Entre lucros bilionários e o escândalo
24 de janeiro de 2008As notícias sobre os lucros bilionários da Siemens atraem ainda mais a atenção para as denúncias de pagamentos ilícitos dentro da empresa. Os custos do escândalo já alcançam 1,5 bilhão de euros. Uma soma que poderá se multiplicar com a ameaça de multas bilionárias partindo dos Estados Unidos, entre outras.
Apesar de todas as crises internas, a Siemens conseguiu lucrar 6,5 bilhões de euros no último trimestre, graças a avanços operacionais e à venda da fornecedora de eletrônica de automóveis VDO à Continental AG. No mesmo período do ano anterior, seus lucros se limitaram a 788 milhões de euros.
Por outro lado, a Siemens realizou, entre 2000 e 2006, "pagamentos duvidosos" na ordem de 1,3 bilhão de euros, em diversos de seus segmentos. A soma de 449 milhões de euros gasta, sem comprovação, no setor de comunicações desencadeou o escândalo.
Números imponentes
"Estamos indo em frente, bem e estáveis", declarou o presidente Peter Löscher nesta quinta-feira (24/01), em Munique. Motivos de preocupação são, contudo, o departamento de técnica de transporte – que atravessa problemas com os bondes Combino – e o de produção de energia – até há pouco rica fonte de faturamento.
Os números do primeiro trimestre do ano fiscal 2007–2008 (30 de setembro) superaram os prognósticos dos analistas econômicos. O resultado operacional cresceu 16% em relação a 2006, alcançando 1,7 bilhão de euros, e a venda da VDO elevou o lucro líquido a 5,4 bilhões de euros.
O total do faturamento chegou a 18,4 bilhões de euros (+10%) e o volume de encomendas a 24,2 bilhões de euros (+9%). "A Siemens tem um forte potencial de crescimento", assegurou Löscher. O mercado de valores premiou os respeitáveis números com picos de cotação de até 5%, estando as ações da Siemens cotadas em cerca de 86 euros.
Danificando imagem de 160 anos
Durante a assembléia geral da Siemens nesta quinta-feira, representantes dos acionistas criticaram duramente a liderança da empresa. "A imagem conquistada ao longo de 160 anos está maculada", comentou Daniela Bergdolt, da Associação Alemã de Proteção aos Proprietários de Ações (DSW).
Através do próprio procedimento, a multinacional colocou sua credibilidade em jogo, acrescentou. "Lá vai a Siemens, escorraçada pelas ruas pela imprensa como um vagabundo e a empresa se mostra totalmente indefesa."
O presidente da Sociedade de Proteção dos Investidores de Capital (SdK), Harald Petersen, lembra que a Siemens só admitiu aquilo que já se sabia. "Ela só reagiu quando nada mais era possível." Ambos os representantes dos acionistas condenam a divulgação dos fatos em pequenos fragmentos, sendo impossível avaliar a extensão total do escândalo ou o que poderá vir à luz.
Confiança em Löscher e no futuro
A DSW e a SdK repreenderam a diretoria da Siemens e se recusaram a desobrigá-lo, como seria esperado, ao fim da assembléia geral. Somente o novo chefe do grupo, Peter Löscher, foi excluído das críticas.
"Até o momento se pode crer que o senhor agirá de acordo com o que diz. Confiamos no senhor", declarou Petersen. A advogada Daniela Bergdolt descreveu assim a situação: "Agora a Siemens tem a chance de se erguer das cinzas, como a fênix".
Parte dos diretores, acionistas e funcionários do consórcio dividido entre lucros promissores e um histórico recente de crises também prefere apostar no futuro, esperando uma virada para melhor. "Vivenciamos uma confusão de sentimentos, entre o horror e a esperança", sintetizou Manfred Meiler, da Associação de Funcionários Acionistas, durante a assembléia. (av)