Com isso, vai a cerca de 20 cifra de mortos no local. Vítimas teriam sido imprensadas por multidão. Ex-presidente Trump elogia Talibã e chama situação de "maior humilhação em política externa da história" dos EUA.
Anúncio
Sete civis afegãos morreram em meio à multidão que se formou no entorno do aeroporto internacional de Cabul, no meio do caos dos que tentam fugir da tomada de poder pelos talibãs, informaram autoridades britânicas neste domingo (22/08).
O Ministério da Defesa do Reino Unido informou através de nota que "as condições no terreno continuam extremamente desafiadoras", e que está sendo feito "tudo o que é possível para gerir a situação da forma mais segura possível".
"Nossos pensamentos sinceros estão com as famílias dos sete civis afegãos que infelizmente morreram em multidões em Cabul", acrescentou o Ministério da Defesa britânico.
Desde que os militantes islâmicos entraram em Cabul no fim de semana passado,
milhares de pessoas tentaram embarcar em voos para o exterior. Até a sexta-feira, ao menos 12 pessoas haviam morrido em confrontos no aeroporto e em seu entorno.
Pessoas imprensadas
Um correspondente da emissora Sky News no aeroporto disse que dezenas de milhares de afegãos se aglomeravam no sábado no lugar quando pessoas foram imprensadas contra barricadas.
A Sky News mostrou imagens de soldados sobre um muro tentando puxar os feridos da multidão e molhando pessoas com uma mangueira para evitar que fiquem desidratadas.
O aeroporto tem sido o ponto de encontro de milhares de pessoas que tentam fugir dos talibãs, que invadiram Cabul há uma semana depois de um avanço relâmpago tomou o país.
"Ameaças à segurança"
Em boletim publicado no sábado, a Embaixada dos Estados Unidos no Afeganistão tinha instado os cidadãos americanos no Afeganistão a evitarem deslocar-se rumo ao aeroporto de Cabul, devido a "potenciais ameaças à segurança". Um funcionário da Casa Branca, citado pela agência de notícias AFP, informou que o presidente americano, Joe Biden, discutiu o tema com funcionários da administração.
"Aconselhamos os cidadãos americanos a não viajarem para o aeroporto e a evitarem os portões do aeroporto neste momento, a menos que recebam instruções individuais de um funcionário do governo dos EUA", escreveu a embaixada.
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, se recusou a dar mais informações sobre a natureza das ameaças, dizendo apenas que a situação na capital afegã é muito "flutuante" e que os riscos podem evoluir "de hora a hora".
"Continuamos a ter comunicações regulares com os líderes talibãs em Cabul, incluindo os responsáveis pelos pontos de passagem no aeroporto", disse o porta-voz à imprensa.
Os Estados Unidos retiraram cerca de 17 mil pessoas do país desde que a operação de resgate começou, em 14 de agosto, incluindo 2.500 cidadãos americanos, disse no sábado o subdiretor de logística do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, general Hank Taylor.
Anúncio
Trump elogia talibãs
O presidente americano foi alvo de críticas pela situação caótica nas operações de resgate.
Em comício realizado neste sábado no Alabama, o ex-presidente Donald Trump acusou Biden de "incompetência grosseira", no que classificou de "a maior humilhação em política externa da história" dos EUA, elogiando os talibãs, que considerou "grandes negociadores" e "combatentes duros".
Foi sob a liderança de Trump que os EUA assinaram um acordo com o Talibã, em fevereiro de 2020, ao abrigo do qual Washington aceitou retirar as forças militares do Afeganistão.
Em troca, os talibãs se comprometeram a iniciar negociações de paz com o governo afegão, a abster-se de atacar as forças americanas e os seus interesses no Afeganistão e a cortar todos os laços com a Al-Qaeda.
Os talibãs conquistaram Cabul no dia 15 de agosto, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares dos EUA e da Otan.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na Otan.
md (Lusa, AFP, Reuters)
A intervenção dos EUA no Afeganistão
Há 20 anos, após o 11 de Setembro, os EUA enviavam seus primeiros soldados ao país. Reveja os principais acontecimentos desde então: da operação Liberdade Duradoura à retomada do país pelos fundamentalistas do Talibã.
