Sete razões para a queda da popularidade de Dilma
6 de agosto de 2015A popularidade da presidente Dilma Rousseff caiu para o pior nível já alcançado por um chefe de Estado brasileiro desde que o Instituto Datafolha começou essa medição.
Na pesquisa divulgada nesta quinta-feira (06/08) pelo jornal Folha de S. Paulo, o governo Dilma é reprovado por 71% dos entrevistados. Apenas 8% consideram o governo bom ou ótimo.
De acordo com o Datafolha, 66% dos entrevistados defendem que o Congresso abra um processo de impeachment da presidente, mas apenas 38% acreditam que Dilma será afastada do cargo.
Até agora, o recordista de impopularidade entre os presidentes avaliados desde 1990 era Fernando Collor de Mello, que às vésperas de seu impeachment, em setembro de 1992, tinha 9% de aprovação e 68% de reprovação.
A DW Brasil lista as sete principais razões que explicam esse recorde negativo de Dilma.
Mau desempenho da economia
Quando o bolso dos cidadãos reclama, fica difícil manter em alta a popularidade de qualquer presidente. E, no Brasil, a situação da economia está especialmente difícil – o país caminha a passos largos para a recessão. "Tem muita gente desesperada e insatisfeita", comenta o cientista político David Fleischer, da UnB.
O Produto Interno Bruto (PIB) está caindo – recuou 0,2% no primeiro trimestre, e o governo espera queda de 1,2% no ano. A inflação, que diminui o poder de compra dos salários, está em alta, com as previsões se aproximando dos 10% ao ano. A taxa de desemprego sobe a cada mês, e especialistas já falam que ela pode alcançar os dois dígitos nos próximos meses.
Tudo isso contrasta fortemente com a situação herdada por Dilma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No governo Lula, o PIB cresceu, o desemprego caiu, e a inflação estava controlada. O bom desempenho da economia impulsionou a popularidade do ex-presidente.
Escândalo de corrupção na Petrobras
"Dilma é uma pessoa honrada e não está envolvida em corrupção", afirmou recentemente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E a própria presidente declarou à DW: "Um dos ônus [de combater a corrupção] é acharem que nós é que a fazemos."
Mas, honradez à parte, quando o partido da presidente é apontado como um dos principais beneficiários de um esquema milionário de corrupção numa estatal do porte da Petrobras, é impossível essa situação não respingar na imagem e não se refletir na popularidade do mandatário, seja ele quem for.
E o caso de Dilma tem ainda um agravante: a ligação dela com a Petrobras. A petrolífera é subordinada ao Ministério de Minas e Energia, que Dilma ocupou de 2003 a 2005. Além disso, ela foi presidente do conselho de administração da Petrobras de 2003 a 2010. Quando já era presidente, Dilma escolheu uma pessoa muito próxima para comandar a estatal, Graça Foster, que só deixou o cargo com o início do atual escândalo.
"Ela foi ministra de Minas e Energia, da Casa Civil e depois presidente. Muita gente acha impossível que ela não soubesse o que acontecia", comenta Fleischer, que também destaca não haver sinais de que Dilma tenha lucrado pessoalmente com a corrupção.
Dificuldades na comunicação
Calada, gerentona, durona, inflexível – esses são alguns dos adjetivos que costumam acompanhar a presidente. Dilma está muito longe do estilo carismático e próximo do povo cultivado pelo ex-presidente Lula. No Brasil, carisma faz a diferença para um prefeito, governador ou presidente, e um estilo como o de Dilma não ajuda a melhorar a popularidade de ninguém.
"O governo tem um grave problema de comunicação", comenta o analista político Gaspard Estrada, ligado ao Instituto de Ciências Políticas de Paris. Dilma não gosta de dar entrevistas e passou meses em silêncio. Só há pouco mudou de atitude, falando inicialmente com alguns veículos estrangeiros – entre eles a DW – e depois com a imprensa brasileira.
"Sem declarações, não há como a imprensa repercutir o ponto de vista do governo. Assim o ambiente parece dominado por opiniões da oposição, que sempre tem interesse em falar", diz Estrada.
Já Lula falava regularmente com a imprensa no seu segundo mandato, após um período de silêncio no primeiro. "Lula também ouvia mais os marqueteiros. Dilma é muito convencida de que sabe tudo e que está sempre certa. Marqueteiro tem a vida difícil com ela", diz Fleischer.
Crise política
A crise política pode não ter um efeito direto sobre a popularidade da presidente, mas indiretamente influencia. Sem diálogo com os líderes do Congresso, o governo não consegue aprovar as políticas que deseja para recolocar o país nos trilhos. Como resultado, a economia não deslancha, e o desempenho econômico é crucial para a aprovação de qualquer presidente.
A crise política tem ainda outro efeito: lideranças políticas, mesmo dentro do PT, começam a se afastar da presidente, que fica cada vez mais isolada. "Nenhum político quer se associar seu nome a um presidente com tanta reprovação", comenta Fleischer.
Desgaste do PT no governo
Ser governo desgasta mais a imagem de um partido governante do que ser oposição – essa é uma regra não escrita da política. O PT já está há 13 anos no Palácio do Planalto, e Dilma participa do governo desde o primeiro dia, inicialmente como ministra de Lula e mais tarde como presidente. É natural que parte da queda da popularidade venha do desgaste de ser governo.
Polarização política
O Brasil saiu tão polarizado da última eleição, vencida por Dilma com uma pequena margem, que uma boa parte da população vai simplesmente ser contra a presidente, não importa o que ela faça. E a polarização estimula os movimentos contrários à presidente a sair para as ruas. Protestos em larga escala, como os vistos neste ano no Brasil, também tem um efeito negativo na popularidade de Dilma.
Movimento cíclico
É incomum, em qualquer parte do mundo, um presidente manter um alto nível de popularidade ao longo de um longo período. Mesmo no Brasil, é raro o caso de um presidente que tenha se mantido sempre popular – Lula é exceção e não regra. O sobe e desce da popularidade têm também, portanto, um elemento cíclico natural.
"Raros são os presidentes que não enfrentam uma queda de popularidade. Dilma saiu de um patamar muito alto em 2013, era esperado que o número fosse cair. Atípicos mesmo são presidentes como Lula, que conseguem manter os números altos por tanto tempo", comenta Estrada.
O cientista político Frédéric Louault, da Universidade Livre de Bruxelas, concorda. "Esses números de popularidade, apesar de chamativos pela velocidade com que se consolidaram, muitas vezes são cíclicos, mesmo em outros países da região."
Ele lembra ainda outro aspecto muito característico da democracia brasileira: a centralização na figura do presidente, que passa a ser o responsável por tudo o que acontece, ainda que não governe sozinho o país nem possa resolver todos os problemas sozinho.
"No Brasil, o povo tende a concentrar todas as suas expectativas no presidente, que é uma figura que alimenta a imaginação. Isso é bom para o presidente quando as coisas vão bem, já que as pessoas vão ligar esse bom momento ao governo que está no poder. Mas, quando algumas coisas vão mal, o presidente é responsabilizado por tudo que está acontecendo", afirma Louault.