Separatistas pró-Rússia iniciam "referendos" na Ucrânia
23 de setembro de 2022
Condenada por Kiev e pela comunidade internacional, votação sobre anexação por Moscou ocorre até a próxima semana em regiões parcial ou totalmente ocupadas pela Rússia. Ocidente diz que não reconhecerá resultado.
Anúncio
Apesar da oposição de Kiev e da comunidade internacional, começaram nesta sexta-feira (23/09) os chamados "referendos"sobre a anexação pela Rússia de territórios ucranianos ocupados por Moscou. Para Kiev e o Ocidente, trata-se de "uma farsa".
Os parlamentos das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, reconhecidas pelo Kremlin em 21 de fevereiro, anunciaram o referendo na terça-feira, ao qual se juntaram as regiões de Kherson e Zaporíjia, no sul, parcialmente sob domínio russo. Juntas, as quatro regiões correspondem, mais ou menos, ao tamanho dos territórios de Portugal ou Hungria. A votação seguirá até a próxima terça-feira (27.09.) e tem o apoio da Rússia.
Os insurgentes querem apressar a realização da votação em meio aos êxitos obtidos pela Ucrânia em sua contraofensiva, que vem resultando na retomada de territórios no sul e no leste do país. A controversa votação nas regiões ocupadas, às vésperas de a guerra completar sete meses, passou a ser considerada com mais seriedade pelo presidente russo, Vladimir Putin, após a série de reveses das tropas russas.
A Rússia quer usar os supostos resultados do referendo para justificar a incorporação das áreas ocupadas por separatistas leais ao Kremlin e usa o argumento do "direito do povo à autodeterminação".
O Kremlin justificou a invasão do país vizinho ao reafirmar a necessidade de "libertar" Donetsk e Lugansk, as duas províncias que formam a região do Donbass, onde a maioria da população adota o idioma russo.
"Desde o início da operação dissemos que os povos dos territórios deveriam decidir por si mesmos sobre seus destinos, e a situação atual confirma que eles querem ser os senhores de seus próprios destinos", afirmou o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov.
O líder separatista Denis Pushilin falou de um dia histórico na "República Popular de Donetsk".
"Este referendo é crucial, é um avanço para uma nova realidade", disse, em um vídeo publicado no Telegram.
Na região de Zaporíjia, a votação ocorre apenas nas partes controladas pelas tropas russas. A própria capital regional é controlada pela Ucrânia. Já a região de Lugansk anunciou que os cidadãos que fugiram para a Rússia também poderiam votar.
Nem a Ucrânia nem a comunidade internacional reconhecerão a votação por considerarem os referendos falsos, uma vez que são realizados sem o consentimento da Ucrânia, sob a lei marcial e não de acordo com os princípios democráticos. Além disso, o trabalho livre de observadores internacionais independentes também não foi possível.
Nos novos referendos, a Rússia segue o mesmo modelo adotado na época da anexação da Península da Crimeia, em 2014. Um "referendo" teria resultado em 97% de apoio à separação da Ucrânia, mas a votação jamais foi reconhecida internacionalmente.
A União Europeia (UE) e os Estados Unidos condenaram repetidas vezes a realização dessas votações, que consideram ilegítimas e fraudulentas.
Já o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou que o "referendo" está em franca violação das leis internacionais.
"Está muito, muito claro que esse referendo encenado não será aceito, uma vez que não é coberto pelas leis internacionais ou pelo entendimento atingido pela comunidade internacional", disse.
Se Moscou anexar formalmente as regiões controladas pelos separatistas, Putin estaria, essencialmente, desafiando os EUA e seus aliados europeus a arriscarem um confronto militar direto com a Rússia, a maior potência nuclear do mundo.
le/rk (Lusa, DPA, AFP, ots)
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.