Foto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
Operação Liberdade Duradoura
Em outubro de 2001, menos de um mês após aos ataques de 11 de Setembro, o presidente George W. Bush lança no Afeganistão a operação Liberdade Duradoura, depois que o regime Talibã se recusa a entregar Osama bin Laden. Em semanas, os americanos derrubam o Talibã, que ocupava o poder desde 1996. Cerca de mil soldados são enviados ao país em novembro, aumentando para 10 mil um ano depois.
Foto: picture-alliance/DoD/Newscom/US Army Photo
Talibã se reagrupa
A invasão do Iraque em 2003 se torna a maior preocupação dos EUA e desvia a atenção do Afeganistão. O Talibã e outros grupos islamistas se reagrupam em seus redutos no sul e leste do Afeganistão. Em 2008, Bush concorda em enviar soldados adicionais ao país em meio a pedidos por uma estratégia efetiva contra o Talibã. Em meados de 2008, há 48.500 soldados americanos no país.
Foto: picture alliance/Photoshot
Obama é eleito
Em sua campanha, Barack Obama promete encerrar as guerras no Iraque e no Afeganistão. Mas nos primeiros meses de sua presidência, em 2009, há um aumento no número de soldados no Afeganistão para cerca de 68 mil. Em dezembro, o número cresce ainda mais, para 100 mil, com o objetivo de conter o Talibã e fortalecer instituições afegãs.
Foto: AP
Morte de Bin Laden
Osama bin Laden, líder da Al Qaeda que esteve por trás dos ataques de 11 de Setembro, é morto em maio de 2011 em seu esconderijo, durante uma operação de forças especiais americanas no Paquistão.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo com Afeganistão
O Afeganistão assina em setembro de 2014 um acordo bilateral de segurança com os EUA e texto similar com a Otan: 12.500 soldados estrangeiros, dos quais 9.800 norte-americanos, permaneceriam no país em 2015. Mas a situação de segurança piora. Em meio à ressurgência do Talibã, Obama diminui a velocidade de retirada em 2016, afirmando que 8.400 soldados permaneceriam no Afeganistão.
Foto: Reuters
Bombardeio de hospital em Kunduz
Em outubro de 2015, no auge do combate entre insurgentes islâmicos e o Exército afegão, apoiado por forças da Otan, um ataque aéreo dos EUA atinge um hospital dirigido pela organização Médicos Sem Fronteiras na província de Kunduz. O ataque deixa 42 mortos, inclusive 24 pacientes e 14 membros da ONG.
Foto: Getty Images/AFP
"Mãe de todas as bombas"
Em abril de 2017, forças americanas atingem posições do "Estado Islâmico" (EI) no Afeganistão com a maior bomba não nuclear já usada pelo país em combate, matando 96 jihadistas. Em julho, é morto o novo líder do EI no país.
Foto: Reuters/U.S. Department of Defense
"Estamos diante de um impasse"
Em fevereiro de 2017, um relatório do governo dos EUA mostra que as perdas entre as forças de segurança afegãs subiram 35% em 2016 em relação ao ano anterior. Pouco depois, o general americano à frente das forças da Otan, John Nicholson (esq., ao lado do secretário da Defesa John Mattis), alerta que precisa de mais milhares de soldados: “Acredito que estamos diante de um impasse."
Foto: Reuters/J. Ernst
Trump anuncia nova estratégia
Em 21 de agosto de 2017, o presidente Donald Trump anuncia nova estratégia para o Afeganistão, fazendo da caça a terroristas a principal prioridade. Trump não especifica um aumento do número de soldados como esperado, mas diz que os objetivos incluem "obliterar" o Estado Islâmico, "esmagar" a Al Qaeda e impedir o Talibã de dominar o Afeganistão.
