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Ser negro no Brasil mais que dobra chances de ser morto

11 de dezembro de 2017

Com foco em jovens, estudo do governo federal e da Unesco aponta que mulheres negras têm 2,2 vezes mais chances de serem mortas do que brancas. Situação é ainda mais crítica quando considerados ambos os sexos.

Familiares lamentam mortes em operação policial no Rio, em 2016
Familiares lamentam mortes em operação policial no Rio, em 2016Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

No Brasil, jovens negros correm um risco consideravelmente maior que brancos de serem mortos. Mulheres negras com idades entre 15 e 29 anos têm, em média, 2,19 mais chances de serem assassinadas do que as jovens brancas da mesma idade. Considerando os negros de ambos os sexos nessa faixa etária, o risco chega a ser quase três vezes maior (2,7) que o de jovens brancos.

Esse cenário da cor da pele negra aumentar as chances de morte é verificado em quase todo o país. Em alguns estados, como Alagoas, o risco é ainda maior: a chance de um jovem negro ser assassinado é 12,68 vezes superior à de um branco. No Rio Grande do Norte, uma negra corre oito vezes mais risco de ser assassinada do que uma branca. 

Há apenas uma exceção em todo o país: o Paraná, onde negros tanto do sexo masculino quanto do feminino ficam atrás dos brancos e brancas na média de homicídios.

As estatísticas fazem parte do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017, que foi divulgado nesta segunda-feira (11/12) pela Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O estudo contou com apoio da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo dados do Atlas da Violência 2017, mais da metade das 59.080 pessoas vítimas de homicídios em 2015 eram jovens (54,1%), dos quais 71% eram negros (pretos ou pardos), e 92% eram do sexo masculino.

Os estados que lideram essa discrepância entre o risco de homicídio enfrentados por jovens negros são Alagoas, Amapá, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe. Para as jovens negras, os riscos são maiores no Rio Grande do Norte, no Amazonas, na Paraíba, no Distrito Federal e no Ceará.

Desigualdade

Além de compilar os homicídios, o estudo também elaborou um índice de desigualdade entre jovens negros e negras e seus equivalentes brancos levando em conta dados como pobreza, frequência escolar, emprego, mortalidade por acidentes de trânsito.

Nesse ranking, os piores estados para um jovem negro são Alagoas, Ceará, Pará, Pernambuco e Roraima. Já os estados que mostram menos diferenças entre jovens negros e brancos  são Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul.

O Paraná, o único Estado onde os jovens brancos têm mais chances de morrer do que os negros, ficou em sétimo lugar nessa escala, tendo sua média de igualdade reduzida por ter apresentado mais discrepâncias nos dados de frequência escolar e emprego.

Em uma escala de 0 a 1 – quanto mais próximo de 1, mais desigualdade racial há no estado – Alagoas registrou um índice de 0,489. Já Santa Catarina apareceu com 0,209.

"Genocídio dos jovens negros"

Em relação a uma versão anterior do estudo, publicada em 2014 e que usou dados de 2012, houve um crescimento no risco de assassinato jovens negros. No índice anterior, as pessoas desse grupo tinham 2,5 mais chances de ser vítimas de homicídio do que os jovens brancos. Em três anos, esse número subiu para 2,7.

Para a Representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovit Noleto, os números "comprovam o preocupante genocídio dos jovens negros". Ela também apontou como "extremamente preocupante que as jovens negras tenham 2,19 vezes mais chance de morrer que as jovens brancas no Brasil".

Já o secretário Nacional de Juventude, Francisco de Assis Costa Filho, disse que "a violência no Brasil tem cor, raça, geografia e faixa etária”. "É necessária uma força-tarefa de toda a sociedade e dos governos federal, municipais e estaduais para tirar os jovens da vulnerabilidade, com ações afirmativas para a juventude, em especial para os jovens negros."

O mesmo relatório também abordou a vulnerabilidade à violência dos jovens em geral (brancos e negros) das 304 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. O ranking levou em conta homicídios, pobreza, frequência escolar em uma escala de 0 a 1 – quanto mais próximo de 1, mais o jovem está exposto à violência. 

Os estados que concentram mais municípios onde o índice de vulnerabilidade é muito alto são o Rio de Janeiro (cinco municípios), Pará (quatro) e Pernambuco (três).

Ao todo, o país tem 21 cidades com mais de 100 mil habitantes onde o índice aponta uma desigualdade muito alta entre brancos e negros. Outras 38 são classificadas como tendo desigualdade alta.

Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, foi apontado como o município com maior desigualdade: 0,616. Em seguida está Altamira (PA), com 0,610. Os municípios com menos desigualdade são São Caetano do Sul (SP), com 0,154, e Itatiba (SP), com 0,201. A região Nordeste concentra seis dos dez piores municípios para jovens de 15 a 24 anos no Brasil. 

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