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Sem oxigênio, governo do Amazonas sugeriu abrir valas

17 de janeiro de 2021

Orientação foi feita à prefeitura de Itacoatiara por não haver previsão para envio de oxigênio ao interior. Justiça obriga estado a fornecer gás ao município. Governo amazonense diz que crise foi "coincidência infeliz".

Paciente é levado em maca em hospital de Manaus
Sistema de saúde do Amazonas colapsou em meio à explosão de casos de covid-19Foto: Michael Dantas/AFP/Getty Images

O governo do Amazonas orientou a prefeitura de Itacoatiara, a cerca de 270 quilômetros de Manaus, a abrir valas para enterrar seus mortos já que não havia qualquer previsão para o fornecimento de cilindros de oxigênio hospitalar para cidades do interior amazonense.

A orientação do governo estadual à prefeitura foi mencionada em uma ação civil pública apresentada neste sábado (16/01) pelo Ministério Público estadual (MP-AM). A ação, que visava obrigar o estado a enviar oxigênio para Itacoatiara, já foi aceita pela Justiça.

"Se o estado não enviar o oxigênio ao hospital local de Itacoatiara-AM em quantidade suficiente, como já comprovado, teremos a morte de pelo menos 77 pessoas simultaneamente por insuficiência respiratória, devido à falta do material", disse o juiz Rafael Almeida Cró Brito, citado pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela imprensa do Amazonas.

O governo estadual tem 12 horas para cumprir a medida, estando sujeito a uma multa de 20 mil reais por hora de descumprimento.

Manaus fica sem ar na luta contra coronavírus

03:09

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O Ministério Público denunciou que a orientação de abrir valas foi feita pelo secretário de Interior da Secretaria de Saúde do estado, Cássio Espírito Santo, ao prefeito de Itacoatiara, Mario Jorge Abrahim. Espírito Santo chegou a oferecer câmaras frigoríficas ao município, justificando que não havia previsão para o envio de oxigênio para cidades do interior.

O interior do Amazonas depende fortemente do sistema de saúde da capital, Manaus, que é a única cidade do estado com leitos de unidades de terapia intensiva (UTI). Dos 62 municípios amazonenses, apenas 11 têm hospitais. Os demais possuem apenas postos de saúde.

Assim como Manaus, várias cidades do interior do estado enfrentam escassez de oxigênio nos hospitais. Em Parintins, a cerca de 470 quilômetros da capital, a prefeitura comprou equipamentos da Alemanha para montar uma usina de oxigênio, que terá capacidade para atender até 80 leitos. A estrutura será montada no único hospital público da cidade, Jofre Cohen.

"Infeliz coincidência"

Em meio a uma explosão de casos e internações por covid-19 e o colapso de seu sistema de saúde, a crise no Amazonas ganhou projeção nacional nesta semana, com o fim do estoque de oxigênio em alguns hospitais de Manaus e pacientes morrendo sem conseguir respirar.

Autoridades municipais, estaduais e nacionais foram acusadas de negligência e de ignorarem repetidos alertas de que a crise de oxigênio estava por vir. Na quinta-feira, a Justiça intimou o governo do Amazonas e o governo federal a se manifestarem sobre o caos no estado.

Em resposta à intimação, a Procuradoria Geral do estado argumentou à Justiça que a segunda onda de infecções que resultou no colapso de seu sistema de saúde foi uma "infeliz coincidência", culpando uma nova variante do coronavírus originária no estado.

As autoridades amazonenses alegaram ainda que a crise sanitária não tinha como ser prevista e omitiram a flexibilização das medidas restritivas no estado no fim do ano passado.

Em dezembro, o governador Wilson Lima chegou a impor restrições ao funcionamento de estabelecimentos comerciais, mas acabou recuando em sua decisão após protestos de empresários contrários às medidas de lockdown.

Segundo o jornal O Globo, o despacho enviado à Justiça Federal menciona apenas a imposição das restrições em 23 de dezembro, omitindo assim o recuo do governador dias depois.

Reportagens da imprensa brasileira, contudo, apontam que o governo estadual previu a crise iminente de oxigênio. Segundo apurou o jornal Folha de S. Paulo, membros do governo amazonense chegaram a avisar o governo do presidente Jair Bolsonaro, que também teria ignorado os alertas.

De acordo com a Folha, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, teria sido avisado previamente sobre a situação não só pelo governo amazonense, mas também pela empresa que fornece o oxigênio para o Amazonas e até por uma cunhada dele, que tinha um familiar "sem oxigênio para passar o dia".

Envio de oxigênio

Em meio à crise dramática e após uma série de mortes, o Amazonas começou a receber cilindros de oxigênio de fora do estado. O Ministério da Saúde anunciou o envio de 80 cilindros neste sábado, a bordo de um avião que seria enviado para a Índia para buscar doses de vacinas contra a covid, mas acabou não partindo após fracasso nas negociações do governo com o país asiático.

Manaus recebeu ainda, na madrugada deste sábado, uma carga de 70 mil metros cúbicos de oxigênio por meio de balsas a partir de Belém (PA). O governo amazonense informou que a nova remessa deve garantir a "retomada do equilíbrio do abastecimento da rede de saúde do estado para os próximos dias".

Aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) também voaram para a capital do Amazonas entre sexta-feira e sábado levando tanques de oxigênio hospitalar.

EK/abr/ots

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