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Setor de óleo e mineração enfrenta dificuldade para recrutar

Stuart Braun
23 de janeiro de 2023

Profissionais qualificados vêm priorizando empresas que atuam com sustentabilidade. Área de energia limpa deve gerar mais de 10 milhões de vagas até 2030.

Dois trabalhadores montam panéis solares
Fórum Mundial Econômico prevê que as empresas de energia renovável gerem 10,3 milhões de novos empregos até 2030Foto: Cavan Images/imago images

Enquanto empresas dos setores de mineração e combustíveis fósseis em todo o mundo cortam vagas e lutam para atrair profissionais qualificados, o oposto tem acontecido no setor de energia limpa. De acordo com um estudo divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, espera-se que as empresas de energia renovável gerem cerca de 10,3 milhões de novos empregos até 2030.

A indústria de energia limpa tem atraído uma ampla base de talentos qualificados para trabalhar em eficiência elétrica, geração de energia e veículos elétricos, por exemplo. Enquanto isso, a projeção do Fórum prevê a perda de cerca de 2,7 milhões de empregos no setor de combustíveis fósseis.

Para manter o ritmo e continuar a preencher seus bancos de talentos, as empresas tradicionais de combustíveis fósseis precisarão ser mais criativas com seus recrutamentos, segundo Ryan Carroll, diretor regional para Austrália e Nova Zelândia da empresa Airswift, especializada em recrutamento global para a indústria energética.

"O setor de energia renovável está contratando cinco vezes mais pessoas de outros setores do que os setores tradicionais de petróleo e gás", disse Carroll.

Um relatório do World Resources Institute – um think tank ambiental com sede em Washington – apontou que cada milhão de dólares investido em setores verdes cria muito mais empregos do que o mesmo montante investido em indústrias "insustentáveis", como a mineração. O investimento na restauração de ecossistemas gera 3,7 vezes mais empregos do que a produção de petróleo e gás, por exemplo.

Grande transição de empregos

Em seu relatório de 2022 do Global Energy Talent Index (Geti – Índice de Talento para Energia Global, na tradução livre), a recrutadora Airswift entrevistou 10 mil profissionais do setor de energia em todo o mundo. O resultado mostrou que o clima e o meio ambiente são fatores relevantes para a maioria dos trabalhadores quando decidem entrar ou sair de uma empresa de energia.

Esses profissionais citaram preocupações ambientais, sociais e de governança como um dos principais motivos para mudar de emprego, segundo Carroll. Apenas 9% dos entrevistados relataram que mudariam de outros setores para uma indústria extrativa como a mineração.

À medida que as empresas de energia renovável recrutam de uma gama cada vez variada de cientistas, engenheiros e especialistas, elas passam a oferecer também ambientes de trabalho mais diversificados.

"O resultado disso é que você tem uma diversidade real em termos de gênero e etnia", disse Carroll. Ele acrescentou que esse tipo de "diversidade mental" é menos presente nas empresas tradicionais de petróleo e gás ou mineração.

O especialista em recrutamento afirmou ainda que uma diferença salarial cada vez menor entre a indústria de combustíveis fósseis ou de mineração e os empregos no setor verde também tem tornado atraente para os profissionais a transição para as energias renováveis.

Isso se deve ao crescente investimento em energia limpa e à necessidade da indústria renovável de buscar constantemente tecnologia de ponta. "O setor representa mudança, inovação", disse Carroll. "E oferece o sonho de que você pode realmente causar impacto em algo."

Sob o Acordo Verde Europeu, as políticas para zerar as emissões de carbono e limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius devem criar até 2 milhões de empregos verdesna União Europeia (UE) até 2050. Nos Estados Unidos, a Lei de Redução da Inflação aprovada em julho de 2022 vai "criar milhões de bons empregos renumerados em energia limpa", de acordo com o think tank Climate Power.

O cenário é similar na Austrália, segundo Carroll. O governo australiano eleito em maio representa um viés mais pró-clima e deu sinal verde para um aumento maciço no investimento em energias renováveis – segundo o especialista, uma medida que tem melhorado as perspectivas de longo prazo para os trabalhadores na Austrália.

