A aposta se mostrou acertada: ao vencer pleito que ele mesmo antecipou, primeiro-ministro tem caminho aberto para pôr em prática seu projeto de mudar Constituição pacifista japonesa.
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O primeiro-ministro Shinzo Abe obteve neste domingo (22/10), segundo a boca de urna, uma avassaladora vitória nas eleições legislativas japonesas, o que abre caminho para que ele se torne o chefe de governo há mais tempo no poder na história do país.
Claro favorito em todas as pesquisas, Abe convocou as eleições no início do mês de forma antecipada com o pretexto de fortalecer seu governo para continuar implementando seu programa econômico e lidar com a ameaça da Coreia do Norte.
As projeções são de que o Partido Liberal Democrata (PLD), de Abe, obterá entre 253 e 300 cadeiras na Câmara dos Deputados. Com os assentos do partido aliado Novo Komeito, espera-se que o premiê ultrapasse confortavelmente a meta de 310 deputados, chamada supermaioria.
Uma supermaioria – ou dois terços do plenário – é necessária para alterar a Constituição, algo que Abe tem em seus planos. Em sua mira está o artigo nono, que determina que o Japão renuncia explicitamente à guerra.
Japoneses aumentam a procura por abrigos nucleares
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Sob o art. 9° da Constituição, o Japão renunciou para sempre ao direito de declarar guerra e baniu as Forças Armadas, embora sucessivos governos desde a Segunda Guerra tenham interpretado que o artigo permite uma força exclusivamente para autodefesa.
Tropas japonesas participaram, por exemplo, de operações internacionais de manutenção da paz, assim como de missões de reconstrução – sem combate – no Iraque de 2004 a 2006. Elas atuam também em situações de catástrofe, como o tsunami de 2011.
Pedidos para mudar a Constituição, que foi escrita e imposta pelos americanos em 1946, têm se tornado mais frequentes no últimos anos e ganharam ainda mais força com as recentes ameaças da Coreia do Norte. Muitos japoneses acreditam que a carta magna está defasada e não reflete as atuais circunstâncias geopolíticas.
Uma pesquisa de opinião pública conduzida pela agência de notícias Kyodo News, poucos dias antes do 70° aniversário da Constituição, mostrou que 49% dos entrevistados acreditavam que o artigo precisa ser reformado, superando os 47% que se opõem a qualquer mudança. Quando Abe assumiu o cargo, em dezembro de 2012, 51% da população eram contra tal mudança constitucional, e 45% a favor.
A vitória permitirá a Abe manter-se na chefia do governo até 2021, se conquistar também a presidência do Partido Liberal Democrata no próximo verão.
O envolvimento em escândalos de favorecimento ilícito afetou a popularidade do primeiro-ministro, exemplificada na derrota histórica do partido nas eleições de Tóquio, em julho, perante a legenda da carismática governadora Yuriko Koike.
Diante de tal cenário, Abe, de 63 anos, decidiu dissolver a Câmara dos Deputados mais de um ano antes da data prevista para o escrutínio. Cem milhões de eleitores foram chamados a renovar as 465 cadeiras da Casa.
Ataques às duas cidades japonesas em 1945 são os únicos casos de emprego de armas atômicas numa guerra.
Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images
O primeiro ataque
Em 6 de agosto de 1945, o avião Enola Gay lançou, sobre Hiroshima, a primeira bomba nuclear da história. A bomba carregava o inocente apelido de "Little Boy". A cidade tinha então 350 mil habitantes. Um em cada cinco morreu em questão de segundos. Hiroshima foi praticamente varrida do mapa.
Foto: Three Lions/Getty Images
O Enola Gay
O ataque a Hiroshima estava planejado para acontecer em 1 de agosto de 1945, mas teve que ser adiado devido a um tufão. Cinco dias depois, o Enola Gay partiu com 13 tripulantes a bordo. A tripulação só ficou sabendo durante o voo que lançariam uma bomba atômica.
Foto: gemeinfrei
O segundo ataque
Três dias depois do ataque a Hiroshima, os americanos lançaram uma segunda bomba, sobre Nagasaki. A cidade de Kokura era o alvo original do ataque, mas o tempo nublado fez com que os americanos mudassem seus planos. A bomba apelidada de "Fat Man" tinha uma potência de 22 mil toneladas de TNT. Estima-se que 70 mil pessoas morreram até dezembro de 1945.
Foto: Courtesy of the National Archives/Newsmakers
Alvo estratégico
Em 1945, Nagasaki era sede da Mitsubishi, então fábrica de armas responsável por desenvolver os torpedos usados no ataque a Pearl Harbor. No entanto, apenas alguns soldados japoneses estavam baseados na cidade. A má visibilidade não possibilitou um ataque direto contra os estaleiros da fábrica.
Foto: picture-alliance/dpa
As vítimas
Durante meses após os ataques, dezenas de milhares de pessoas morreram por causa dos efeitos das explosões. Somente em Hiroshima, até o fim de 1945, 60 mil pessoas morreram por conta da radiação, de queimaduras e outros ferimentos graves. Em cinco anos, o número estimado de vítimas dos dois bombardeios atômicos é de 230 mil pessoas.
Foto: Keystone/Getty Images
Terror no fim da guerra
Depois de Hiroshima e Nagasaki, muitos japoneses temeram um terceiro ataque, a Tóquio. O Japão declarou então sua rendição, pondo fim à Segunda Guerra também na Ásia. O então presidente americano, Harry Truman, ordenou os bombardeios. Ele estava convencido de que essa era a única maneira de acabar com a guerra rapidamente. Para muitos historiadores, no entanto, os ataques foram crimes de guerra.
Foto: AP
A reconstrução
Devastada, Hiroshima foi reconstruída do zero. Apenas uma ilha, no rio Ota, foi mantida e se tornou o Parque Memorial da Paz. Hoje, há uma série de memoriais: o Museu Memorial da Paz de Hiroshima; a Estátua das Crianças da Bomba Atômica; as Ruínas da Indústria e Comércio; e a Chama da Paz, que vai permanecer acesa até a última bomba atômica do planeta ser destruída.
Foto: Keystone/Getty Images
Contra o esquecimento
Desde 1955, o Museu da Bomba Atômica e o Parque da Paz de Nagasaki prestam homenagem às vítimas dos ataques. No Japão, a reverência às vítimas desempenha um grande papel na cultura e na identidade nacional. Hiroshima e Nagasaki se tornaram símbolos mundiais dos horrores das armas nucleares.
Foto: Getty Images
Dia para relembrar
Desde os ataques de agosto de 1945, as pessoas em todo o mundo lembram as vítimas dos bombardeios atômicos. Em Hiroshima, acontece anualmente um memorial. Sobreviventes, familiares, cidadãos e políticos se reúnem para um minuto de silêncio. Muitos japoneses estão engajados contra o desarmamento nuclear.