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Senador que escondeu dinheiro nas nádegas pede afastamento

20 de outubro de 2020

Chico Rodrigues, flagrado com mais de R$ 30 mil na cueca, informa que vai se manter 121 dias longe do Senado. Manobra poupa Casa de votar afastamento determinado pelo ministro Barroso, do STF. 

O senador Chico Rodrigues, em frente a uma imagem da bandeira do Brasil
Político veterano de Roraima, Rodrigues é um fiel aliado de Bolsonaro, mas escândalo levou governo a tentar se afastar do parlamentarFoto: Adriano Machado/Reuters

O senador Chico Rodrigues (DEM-RR), que foi flagrado pela Polícia Federal com mais de R$ 30 mil na cueca e entre as nádegas, pediu afastamento do mandato nesta terça-feira (20/10).

Inicialmente, a defesa de Rodrigues havia informado que ele permaneceria 90 dias longe do Senado. Poucas horas depois, ele ampliou o prazo para 121 dias. A ampliação permite que seu primeiro suplente assuma o cargo, algo que não aconteceria no caso de um afastamento inferior a 120 dias. O suplente, Pedro Arthur Rodrigues, é filho de Rodrigues.

Na segunda-feira, o senador já havia pedido seu desligamento do Conselho de Ética do Senado, do qual era membro. Ele também ocupava a vice-liderança do governo de Jair Bolsonaro no Senado até a eclosão do escândalo na última quarta-feira, que foi amplificado por causa dos detalhes bizarros do caso.

Rodrigues foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga desvios de recursos direcionados ao combate à pandemia. Sua exoneração da vice-liderança foi oficializada no dia seguinte.

Agora, ao se afastar voluntariamente por 121 dias, Rodrigues poupou o Senado de votar em plenário a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que havia determinado o afastamento do parlamentar por 90 dias.

Em julgamento marcado para esta quarta-feira, o plenário do STF também discutiria a decisão individual de Barroso, mas, após o pedido de afastamento de Rodrigues, o presidente da Corte, Luiz Fux, acabou retirando a discussão da pauta.

Ainda na semana passada, o Conselho de Ética recebeu uma representação por quebra de decoro parlamentar contra Rodrigues, apresentada pelos partidos Rede e Cidadania. Caberá ao senador Jayme Campos (DEM-MT), colega de partido de Rodrigues, definir se um processo deve ser aberto.

Político veterano de Roraima que já passou por quase uma dezena de partidos, Rodrigues já cumpriu mandatos como deputado e governador. Eleito para o Senado em 2018, ele logo se transformou num dos mais fiéis aliados do presidente Jair Bolsonaro, assumindo a vice-liderança do governo no Senado em março de 2019, muito antes da aproximação entre o Centrão e o Planalto.

Ele também chegou a empregar no seu gabinete um agregado da família do presidente, Léo Índio, uma figura próxima do vereador Carlos Bolsonaro. 

Rodrigues também havia sido escalado, com articulação do Planalto, como um possível relator no Senado da indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o cargo de embaixador em Washington. Em um vídeo antigo que circula nas redes sociais, Bolsonaro aparece elogiando o senador e afirmando que tem "quase uma união estável" com Rodrigues.

Apesar de toda essa proximidade, Bolsonaro e membros do seu governo tentaram se distanciar do senador. Bolsonaro tentou usar o caso como uma suposta prova de que seu governo combate a corrupção. Já o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que vice-líder do governo não faz parte do governo.

Deflagrada pela PF e pela Controladoria-Geral da União, a operação que acabou chegando a Rodrigues foi batizada como Desvid-19. O foco das investigações envolve suspeitas de desvio de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares destinadas ao combate à pandemia.

Ao todo, foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão em Boa Vista, expedidos pelo ministro Roberto Barroso. Um dos alvos foi o senador Rodrigues, que estava em sua casa na capital de Roraima quando os agentes bateram à porta.

A operação em si já seria motivo suficiente de constrangimento para o governo e um duro golpe em Rodrigues, mas o escândalo acabou sendo amplificado após a revista Crusoé apontar no mesmo dia que agentes da PF flagraram o senador escondendo dinheiro vivo "entre as nádegas".

Mais tarde, o ministro Barroso deu mais detalhes na sua decisão que determinou o afastamento de Rodrigues. O texto aponta que o senador havia escondido "próximo às suas nádegas" maços que totalizaram R$ 15 mil. Depois, foi indagado pelos agentes se havia mais dinheiro. Acabou enfiando na cueca e tirou mais R$ 17.900.

O caso rapidamente se juntou a uma coleção de antigos escândalos brasileiros que envolveram a ocultação de dinheiro por meios pouco ortodoxos, como bíblias, cueca, lixeiras, meias, entre outros. Nas redes sociais, usuários fizeram piadas com o episódio.

Após a operação, Rodrigues disse que pretende provar que não tem envolvimento com qualquer ato ilícito e reclamou de ter o "lar invadido". Nos dias que se seguiram, ele afirmou a outros senadores que o dinheiro apreendido não era oriundo de corrupção, mas seria usado para pagar seus funcionários. O parlamentar ainda apontou que escondeu o dinheiro "de impulso" porque foi acordado "em meio a pessoas estranhas em meu quarto".

JPS/ots

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