Até 23 partidos têm chances de conquistar cadeiras na Casa, cinco a mais do que a composição atual. Presença de tantas legendas pode dificultar formação de maiorias e propiciar mais terreno para clientelismo e corrupção.
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As eleições deste domingo (07/10) podem resultar em uma fragmentação nunca antes vista no Senado. Se as pesquisas que indicam os favoritos para as 54 vagas em disputa neste pleito se confirmarem nas urnas, a Casa deve passar a contar com representantes de 23 partidos – cinco a mais do que a atual composição. Assim, o Senado deve se aproximar ainda mais da hiperfragmentação da Câmara, onde hoje 25 partidos têm representantes.
Ao todo, 358 candidatos ao Senado concorrem a essas 54 vagas nos 26 estados e no Distrito Federal. Entre os favoritos, uma série de nomes conhecidos. Há 32 senadores que concorrem à reeleição. Destes, pelo menos 26 aparecem com chances de conseguirem mais um mandato de oito anos. Entre eles estão nomes envolvidos na Lava Jato como Renan Calheiros (MDB), Benedito de Lira (PP-AL), Edison Lobão (MDB-MA) e Jader Barbalho (MDB-PA).
Apenas seis senadores que concorrem à reeleição parecem fadados a perder suas vagas. Entre eles estão Moka (MDB-MS) e Wilder Morais (DEM-GO). Já o grupo dos candidatos sem vaga que aparecem como favoritos para conquistarem cadeiras também inclui alguns nomes conhecidos de antigas legislaturas do Senado, Eduardo Suplicy (PT-SP) e Jarbas Vasconcelos (MDB-PE), que passaram os últimos anos fora da Casa.
O risco de aumento da fragmentação deve pressionar o tamanho das bancadas do MDB, PT e PSDB, que concentram as maiores bancadas. Os tucanos, por exemplo, que hoje contam com 12 senadores, podem perder uma das cadeiras. Já o MDB, que detém a maior bancada, com 18 senadores, corre o risco de ver cinco cadeiras se afastarem da sua órbita. Um dos candidatos do MDB com dificuldades é Romero Jucá (RR), que concorre à reeleição e aparece em terceiro lugar na disputa. Já o PT, que tem a terceira maior bancada, aparece com chances de manter suas nove cadeiras.
Os partidos que têm candidatos bem posicionados na disputa que podem ajudar a aumentar a fragmentação são: PSL, Solidariedade, PSC, PRP, PHS e Psol, que hoje não contam com nenhum representante no Senado. O Pros, que tem um senador, não aparece com nenhum candidato competitivo e deve perder sua única cadeira.
O nanico PSL de Jair Bolsonaro tem dois candidatos bem posicionados: o deputado Flávio Bolsonaro (RJ) – filho do presidenciável –, que aparece em segundo na corrida pelas duas vagas do Rio de Janeiro; e o deputado Major Olímpio (SP), que disputa uma vaga em São Paulo. Já o PRP lançou o jornalista esportivo Jorge Kajuru para uma vaga em Goiás. Ele aparece com 28% das intenções, segundo o último Ibope, em um empate com outros três candidatos. Na Bahia, o PSC pode conquistar uma vaga com a candidatura de Irmão Lázaro, ex-vocalista do grupo Olodum que se tornou evangélico.
O Solidariedade tem dois candidatos competitivos na disputa: o deputado Dinis Pinheiro, que concorre a uma vaga em Minas Gerais e que contrariou seu partido ao apoiar o presidenciável Bolsonaro (o SD apoia oficialmente Geraldo Alckmin); e Eduardo Gomes, que disputa no Tocantins. O nanico PHS pode conquistar uma cadeira no Rio Grande do Norte com Dra. Zenaide, membro do influente clã Maia – ela é irmã de dois deputados e prima do senador José Agripino Maia (DEM-RN).
Apontada como uma das principais causas de dificuldades para os governos formarem coalizações estáveis, a fragmentação vem crescendo de maneira constante no Senado desde o o início dos anos 2000. Em 1994, dez partidos haviam conseguido eleger representantes na Casa. O MDB (à época ainda chamado PMDB) tinha, por exemplo, 23 senadores, e o DEM ainda era um partido influente, com 18 senadores (hoje tem cinco). A decadência de algumas legendas e o surgimento de uma série de outras – muitas delas sem qualquer tendência ideológica definida – acabou incentivando a pulverização.
Em 2010, o número de partidos no Senado já havia saltado para 15. Em 2014, senadores de 16 partidos passaram a compor as 81 vagas. Em 2017, graças ao troca-troca partidário, o número subiu para 18. Como são eleitos pelo sistema majoritário (em que o vencedor é aquele com mais votos), os senadores podem mudar de sigla quando desejarem, sem correr o risco de perder o mandato como ocorre na Câmara, onde os deputados são eleitos por um complicado sistema proporcional e dependem de janelas partidárias para mudarem de legenda.
Com mais partidos dividindo as vagas, os presidentes acabam tendo que gastar mais tempo e energia negociando apoios para a aprovação de projetos e emendas. Essa tendência também acaba servindo de incentivo para escândalos.
Segundo o sociólogo Sérgio Abranches, autor do livro Presidencialismo de coalizão, o quadro de hiperfragmentação tanto na Câmara quanto no Senado propicia "terreno fértil para o clientelismo e corrupção".
"Com a ampliação do número de pedintes, é impossível conceder a todos, em tudo, apenas com cargos e recursos fiscais legais. A cooptação como método de formação de coalizões leva à preferência por benefícios materiais e, como o mensalão e a Lava Jato indicaram, pode incentivar o uso de propinas para partidos e pessoas, como bônus de participação na coalização, em detrimento de aspirações programáticas. Partidos e lideranças oportunistas, sem barreiras morais, num quadro em que predomina um padrão de comportamento político-institucional permissivo demais, são os que mais facilmente se adaptam a esse ecossistema e nele prosperam."
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.