"Sem imigração haveria mais desemprego", diz economista
Christoph Hasselbach (ca)9 de setembro de 2015
Especialista afirma não haver evidência de que alemães percam espaço no mercado devido à chegada de estrangeiros. Segundo ele, trabalhadores altamente qualificados de fora acabam gerando novos empregos.
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Um dos clichês em debates sobre a atual crise migratória é que refugiados tirariam trabalho dos alemães e sobrecarregariam a economia nacional. Para o especialista em questões migratórias Ulf Rinne, do instituto alemão IZA, trata-se de um argumento distorcido.
"Há sempre uma concorrência em torno dos postos de trabalho. Isso se aplica tanto a imigrantes quanto a cidadãos nacionais. Mas não existe nenhuma evidência científica de que, por esse motivo, os residentes percam seus empregos devido à imigração", afirma Rinne, em entrevista à DW.
Deutsche Welle: De acordo com dados do Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha, quase um terço das pessoas com origem migratória no país possui Abiturou Fachhochschulereife [diplomas que habilitam o aluno a ir, respectivamente, para uma universidade ou escola superior técnica]. Trata-se de uma porcentagem mais elevada do que entre aqueles sem raízes migratórias. Como se explica isso?
Ulf Rinne: Isso não surpreende. Pois é preciso que se compreenda que, até agora, são poucos os caminhos legais que estão abertos para migrantes na Alemanha – e, se estão, são principalmente canais para trabalhadores altamente qualificados.
Além disso, muitos deles são cidadãos da União Europeia, que, de qualquer forma, podem trabalhar na Alemanha.
Exatamente.
Isso significa que não há nenhum problema para o mercado de trabalho ou existe nesse setor uma concorrência em torno dos postos de trabalho?
Basicamente, há sempre uma concorrência em torno dos postos de trabalho. Isso se aplica tanto a imigrantes quanto a cidadãos nacionais. Mas não existe nenhuma evidência científica de que, por esse motivo, os residentes percam seus empregos devido à imigração.
Pelo contrário, o desemprego seria muito mais elevado se não houvesse a imigração. A suposição por trás dessa tese [de que a imigração levaria ao desemprego] implicaria a existência de um número fixo de postos de trabalho, e essa suposição é errônea. Principalmente no tocante à migração de pessoas qualificadas, uma concorrência entre migrantes e residentes não se concretiza.
Há também outro número que aponta para uma direção completamente diferente: como declarou o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, para o jornal Zeit, até 20% dos refugiados adultos que chegam até a Alemanha seriam analfabetos. Isso deve gerar um grande problema, não é verdade?
Essa questão requer uma consideração muito diferenciada. Pois, no caso dos refugiados, trata-se em grande parte de pessoas que solicitam asilo político. Em minha opinião, não há nenhuma base para observar tais pessoas por uma perspectiva, antes de tudo, econômica, ou averiguar se elas são úteis para a Alemanha.
Falamos sobre uma possível concorrência entre trabalhadores altamente qualificados. Deve-se temer uma concorrência no setor de baixos salários?
Certamente, em casos individuais, é possível que haja situações de concorrência. Olhando, no entanto, para o passado, pode-se observar que, no contexto da expansão da União Europeia para o Leste, isso não se pôde constatar em grande escala.
Ou seja, nessa nova situação, é preciso olhar novamente com cuidado, pois, geralmente, não imigram somente pessoas do setor de baixos salários, mas também trabalhadores altamente qualificados que, por sua vez, geram novos empregos. Numa visão geral, isso não leva a nenhum problema significativo.
Em sua opinião, quais seriam outras soluções?
Precisamos pensar urgentemente sobre uma lei de imigração. Também é o caso de abrir caminhos legais para pessoas com habilidades intermediárias, que são cada vez mais requisitadas no mercado de trabalho alemão – também para pessoas que não possuem grau acadêmico.
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.