"Quando você mudava de carreira para um emprego em energias renováveis há dois ou três anos, estava basicamente apostando", disse Carroll, que explicou que isso ocorria porque as empresas emergentes em energia limpa tinham fundos limitados. "Agora há diversos projetos planejados que dão aos engenheiros, em particular, estabilidade de trabalho e desenvolvimento de carreira."

Graduados rejeitam setor extrativista

Com o cenário energético em meio a mudanças drásticas e rápidas, estudantes e recém-formados também parecem reticentes em buscar uma carreira nas indústrias extrativas tradicionais. As matrículas em engenharia de mineração caíram 50% no Canadá e em partes da Europa nos últimos cinco a sete anos, por exemplo.

Na Austrália – um dos maiores exportadores de minério de ferro e carvão no mundo – os empregos no setor de mineração são de longe os mais bem pagos do país, mas as matrículas em graduações relacionadas estão "diminuindo", disse a ministra para Recursos da Austrália, Madeleine King. "Uma grande barreira para atrair esses trabalhadores é a atitude que muitos jovens australianos têm em relação à indústria extrativista", disse King recentemente a representantes do setor.

Qualificações na área de mineração serão necessárias para acessar os minérios raros imprescindíveis para uma transição para a energia verde, mas muitos enxergam a indústria extrativista de forma negativa.

"A mineração foi incorporada à consciência pública como uma indústria suja, nada inovadora, desatualizada e prejudicial ao meio ambiente", escreveram os autores poloneses de um estudo de 2021 intitulado A New Face o Mining Engineer (A nova face da engenharia de mineração, na tradução livre). A Polônia é outro país onde as matrículas em cursos de engenharia de mineração diminuíram 50% entre 2015 e 2019, de acordo com o estudo.

Mesmo que esse abalo de reputação pudesse ser resolvido, a escassez de profissionais qualificados em mineração deve se aprofundar à medida que o uso de carvão é eliminado em todo o mundo. Por outro lado, a empregabilidade no setor de energia renovável deve crescer ainda mais.

Na Austrália, o governo comprometeu-se a abastecer 82% da rede de energia a partir de fontes limpas até 2030. Segundo especialistas, a demanda por mão de obra no setor renovável australiano é tão grande que a iminente escassez de profissionais qualificados pode prejudicar sua expansão.

Escassez de profissionais qualificados em mineração deve se aprofundar à medida que o uso de carvão é eliminadoFoto: Saadeqa Khan/DW

A mineração pode se tornar verde?

Na tentativa de se manterem atrativas no mercado de trabalho, as empresas do setor de mineração têm disseminado um discurso com credenciais ecológicas para atrair mais profissionais qualificados. Como observou a ministra australiana King, a mineração de materiais estratégicos, como lítio e cobalto, é essencial para tecnologias de energia limpa, incluindo energia solar e baterias.

No entanto, as críticas à mineração verde ainda assim podem afastar os profissionais preocupados com o meio ambiente. Meadhbh Bolger, do ramo europeu da ONG Friends of the Earth, disse que embora haja uma mudança para uma chamada "mineração inteligente" e sustentável de baixo impacto, ela acredita que mineração verde está perpetuando o consumo excessivo que está impulsionando a crise climática.

Bolger é coautora de um relatório de 2021 sobre o mito da mineração verde. Ela disse que a lógica da extração inesgotável e do crescimento econômico contínuo precisa ser combatida, inclusive entre empresas de energia limpa que se apresentam como paladinos da ação climática.

Ainda assim, as empresas tradicionais de petróleo e gás têm divulgado seus movimentos em direção à energia limpa para atrair talentos. A petroquímica Lummus Technologies está usando matérias-primas renováveis de base biológica para criar produtos químicos, polímeros e combustíveis como parte de um modelo de "economia circular", conforme relatou o presidente-executivo da empresa, Leon de Bruyn, no relatório Geti da Airswift.

"Abraçar a transição energética agora é fundamental para atrair uma nova geração de talentos", acrescentou de Bruyn.     

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