Serviço secreto alemão acusado de ajudar americanos no Iraque
12 de janeiro de 2006A edição desta quinta-feira (12/01) do jornal Süddeutsche Zeitung, de Munique, e o programa Panorama, da rede alemã de tevê ARD, revelaram que pelo menos dois funcionários do BND teriam ficado em Bagdá após a invasão do Iraque por tropas norte-americanas, em março de 2003. Eles teriam abastecido soldados americanos com informações. A notícia causou sensação no país e deixou em apuros o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, que era o chefe da Casa Civil em Berlim na época.
A cooperação teria sido aprovado pelo então coordenador do serviço secreto na Chancelaria Federal, Ernst Uhrlau, e pelo ex-presidente do BND, August Hanning. O trabalho realizado pelos funcionários alemães teria sido ajudar na identificação de alvos para os bombardeios norte-americanos. O ministro Steinmeier confirma a permanência dos funcionários do serviço secreto em Bagdá após o início da guerra.
Em suas primeiras declarações, Steinmeier afirmou que o então governo de Gerhard Schröder nada sabia do trabalho do BND no país. Segundo o ministério de Relações Exteriores, as afirmações não passaram de um mal-entendido.
Decisão governamental
Um alto funcionário do serviço secreto alemão – que prefere permanecer no anonimato – afirmou ao Süddeutsche Zeitung que os dois funcionários teriam se hospedado na representação francesa depois que o consulado alemão foi fechado, três dias antes do início do conflito. Eles teriam passado informações para a sua central, com a cooperação da Agência de Inteligência e Defesa do Serviço Militar Secreto Americano (DIA).
Segundo o mesmo funcionário, a presidência do BND teria decidido – depois de uma conversa com a Chancelaria Federal – prosseguir a colaboração com os norte-americanos durante a guerra. A tarefa dos agentes alemães seria informar a localização de prédios que não poderiam ser bombardeados, como hospitais, escolas e embaixadas.
Informações importantes para ataques
Um ex-funcionário do Departamento de Defesa norte-americano, que também prefere manter-se no anonimato, entrentato, descreveu o papel dos agentes de maneira diferente ao programa Panorama.
"Eles nos davam apoio direto, nos forneciam informações de como atingir os alvos." O trabalho prestado pelos alemães teria tido envolvimento, inclusive, no processo de captura do ditador iraquiano Saddam Husseim.
Conforme informações do funcionário do Pentágono, os dois agentes teriam ido, a pedido da DIA, investigar um prédio no bairro de Mansur, em Bagdá. Seu trabalho de espionagem revelou a presença de diversas limusines pretas no local.
Algum tempo depois, um avião norte-americano teria bombardeado a região, destruindo dois quarteirões e matando pelo menos 12 civis. "Seu trabalho foi muito importante para o bombardeio neste dia", concluiu o informante americano.
Resposta do BND
O porta-voz do BND, Philip Lechtape, admite a permanência de dois agentes no país, mas garante que eles "estavam em missão oficial somente para coletar, avaliar e encaminhar as informações ao governo alemão".
O trabalho do serviço secreto seria enviar a Berlim "informações sobre o desenvolvimento da guerra e suas conseqüências". Mas de nenhuma forma os dois agentes teriam "disponibilizado documentos sobre alvos ou coordenadas para bombardeios", afirma Lechtape.