Foto: picture-alliance/Pool via CNP/MediaPunch/M. Wilson
EUA negociam com rebeldes
Em julho de 2018, sob o governo do presidente Donald Trump, os EUA entram em negociação com o Talibã, sem envolver o governo afegão eleito ou os parceiros da Otan.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/Qatar Ministry of Foreign Affairs
Trump cancela encontro com Talibã
Em setembro de 2019, o presidente Trump cancela na última hora uma reunião marcada em sigilo com líderes do Talibã e do Afeganistão, após o grupo islamista assumir a autoria de um ataque em Cabul que matou um soldado americano e outras 11 pessoas.
Foto: Getty Images/M. Wilson
EUA e Talibã assinam acordo de paz
Em fevereiro de 2020, sob o regime Trump, os governos dos EUA e do Afeganistão anunciam a retirada completa das tropas americanas e de outros países da Otan. O pacto assinado pelo negociador especial dos EUA para a paz, Zalmay Khalilzad, e pelo líder político talibã mulá Abdul Ghani Baradar, prevê que o número de militares estrangeiros seria reduzido gradualmente, ao longo de 14 meses.
Foto: AFP/G. Cacace
Biden anuncia retirada total das tropas
Em 14 de abril de 2021, o presidente Joe Biden comunica à população americana que a guerra mais longa do país terá fim, com as tropas dos EUA e da Otan se retirando inteiramente do Afeganistão até 11 de setembro, 20º aniversário dos ataques terroristas em Nova York.
Foto: Andrew Harnik/AFP/Getty Images
EUA e Otan iniciam retirada
EUA e Otan iniciam formalmente, em 1º de maio de 2021, a retirada de todas as suas tropas do Afeganistão. A previsão era retirar até 11 de setembro entre 2.500 e 3.500 soldados americanos e cerca de outros 7 mil soldados da Otan. Estima-se que os EUA tenham gasto mais de 2 trilhões de dólares no país, em 20 anos, de acordo com o projeto Costs of War da Universidade Brown.
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Americanos entregam base ao governo afegão
Em 2 de julho de 2021, tropas dos EUA partem da base aérea de Bagram, ponto focal da guerra, e entregam o local ao governo afegão. Permanecem no país asiático alguns poucos soldados, numa pequena base na capital Cabul.
Foto: Rahmat Gul/AP/picture alliance
Talibã toma capitais regionais
Aproveitando o vácuo deixado pela retirada das tropas de paz internacionais do Afeganistão, guerrilheiros do Talibã tomam, no inicio de agosto de 2021, capitais regionais como Sheberghan, Kunduz e Zaranj, num duro golpe para o governo afegão, que lutava para defender as cidades mais importantes da ofensiva do grupo extremista.
Foto: Abdullah Sahil/AP Photo/picture alliance
EUA retiram seus cidadãos do Afeganistão
Em meados de agosto, Estados Unidos e outros países começam a retirar seus cidadãos do Afeganistão, enquanto forças militares americanas se esforçam para proteger e manter funcionando o aeroporto de Cabul. Com todos os voos comerciais cancelados, milhares de afegãos invadem a pista do aeroporto desesperados, tentando embarcar em qualquer aeronave que fosse decolar.
Foto: Wakil Kohsar/AFP
Talibã ocupa palácio presidencial
O Talibã toma a capital Cabul, em 15 de agosto de 2021, dissolvendo o governo e estendendo seu controle sobre todo o Afeganistão. A capital era um dos últimos redutos ainda sob a autoridade do presidente Ashraf Ghani. Assim como ocorreu com dezenas de outras cidades, ele é tomada sem resistência efetiva das tropas governamentais. Ghani foge do país.
Foto: Zabi Karim/AP/picture alliance
Biden defende retirada das tropas
Um dia depois da tomada de Cabul, o presidente dos EUA, Joe Biden, defende a decisão de pôr fim à presença americana no Afeganistão e condena líderes e políticos afegãos que abandonaram o país, abrindo caminho para a tomada de poder pelo Talibã. Biden culpa ainda o ex-presidente Donald Trump, por ter fortalecido o grupo rebeldes e deixado os talibãs em sua melhor situação militar desde 2001.