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Depressão

12 de novembro de 2009

Para que um estado depressivo possa ser diagnosticado, é preciso que determinados sintomas persistam por um tempo relativamente longo, explica o psiquiatra Thomas Aubel em entrevista à Deutsche Welle.

Falta de autoconfiança e autoestima são sintomas típicos da doençaFoto: picture-alliance/dpa

O suicídio do goleiro da seleção alemã, Robert Enke, desencadeou um debate acerca do tabu representado pela depressão. Na Alemanha, estima-se que 4 milhões de pessoas sofram da doença, sobretudo mulheres, sendo que, na maioria dos casos, a enfermidade aflora entre os 30 e os 40 anos de vida. Aproximadamente 90% dos casos de suicídio no país estão relacionados a um diagnóstico anterior de depressão.

Em entrevista à Deutsche Welle, o médico Thomas Aubel, da Clínica Psiquiátrica de Westfalen-Lippe em Dortmund, fala sobre as causas da depressão e as melhores formas de tratá-la.

Deutsche Welle: Quais são os sintomas mais correntes de uma depressão e como reconhecê-los?

Thomas Aubel: Isso é relativamente difícil. Todos nós temos esporadicamente dias nos quais não estamos bem. Qualquer pessoa conhece essa situação de seu próprio dia-a-dia, mas, no caso de uma depressão, é preciso haver também sintomas como redução da concentração e da atenção.

Há também uma redução da autoestima e da autoconfiança, a pessoa tem a sensação de que não vale nada, sentimentos de culpa, além de perspectivas pessimistas e negativas para o futuro. Surgem também distúrbios do sono, tem-se a sensação de não ter dormido bem, um mal-estar matinal, falta ou redução de apetite. Um sintoma cardinal é pensar em suicídio, em automutilação. Esse é um dos sete sintomas cardinais da depressão.

Por quanto tempo esses sintomas devem persistir para que se possa falar realmente de uma depressão?

O período de persistência dos sintomas para que seja diagnosticada uma depressão é claramente definido em pelo menos quatro semanas. Para as formas mais brandas da doença bastam duas semanas neste estado.

Quais são as causas da depressão?

Se soubéssemos, seríamos felizes. No caso de todas as doenças psiquiátricas, parte-se de um certo modelo de sensibilidade e estresse. Cada um de nós pode ter uma doença como essa. Através de exames, sabe-se que, no nível biológico, uma das principais causas é a falta de serotonina, ou seja, uma falta do hormônio da felicidade, produzido normalmente pelo corpo.

Este hormônio passa a não ser produzido ou pelo menos não nas proporções necessárias, de forma que a pessoa pode entrar numa fase de depressão. Na maioria das vezes, há um fator que desencadeia a doença: alguma situação que gera tensão, um conflito numa relação, a morte de um parente ou a perda de um emprego, enfim, algum acontecimento que provoca um episódio depressivo.

Como a depressão pode ser tratada?

Por um lado, o tratamento se dá através do equilíbrio da deficiência de serotonina, o que, hoje em dia, pode ser feito com o uso de antidepressivos modernos. Pode-se, digamos assim, inibir a recaptação de serotonina pelos neurônios, fazendo com que mais serotonina seja produzida pelo corpo.

Mas também é preciso fazer com que a produção de serotonina seja influenciada de forma positiva de outras maneiras, por exemplo, através de um tratamento psicoterapêutico: descobrir o que provoca tensão, que fatores causam perturbação, o que se pode alterar, como mudar de atitude e lidar com essa situação de depressão.

Ou seja, é preciso saber o que é possível mudar em relação aos fatores externos e o que posso mudar em mim mesmo, a fim de lidar de forma adequada com essa situação. Fala-se, nesse caso, de uma reeducação psicológica para aprender a lidar com a doença.

Por que o tema depressão continua sendo um tabu na Alemanha, do qual praticamente não se fala? Consta que há um número duas vezes maior de mulheres afetadas do que de homens. É possível que a discrepância não seja tão grande, mas que os homens tenham mais dificuldade em admitir que estão com depressão?

Também acredito nisso. O homem, tradicionalmente, é quem alimenta a família, é aquele que traz o resultado da caça para a casa, que está no foco das atenções, tendo que ser forte. Penso que muitos homens sofrem de depressão, mas não admitem, porque não correspoderiam mais ao papel a eles delegado. Muitos encontram refúgio no álcool, o que é relativamente comum nos casos de depressão.

Na Alemanha, você encontra pessoas dizendo que venceram um infarto, um cateterismo ou até um câncer de próstata, mas dizer que venceu uma depressão ou uma psicose continua sendo tabu. Doenças de ordem psíquica continuam sendo um tabu, apesar das diversas campanhas criadas por profissionais psiquiátricos. O estigma da doença permanece.

Entrevista: Daphne Grathwohl (sv)
Revisão: Rodrigo Rimon

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