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Será o fim da linha para Sánchez na Espanha?

Santiago Sáez md
15 de fevereiro de 2019

Após convocar eleições antecipadas, governo do líder socialista espanhol pode chegar ao fim marcado por rusgas com a extrema direita e com separatistas catalães. Mas premiê ainda tem esperança de se reeleger.

Premiê espanhol, Pedro Sánchez
O premiê espanhol, Pedro Sánchez, decidiu convocar eleições antecipadas no paísFoto: picture-alliance/AA/B. Akbulut

A sessão parlamentar para aprovar a lei orçamentária proposta pelo governo espanhol para 2019 deveria ser uma mera formalidade. Mas, na semana passada, as negociações fracassaram com os partidos separatistas catalães PDeCat e ERC, cujo apoio foi fundamental para Pedro Sánchez se tornar primeiro-ministro no ano passado.

Os partidos pró-independência exigiram que, em troca de apoio para a votação do orçamento, o governo reconhecesse o direito da região à autodeterminação. Mas essa era uma linha vermelha que o governo não estava disposto a ultrapassar.

A votação crucial do orçamento estava, portanto, essencialmente morta. Sánchez, que dirige o socialista PSOE, tentou nomear um relator, mas esse esforço foi rejeitado pelos parlamentares pró-independência, que haviam entregado anteriormente ao gabinete nacional uma lista de 21 demandas. Estas incluíam o direito à autodeterminação, a presença de mediadores internacionais e o fim do julgamento contra líderes separatistas catalães.

O primeiro-ministro rejeitou o documento, mas partidos de direita o usaram para acusar Sánchez de traição por supostamente ceder a algumas das condições do líder catalão Quim Torra.

Eleição antecipada

Agora, o líder do PSOE convocou eleição antecipada para 28 de abril, embora tecnicamente ele não fosse obrigado a fazê-lo. Por lei, ele poderia ter prorrogado o orçamento do ano passado e ter continuado no governo.

Atualmente, as pesquisas mostram uma vantagem para os partidos de direita, cujos seguidores foram galvanizados após uma vitória histórica na Andaluzia, a região mais populosa do país e que fora bastião socialista por quatro décadas.

De acordo com uma sondagem publicada no site do jornal El País, o PSOE atualmente lidera as pesquisas, com cerca de 24%. O conservador Partido Popular (PP) está com 21%, com o liberal Ciudadanos o seguindo de perto, com 18%. O partido de esquerda Podemos continua a perder força depois de meses de conflitos internos e atualmente está com 15%. Enquanto isso, a legenda de extrema direita Vox, que ganhou espaço nas recentes eleições na Andaluzia, atrai cerca de 10% dos votos.

A ascensão do Vox, um partido assessorado pelo ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, fragmentou os conservadores, mas também gerou entusiasmo entre os eleitores que são contra qualquer tipo de diálogo com os apoiadores dos separatistas catalães. No momento, as pesquisas apontam para a vitória de uma tripla aliança entre PP, Ciudadanos e Vox.

Protesto em Madri de partidos de direita, que acusam Sánchez de fazer concessões demais a separatistas catalãesFoto: DW/V. Cheretskiy

União de rivais

Há uma série de razões para Sánchez convocar uma eleição agora. Uma delas, segundo Pablo Simon, cientista político e editor do portal Politikon, é justamente o fato de seus rivais agora parecerem unidos. "Sánchez precisa que PP, Ciudadanos ou Vox apareçam como um bloco homogêneo, com ele do outro lado." Eleições regionais e locais agendadas para 26 de maio podem produzir alianças entre PSOE e Ciudadanos, o que prejudicaria seus planos.

"Se a aliança de direita não obtiver uma maioria absoluta de 176 assentos [dos 350 assentos disponíveis], Sánchez vence, porque haveria outra eleição, e nesse meio tempo ele poderia sondar outras alternativas para formar um governo", afirma Simon, referindo-se à improbabilidade de outros partidos apoiarem qualquer coalizão que inclua o Vox. Do jeito que as coisas estão, Sánchez não comandará uma maioria, a não ser que os catalães mudem de ideia, o que significaria mais um impasse, levando a mais uma eleição.

Para os catalães ERC e PDeCat, uma eleição agora também é uma incógnita. Se os partidos de direita vencerem, a região nordeste poderá enfrentar a aplicação do artigo 155 da Constituição, como ocorreu no ano passado sob o governo de Mariano Rajoy, o que daria o controle do governo regional a Madri.

"Se houver um governo de direita aplicando o artigo 155, as coisas podem ficar feias, já que até mesmo os catalães que não são pró-independência reconsiderariam sua posição", opina Magda Bandera, editora-chefe da revista La Marea.

Briga entre separatistas

Antonio Barroso, diretor-gerente da empresa de análise política Teneo, diz que o julgamento dos líderes separatistas catalães "acrescenta ímpeto" à ala mais radical do movimento pró-independência. "Durante o julgamento, seria politicamente prejudicial para os partidos pró-independência serem vistos como apoiadores de Madri", diz.

As eleições locais de 26 de maio podem complicar ainda mais as coisas. A competição interna entre ERC e PDeCat, que quer derrubar a prefeita catalã, Ada Colau, e tomar o poder em Barcelona, está crescendo. "Para eles, o espaço político espanhol é secundário. O governo catalão e a prefeitura de Barcelona são o que realmente importa para eles", avalia Pablo Simon.

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