Semente "ressuscitada" pode ser chave para mistério bíblico
30 de outubro de 2024
Cientistas fizeram germinar em 2010 uma semente datando de cerca de mil anos. Resina produzida agora pela "bela adormecida" evoca o bálsamo "tsori", citado em vários livros da Bíblia por suas propriedades miraculosas.
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Uma semente não identificada, encontrada décadas atrás numa caverna do deserto da Judeia, pode ser a chave para um dos mistérios botânicos da Bíblia, e cientistas conseguiram agora fazer germinar a partir dela uma árvore de mais de mil anos. Apelidada "Sheba", ela pode ser a fonte do enigmático bálsamo "tsori", mencionado nas escrituras por suas supostamente miraculosas propriedades curativas.
Como relata o artigo publicado em setembro na revista científica Communications Biology, cerca de 40 anos atrás arqueólogos descobriram na região de Wadi el Makkuk uma semente originária dos anos 993 a 1202, segundo a datação por radiocarbono. Ela permaneceu esquecida no Instituto de Arqueología da Universidade Hebraica, até que a cientista Sarah Sallon, do Centro de Pesquisa de Medicina Natural Louis Borick, em Jerusalém, resolveu lhe dar uma segunda oportunidade.
Com apoio da diretora do Centro de Agricultura Sustentável do Instituto Arava, Elaine Solowey, a semente foi plantada em 2010. Cinco semanas mais tarde, emergia uma plantinha e, passados 14 anos, "Sheba" já mede quase três metros e começou a produzir resina.
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Potencial curativo concentrado
Há duas teorias igualmente prováveis sobre como a secular semente teria chegado à caverna no deserto: através de excrementos animais ou humanos. Análises de DNA revelaram que pertence ao gênero Commiphora, o mesmo das plantas de que se extraem incenso e mirra.
No entanto não foi possível identificar sua espécie exata, levando a crer que se trate de uma linhagem já extinta. Uma primeira hipótese, de que se trataria do mítico "bálsamo da Judeia", foi descartada pelo fato de a árvore ressuscitada não apresentar propriedades aromáticas.
No entanto, o que lhe falta em fragrância, Sheba compensa em propriedades medicinais: análises químicas revelaram que suas folhas e resina estão repletas de triterpenoides pentacíclicos, compostos conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias e anticancerígenas, assim como do antioxidante natural esqualeno, utilizado em tratamentos de pele.
Devido a essas propriedades curativas, as cientistas propõem que a resina possa ser o tsori mencionado nos livros bíblicos do Gênese, Jeremias e Ezequiel. Tradicionalmente associado à região de Galaad (atual Jordânia), esse bálsamo era mais famoso por sua ação terapêutica do que por seu perfume.
"Cremos que os esses achados apoiam nossa segunda hipótese: Sheba pode representar uma linhagem extinta (ou pelo menos extirpada), outrora nativa desta região, cuja resina tsori era valiosa, associada à cura, mas não descrita como fragrante", explica o estudo.
Esta não é a primeira façanha de ressurreição botânica da equipe liderada por Sallon, que já trabalhou com sementes de tâmaras de 1.900 anos de idade. Uma delas germinou, sendo batizada "Matusalém", em honra à personagem bíblica que supostamente viveu 969 anos.
Enquanto a "bela adormecida" Sheba continua crescendo e os cientistas pesquisam suas propriedades, permanece em aberto o mistério do bálsamo da Judeia. A hipótese da equipe é que a planta aromática que o produzia seja uma espécie de Commiphora ainda não identificada.
