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Segundo debate aumenta tensão na campanha presidencial

18 de agosto de 2018

Evento tem embates mais acalorados que primeiro encontro televisivo. Bolsonaro e Marina Silva protagonizam momento mais agressivo. Púlpito com nome de Lula é retirado pouco antes da transmissão, a pedido de candidatos.

Bolsonaro e Marina Silva durante debate na Rede TV
Bolsonaro e Marina Silva trocaram farpas sobre aborto, armas e religiãoFoto: Reuters/P. Whitaker

O segundo debate entre os candidatos à Presidência da República não foi o que se pode chamar de uma batalha digna de um país dividido e às vésperas da eleição mais pulverizada e incerta das últimas três décadas. Ainda assim, o encontro promovido na noite desta sexta-feira (17/08) pela Rede TV e a revista Istoé deu sinais de que a campanha presidencial parece estar entrando em uma nova fase, mais tensa e cada vez mais semelhante às acaloradas discussões que dominam as redes sociais e as ruas do país nos últimos anos.

O debate foi marcado por uma discussão agressiva entre a candidata da Rede, Marina Silva, e o líder das pesquisas, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) sobre temas como aborto, armas e religião.

Ao ser questionada pelo deputado sobre o que pensava da liberação do porte de armas, Marina Silva adotou um tom ríspido e duro, discordou da posição de Bolsonaro sobre segurança e aproveitou para acusá-lo de não se preocupar com as diferenças salariais entre homens e mulheres.

"No grito e na violência”

O deputado do PSL, por sua vez, afirmou que Marina é uma evangélica que defende aborto e drogas. Marina aproveitou sua tréplica para acusar Bolsonaro de querer resolver tudo "no grito e na violência”. E continuou: "Outro dia, você pegou a mãozinha de uma criança e ensinou a atirar. Você sabe o que a Bíblia diz sobre ensinar uma criança? A Bíblia diz que se deve ensinar à criança o caminho que deve andar. É esse ensinamento que você quer dar ao povo brasileiro?”, afirmou a candidata da Rede, aplaudida, primeiro, pelo candidato do PDT, Ciro Gomes, e, em seguida, por boa parte da plateia que estava no estúdio.  

No lado de fora, o senador Magno Malta (PR-ES) surgiu logo após o fim do embate, disposto a defender Bolsonaro. "Ela deu sorte que ele não pode responder, mas o Jair precisa dar uma resposta dura a essa mulher”, dizia ele aos repórteres. "Quem conhece a Bíblia não defende que criança seja adotada por casais do mesmo sexo, não é a favor de ideologia de gênero, é favor da família tradicional”, argumentava, exaltado.

Candidatos durante encontro na Rede TV: púlpito com nome de Lula foi retirado pouco antes do início do programaFoto: Getty Images/AFP/N. Almeida

"Quer saber o que está escrito na cueca?"

Ao final do debate, Bolsonaro também se excedeu ao ser perguntado por um repórter porque havia usado uma cola para fazer perguntas a Marina Silva (o candidato escreveu na mão as palavras "pesquisa”, "armas” e "Lula” com uma caneta azul antes de fazer sua pergunta à candidata da Rede). "Não escrevi nada, agora você quer saber o que está escrito na minha cueca também”, disse ao jornalista, de forma agressiva, enquanto forçava o caminho para sair do estúdio.

O clima beligerante, no entanto, não deu o tom de todo o debate. O único candidato a buscar ataques mais incisivos a seus adversários foi o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, do MDB. Com seu ar professoral, o candidato do governo tentou fazer com que Jair Bolsonaro mostrasse sua pouca familiaridade com temas econômicos. Perguntou ao candidato do PSL quais propostas ele tem para combater o desemprego e, diante das respostas evasivas do deputado federal pelo Rio de Janeiro, afirmou que não se cria emprego no grito.

Meirelles também acusou Bolsonaro de defender salários menores para mulheres e trocou farpas com o candidato do PSOL, Guilherme Boulos. "Eu criei empregos para quem quer trabalhar, não para quem gosta de invadir propriedade”, disse o ex-presidente do Banco Central.

