleia Geral da ONU para discutir ações globais contra covid-19, António Guterres ressalta papel da Organização Mundial de Saúde e diz que ciência deve ser a base da reação mundial ao coronavírus.
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou fortes críticas aos países que insistem em rejeitar os fatos referentes à pandemia de covid-19 e optam por ignorar os alertas da Organização Mundial de Saúde (OMS).
O pronunciamento de Guterres nesta quinta-feira (03/12) deu início à reunião extraordinária da Assembleia Geral da ONU, onde representantes de grande parte dos 193 países-membros discutem ações globais contra o coronavírus, que já matou mais de 1,5 milhão de pessoas em todo o mundo.
“Desde o início, a OMS fornece informações factuais e orientações científicas que deveriam ter sido a base para uma reação global coordenada”, disse o secretário-geral. “Infelizmente, muitas dessas recomendações não foram seguidas. Em algumas situações, houve uma rejeição dos fatos e os conselhos foram ignorados. Quando os países seguem seu próprio direcionamento, o vírus vai em todas as direções.”
Guterres evitou mencionar diretamente os líderes que pouco fizeram para deter o avanço da doença em seus países, mas deu um recado claro para as nações que, notoriamente, decidiram ignorar os alertas da OMS, como como os Estados Unidos e o Brasil.
O presidente dos EUA, Donald Trump, acusou a OMS de ser uma “marionete” dos interesses da China. Ele chegou a suspender as contribuições financeiras americanas e anunciou planos de retirar seu país da entidade até julho de 2021. Entretanto, o democrata Joe Biden, que derrotou Trump nas eleições presidências e evitou um segundo mandato do republicano, já afirmou que vai cancelar a medida.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro adotou um posicionamento semelhante ao do americano e minimizou a doença desde o surgimento dos primeiros casos no país. Ele chegou a se referir à covid-19 como uma “gripezinha” e ignorou os alertas das autoridades de saúde ao não usar máscara de proteção em eventos públicos e promover aglomerações.
EUA e Brasil no topo da lista dos mais atingidos
Mesmo após ambos serem infectados pelo coronavírus e passarem por períodos de isolamento e de tratamento, Trump e Bolsonaro ainda insistem em ignorar os alertas da OMS, enquanto a doença continua avançando em seus países.
Em torno de uma centena de líderes internacionais enviaram pronunciamentos em vídeo para sessão extraordinária da ONU, entre estes, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron.
Merkel defendeu o fortalecimento da OMS, que, segundo afirmou, “deve ser colocada em posição ainda melhor para reagir às ameaças à saúde internacional”. Ela observou que a pandemia é “um teste extraordinário para a humanidade”, mas disse que a plataforma global para a distribuição de vacinas – apoiada pela OMS – é uma “luz no fim do túnel”.
RC/rtr/dpa
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.