av (DW,ots)
Humboldt, o extraordinário coletor de plantas
Na sua expedição por colônias espanholas na América, Humboldt reuniu milhares de plantas e as enviou para catalogação na Europa. Ao mesmo tempo, revelou ao Velho Mundo as cores fascinantes da vida no Novo Mundo.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Explorando a América espanhola
De 1799 a 1804, Alexander von Humboldt e o botânico e médico francês Aime Bonpland fizeram uma expedição científica por Venezuela, Cuba, Colômbia, Equador, Peru, México e Estados Unidos. Nesse tempo, eles coletaram milhares de espécies de plantas, as secaram e as prepararam para serem enviadas à Europa para um estudo posterior, como esta Dasyphyllum argenteum, que só é encontrada no Equador.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Mundo de descobertas
Além de plantas, eles também coletaram sementes e frutos. No entanto, Humboldt estava mais interessado na totalidade da natureza, e grande parte da coleta de plantas foi feita por Bonpland, que também era botânico. Ambos fizeram anotações detalhadas em sua jornada. Humboldt também tinha interesse em palmeiras e orquídeas, como esta orquídea Catasetum maculatum, que ele próprio desenhou.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Remessas separadas
Para garantir que suas plantas chegassem à Europa, Humboldt dividiu a coleção e a mandou em remessas separadas. Além disso, ele também enviou amostras para amigos e colaboradores. Por isso, nunca houve um conjunto completo e ninguém pode dizer quantas plantas foram coletadas e sobreviveram à travessia do Atlântico. Aqui uma Werneria pumila, encontrada apenas no Equador.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Volta à Europa
Ao voltar à Europa em 1804, Humboldt viajou para a Alemanha e a Itália, antes de se instalar em Paris por 20 anos para publicar seus livros com os dados reunidos na América espanhola. "Essai sur la géographie des plantes" (Ensaio sobre a geografia das plantas) reuniu tudo o que ele aprendera em anos de observações botânicas. É um marco da geografia vegetal. Aqui uma samambaia Adiantum varium.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Cores exuberantes
Alexander von Humboldt levaria mais de 30 anos para publicar os 32 volumes sobre sua expedição, e mesmo assim muito material nem chegou a ser usado. Muitos dos livros são grandes fólios em francês com ilustrações mostrando cenas, mapas e animais. Mas foram os livros botânicos que inflamaram o mundo com imagens coloridas à mão, como esta Corallophyllum caeruleum.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Humboldt, o mentor
A maior parte da pesquisa para os livros botânicos foi feita por outros cientistas. Primeiro foi Bonpland, que perdeu o interesse e voltou para a América do Sul, e depois foi Karl Sigismund Kunth. Ao todo, eles dedicaram 15 volumes a plantas da América espanhola. As primeiras páginas foram impressas em 1805 e, as últimas, em 1834. Aqui um Culcitium reflexum, observe as estrelinhas na flor.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Destaque entre os livros de botânica
O marcante não é só o fato de Humboldt ter colecionado tantas plantas ou publicado tantos livros, mas a qualidade deles. Ele e sua equipe foram os primeiros a documentar o local e a altitude onde elas foram encontradas. Além disso, muitas gravuras são baseadas em desenhos de Pierre Jean François Turpin, um extraordinário artista botânico. Aqui, um detalhe de uma palmeira Attalia amygdalina.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Na vanguarda da pesquisa científica
No trabalho de campo, Humboldt e Bonpland reuniram 4.528 plantas. Eles as numeraram, deram determinações preliminares e fizeram descrições com informações de localização em francês, latim ou espanhol. Em alguns casos, eles até fizeram impressões das plantas à tinta sobre papel. Aqui, uma Masdevallia uniflora, que parece uma tulipa, mas na verdade é uma orquídea do Peru.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Pergunta sem resposta
Até o próprio Humboldt citou números contraditórios sobre a quantidade de espécies de plantas que recolheu: entre 6 mil e 12 mil. Mas o que realmente impressiona é a velocidade com que ele publicou as descobertas e a suntuosidade dos seus livros. Ele foi até capaz de fazer a planta aquática Mariscus pycnostachyus parecer linda.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
No mar e na terra
As amostras foram colhidas nos Andes, nas alturas, e no fundo do oceano, nas profundezas. Nem todas as plantas trazidas para a Europa eram desconhecidas. Ainda assim, os cientistas não conseguiram resistir a dar nome a algumas delas. Aqui um detalhe de uma Zonaria Kunthii, uma alga hoje conhecida como Dictyota kunthii, cujo nome é uma homenagem ao colaborador de Humboldt Karl Sigismund Kunth.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Nos arquivos
Coleções de plantas secas e prensadas, também conhecidas como herbários, são recursos valiosos. Um herbário histórico como o de Humboldt, com mais de 200 anos, depositado no Museu de História Natural de Paris e no Jardim e Museu Botânico de Berlim, é importante por ser uma espécie de cápsula do tempo. Estas prateleiras no museu em Berlim contêm parte da sua coleção única de plantas.
Foto: T. Rooks
Estragos da guerra
Nos bombardeios contra o Jardim e Museu Botânico durante a 2ª Guerra, apenas parte do herbário insubstituível havia sido guardada num cofre de banco por razões de segurança. O resto foi praticamente perdido. Na foto, um dos "sobreviventes", uma folha de Bertholletia excelsa, a castanha-do-pará. Ela é mantida trancada a sete chaves.
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks
Acervo disponibilizado
Após o fim da guerra, o Jardim e Museu Botânico de Berlim substituiu ou reconstruiu os livros botânicos de Humboldt. Além de fazer pequenas exposições, ele também digitalizou o herbário e o disponibilizou online. Os trabalhos de Humboldt nas colônias hispano-americanas e depois em Paris foram tão pioneiros que os estudiosos ainda vasculham suas anotações para aprender sobre seu trabalho de campo.
Foto: Staatsbibliothek Berlin/Foto: Timothy Rooks
De encher os olhos
Humboldt deixou para trás muitas das impressões botânicas mais sensacionais já criadas. Qualquer um pode apreciá-las sem conhecer a sua história. Embora os artistas às vezes tenham usado cores improváveis, as imagens não deixam de ser bonitas, como esta orquídea Oncidium pictum. (Fonte das imagens históricas: Biblioteca do Museu Botânico, Berlim)
Foto: Botanisches Museum Berlin/Foto: Timothy Rooks