Fator Lula

Coube a Meirelles também trazer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao debate. Quase totalmente ignorado no encontro realizado pela TV Bandeirantes, há pouco mais de uma semana, Lula entrou de vez na campanha. Primeiro ao ser lembrado por Henrique Meirelles, que afirmou ter sido o responsável pela criação de 10 milhões de empregos nos dois primeiros governos petistas.

O candidato governista citou o nome de Lula ao menos três vezes em tom positivo e não se referiu uma vez sequer ao seu colega de partido, Michel Temer.

Lula também foi o responsável pelo primeiro embate entre os candidatos. Apesar de o TSE não ter permitido que o candidato do PT à Presidência participasse do debate, a Rede TV decidiu que manteria o púlpito de Lula no estúdio.

Ao chegar à sede da emissora, Jair Bolsonaro, no entanto, não concordou e pediu a retirada do nome do petista do palco. "Nós pedimos para tirar, não faz sentido, ele é bandido e está preso”, afirmava o deputado federal Major Olímpio (PSL-SP), que integrava a comitiva de Bolsonaro.

A direção da emissora consultou os outros candidatos e apenas Guilherme Boulos foi contrário à retirada do púlpito. "Ele não é um preso político, ele é um político preso, não havia porque ele estar ali, seria um absurdo”, afirmava de maneira enfática o candidato do Podemos, Alvaro Dias, que chegou à Rede TV com um adesivo de dois olhos arregalados presos ao paletó, em alusão ao bordão que adotou nesta campanha: "Eleitor, abra os olhos”.

Jair Bolsonaro, Guilherme Boulos e Ciro Gomes durante programaFoto: picture-alliance/NurPhoto/FotoRua/F. Vieira

Decisão da ONU

Apesar de não ter sido citada no debate, a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU de pedir ao governo brasileiro que garanta a Lula todos os seus direitos políticos mobilizou os bastidores do debate.

Marina Silva afirmou não ter lido em detalhes a decisão e disse entender que se tratava de uma recomendação. "Eu pedi para meus juristas analisarem, sempre defendi os direitos humanos”, disse, para afirmar em seguida que casos de corrupção, como os registrados no governo do PT, também atentam contra os direitos humanos.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), um dos poucos parlamentares que estiveram no debate, disse não acreditar que haverá algum efeito jurídico. "Mas sem dúvida é um fato político importante”. Alvaro Dias, apesar de condenar de forma enfática as tentativas do PT em tornar Lula candidato à Presidência, reconheceu que a posição da ONU foi uma vitória política do partido. "Lula apareceu neste debate muito por conta desse fato”, disse ele, antes de deixar os estúdios da Rede TV.

Gentilezas

Os demais participantes do encontro preferiram se manter distantes da polêmica. Ciro Gomes, do PDT, e Geraldo Alckmin, do PSDB, passaram quase todo o debate trocando gentilezas, algumas farpas amigáveis e perguntas de viés estritamente econômico. Os dois convidaram-se mutuamente para responder suas questões em diversas ocasiões.

Para não deixar dúvidas a respeito da cordialidade entre os ambos, Ciro fazia questão de afirmar que não se tratava de "nada pessoal” as críticas que tinha às políticas defendidas por Alckmin. Cabo Daciolo (Patriota) e Jair Bolsonaro também trocaram gentilezas, fazendo perguntas leves e concordando com a posição de um e outro.

Daciolo decidiu adotar o figurino de pastor de forma definitiva. Passou todo o debate com uma Bíblia nas mãos e prometeu que fará com que todos os brasileiros passem a "louvar o Senhor” em sua primeira semana de governo. Logo após o debate, se disse confiante de que vencerá no primeiro turno e garantiu que fará uma campanha estática.

Afirmou que a partir deste sábado, até o dia da votação, irá ficar orando em montanhas ou pequenos morros no Rio de Janeiro. "Só descerei para os debates”, garantiu, sem explicar se gravará seus programas de TV nos morros ou em algum estúdio. "Venha me visitar, estarei lá o tempo todo com os anjos Gabriel e Miguel. Algumas vezes com Jesus também”.

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