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ViagemEspanha

Sem turistas, Maiorca sofre os impactos da pandemia

23 de janeiro de 2021

O famoso destino turístico espanhol perdeu 80% de seus visitantes em 2020. Com um aumento dos casos de covid-19 e sem previsão para o reinício da temporada de turismo, lojistas da ilha se dizem "à beira do abismo".

Lojas e estabelecimentos comerciais fechados em Palma de Maiorca devido à crise do coronavírus, em 8 de janeiro de 2021.
Ruas vazias se tornaram a regra na habitualmente movimentada cidade de PalmaFoto: Xavier Bonilla/NurPhoto/picture alliance

"É um desastre", diz Stefan Huber, proprietário de uma delicatessen no centro histórico de Palma. "Tivemos uma queda de 90% nas vendas em relação ao ano passado." Se o turismo em Maiorca não melhorar em breve, as coisas ficarão difíceis para Huber, natural de Frankfurt, na Alemanha.

Os custos fixos em uma das ruas comerciais mais procuradas da capital da ilha espanhola são altos. Mesmo que o proprietário do imóvel lhe dê algum desconto, e embora Huber tenha colocado seus empregados em jornadas de meio período, "em algum momento as reservas vão se esgotar".

Muitos lojistas do bairro já desistiram. Placas de "aluga-se" podem ser vistas a cada poucos metros nas portas de lojas fechadas. Apenas alguns aposentados cruzam a praça da prefeitura, que fica logo ao virar a esquina.

Em meados de janeiro, durante o inverno no hemisfério norte, quase nunca há muito movimento por aqui. Mas, se não fosse pela pandemia de covid-19, certamente um ou outro grupo de veranistas estaria tirando selfies na frente da oliveira retorcida ou sentado em uma das mesas de bar ensolaradas nas calçadas tomando um café latte.

O comerciante alemão Stefan Huber não sabe por quanto tempo conseguirá manter sua loja de delicatessenFoto: Jonas Martiny

Queda acentuada no número de turistas

Neste inverno europeu, tudo está diferente em Palma. Todos os cafés e restaurantes estão fechados, assim como os dois hotéis de luxo cujos quartos dão diretamente para a fachada barroca da prefeitura. Desde que o governo espanhol declarou Maiorca como área de risco em agosto, praticamente não houve mais turismo na ilha.

De acordo com o escritório de estatísticas das Ilhas Baleares, apenas 2 milhões de turistas vieram para Maiorca em 2020 – uma queda de mais de 80% em relação ao ano anterior, quando eram quase 12 milhões. E em vez dos 15 bilhões de euros gastos em 2019, os turistas deixaram apenas 1,8 bilhão de euros nas ilhas no ano passado.

Maiorca é extremamente dependente do turismo, que responde por mais de um terço de sua economia. Um em cada três funcionários trabalha na indústria hoteleira ou gastronômica, além de varejistas como Stefan Huber, que também dependem do turismo e de outros setores que lucram indiretamente com isso. Se o motor começa a engasgar, as consequências são imediatas.

O desemprego disparou nos últimos meses. No final de 2020, havia quase 85 mil desempregados nas Ilhas Baleares, cerca de 23 mil a mais do que no ano anterior.

Atualmente, distanciamento social não é um problema ao longo da popular Praia de PalmaFoto: Jonas Martiny

Dobra a busca por bancos de alimentos

Miguel Angel Colom sente em primeira mão o que isso significa para a população no dia a dia. Ele é presidente de uma associação cívica em Palma que distribui alimentos aos necessitados. Há meses, a fila de quem vem buscar pacotes de macarrão, açúcar, óleo e enlatados está cada vez mais longa. "A situação está ficando mais precária", avalia Colom. "Afinal, vivemos do turismo. Sem veranistas, tudo para por aqui."

Durante o primeiro ano da pandemia, o número de famílias que procuram sua ajuda dobrou para 600. No passado, conta, eram principalmente os imigrantes os afetados. "Agora, os maiorquinos também estão vindo. Pessoas que nunca pensaram que um dia teriam que ir a um banco de alimentos."

Um número cada vez maior de pessoas depende de ajuda. Miguel Angel Colom oferece comida para quem precisaFoto: Jonas Martiny

Pagamentos de benefícios sociais espanhóis não são suficientes, e mesmo o dinheiro dos programas de auxílio pelo coronavírus está longe de alcançar a todos. Segundo reportagens recentes da imprensa local, 36 mil pessoas se dirigiram ao escritório de assistência social de Palma em busca de ajuda no ano passado – ou seja, 9% da população da cidade.

Até agora, o governo evitou o pior ao financiar esquemas generosos de trabalho de meio período durante meses. Na virada do ano, quase 31 mil trabalhadores das Ilhas Baleares eram beneficiados. A situação é particularmente difícil para empresas e trabalhadores autônomos.

É o caso do chef alemão Helmut Clemens, que até recentemente possuía três restaurantes no centro da cidade. Agora são apenas dois, pois um ele teve que fechar devido a lucros insuficientes. "Estamos à beira do abismo", diz ele.

Isso se deve não apenas à falta de turistas, mas também às restrições relacionadas ao coronavírus nos últimos meses. Ultimamente, os bares e restaurantes da ilha estão autorizados a oferecer apenas serviço de entrega ou a servir fora de suas dependências. Não há compensação financeira pelos prejuízos, diz Clemens, que também é vice-presidente da Associação de Gastrônomos de Maiorca. Em um ano, 17 mil empregos foram perdidos somente no setor, conta. "Presumo que 40% de todas as empresas de catering não vão sobreviver."

O desespero cresce: maiorquinos protestam em 13 de janeiro contra o endurecimento das restriçõesFoto: Isaac Buj/EUROPA PRESS/dpa/picture alliance

Sem turismo até a Páscoa?

A situação é tensa, conforme se viu num protesto na semana passada, quando milhares de donos de restaurantes marcharam indignados pelo centro de Palma apesar das restrições, paralisando o tráfego, jogando ovos e exigindo a renúncia do governo regional.

O governo, porém, enfrenta um dilema: por um lado, trabalha em uma estratégia para impulsionar o turismo o mais rápido possível; por outro lado, tenta desesperadamente controlar os índices de infecção pelo coronavírus, que vêm aumentando há semanas.

Atualmente, as regras de quarentena e os testes de PCR obrigatórios tornam uma viagem para Maiorca quase impossível. E é improvável que isso mude tão cedo. Pelo menos em privado, os hoteleiros da ilha admitem que já não esperam o habitual início da temporada na semana da Páscoa. Provavelmente, ela não irá recomeçar até junho, no mínimo. Para Stefan Huber, isso pode ser tarde demais. "Estabeleci junho como meu prazo final", afirma. "Se as coisas não melhorarem até lá, eu fecho. Para sempre."

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