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Cultura

Diana Fong (sv)21 de outubro de 2008

Os principais fundos de fomento à cultura na Alemanha são mantidos basicamente com recursos estatais. Mesmo assim, o setor pode sofrer com a atual crise financeira, pois empresas privadas também investem em cultura.

Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank: 600 obras de arte para o Museu Städel, de FrankfurtFoto: picture-alliance/dpa

Quando o banco Lehman Brothers faliu em setembro, não foram apenas os mercados financeiros que sentiram os efeitos da crise. Nos EUA, vários museus, financiados por fundos de investimento, tremeram em suas bases. Em 2007, o próprio Lehman Brothers havia destinado nada menos que 29 milhões de euros ao setor cultural, patrocinando uma retrospectiva de Brice Marden no MoMA de Nova York e uma mostra de Jackson Pollock no Guggenheim.

Mas também na Europa os recursos de grandes bancos e empresas costumam fluir para a cultura, como por exemplo nos casos do Museu Städel, de Frankfurt, ou da Galeria Nacional de Londres e do Tate Modern. No caso do Städel, que mantém agora uma nova parceria com o Bank of America, ainda não puderam ser sentidos os efeitos da crise, diz a porta-voz Dorothea Apovnik. "Agora temos que nos esforçar muito para atrair ainda mais a iniciativa privada", diz Apovnik, ao ser referir a parcerias público-privadas, tão comuns nos EUA, por exemplo, mas ainda raras na Alemanha.

Apoio à arte como estratégia de marketing

No país, o empresariado está descobrindo, aos poucos, que o apoio às artes é um fator positivo para manter a marca registrada na cabeça do consumidor, diz Michael Hutter, economista especializado em questões culturais do Centro de Pesquisa em Ciências Sociais (WBZ), sediado em Berlim.

"Isso vale principalmente para empresas que comercializam produtos de pouca visibilidade, como seguradoras ou bancos", diz Hutter. O presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, deu provas disso quando, na semana passada, gerou uma boa dose de publicidade para o banco ao divulgar os recursos que possibilitaram um empréstimo de 600 obras de arte pelo Museu Städel, que por sua vez já dispõe de uma coleção permanente considerável de pinturas e esculturas, tanto de mestres renascentistas quanto de artistas contemporâneos.

A iniciativa de Ackermann, há de se lembrar, foi planejada muito antes que o caos econômico se instalasse nos mercados financeiros. Na opinião do porta-voz do banco, Frank Hartmann, o apoio ao museu veio, mesmo assim, na hora certa, pois o setor bancário, segundo ele, nunca precisou tão desesperadamente melhorar sua imagem perante a opinião pública – fervendo de raiva, e com razão, diante da bagunça criada pelos bancos de investimento.

De acordo com Hartmann, a crise financeira não irá afetar nenhum compromisso de patrocínio assumido pelo Deutsche Bank anteriormente, como por exemplo o apoio à Filarmônica de Berlim. "Ainda é cedo demais para especular se os investimentos em cultura irão diminuir em conseqüência da crise a partir do ano de 2010", analisa Hartmann.

Menos recursos

Fato é que a iniciativa privada muito provavelmente terá, no futuro, menos recursos disponíveis para investir em cultura, acredita Maren Otten, assessora para questões de apoio à cultura da Confederação da Indústria Alemã (BDI).

Óleo sobre tela de Ilia Repin, parte da mostra 'Bonjour Russland': apoio da E.ONFoto: Staatliches Russisches Museum, St. Petersburg

No ano passado, por exemplo, a popularíssima e enorme exposição Bonjour, Russland (Bom dia, Rússia), com obras de grandes mestres franceses e russos, foi patrocinada pela gigante de energia E.ON. "Este é o tipo de projeto que pode estar fadado a não mais acontecer", diz Otten. Mesmo assim, acredita a especialista, o impacto da crise sobre as artes cênicas e visuais deverá ser relativamente brando.

Europa e EUA: modelos distintos

Na Alemanha, o suporte financeiro para os setores de educação e cultura vem basicamente dos governos federal, estadual e municipal. Os recursos públicos representaram 94% de todo o orçamento destinado às artes no país – uma soma de mais de oito bilhões de euros em 2007. Os recursos da iniciativa privada e doações individuais ou de fundações contribuem com o resto, de acordo com os dados fornecidos pelo BDI.

Nos EUA, em 2006, a National Endowment for the Arts (agência mantida pelo governo norte-americano para o apoio às artes em todo o país) destinou um montante de apenas 94 milhões de euros à cultura. Isso significa que o apoio da iniciativa privada é essencial à vida cultural nos EUA, fazendo com que a cultura só aconteça graças ao apoio de empresas com bolsos cheios e patrocinadores saudáveis.

O que faz, no entanto, com que a reforma de uma casa de ópera ou uma competição de design entre novos talentos seja vulnerável quando a conjuntura dá sinais negativos. "Quando uma empresa tem que conter despesas, essas obrigações voluntárias são as primeiras a serem eliminadas", confessa Hutter.

Estado que paga pela cultura

A diferença, acredita ele, está também na mentalidade nos dois países. Enquanto os norte-americanos esperam que as empresas dêem algo de volta à sociedade devido aos lucros que obtêm, os alemães acham que os fundos de fomento alimentados pelo Estado são um retorno dos altos impostos pagos pelo cidadão.

Hutter, que vive em Berlim, vê, no entanto, uma desvantagem quando os governos pagam pela cultura: o perigo de haver um excesso de instituições culturais e serviços, que podem se mostrar ineficientes ao gastar o dinheiro do cidadão. "Não há nenhum país no mundo com tamanha densidade em artes cênicas como a Alemanha. Veja o caso de Berlim: temos pelo menos três casas de ópera e a cidade está falida", alfineta o economista.

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