Prestes a deixar o cargo, chanceler federal alemã finalmente expressa opinião clara sobre feminismo, em evento ao lado da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. "Todos devemos ser feministas", defende Merkel.
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No passado, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, hesitou em se dizer feminista. Agora, na contagem regressiva para a saída do cargo, ela deu um posicionamento claro sobre a questão.
"Essencialmente, [o feminismo] trata do fato de que homens e mulheres são iguais, no sentido de participação na sociedade e na vida em geral. E, nesse sentido, posso dizer: sim, sou feminista", afirmou Merkel em um evento em Düsseldorf nesta quarta-feira (08/09).
A declaração foi uma surpresa, já que em 2017, durante a cúpula Women20 em Berlim, a primeira mulher chanceler federal na Alemanha evitou responder diretamente a uma pergunta sobre se era feminista, o que gerou críticas e a decepção de muitos.
No evento desta quarta, ao lado da escritora feminista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, Merkel foi mais franca e admitiu que adotou uma abordagem reticente no passado.
"Eu preciso dizer que eu era mais tímida naquela época, mas eu refleti muito. E acho que, nesse sentido, todos devemos ser feministas", acrescentou.
O comentário gerou uma salva de palmas da plateia, bem como o endosso entusiástico de Chimamanda – cujo livro Sejamos todos feministas, de 2012, foi aclamado como o pilar do feminismo do século 21.
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Ícones do feminismo
O evento em Düsseldorf incluiu um painel de discussão apresentado pelas jornalistas Miriam Meckel e Lea Steinacker. Elas falaram sobre as semelhanças entre Chimamanda e Merkel, ambas consideradas ícones feministas em suas próprias aéreas.
Merkel contou sobre suas experiências quando criança e listou acontecimentos que moldaram seu crescimento, por exemplo, o fato de "ter crescido com pessoas com deficiência mental e não ter medo".
"[Também o fato] de ter estudado física", continuou enumerando, destacando sua participação entre a pequena porcentagem de mulheres que estudavam em uma área dominada por homens.
Em várias ocasiões, a chanceler federal mencionou o quanto lutou para chegar a uma mesa de experimentos em um laboratório, o que a ensinou a lutar por sua posição.
Uma Alemanha diferente
Merkel também falou sobre as diferenças que viu na sociedade alemã nas últimas décadas.
"Eu não teria notado 20 anos atrás se um painel de discussão fosse composto apenas por homens. Não acho mais que isso seja normal. Há algo faltando", disse a líder alemã.
Ela também afirmou que deixará o cargo com a consciência limpa e tendo feito o que podia. "Acho que fiz minha parte. E quem não entendeu até agora não vai entender nos próximos quatro anos."
Eleições federais
A Alemanha irá às urnas em 26 de setembro para eleger um novo Parlamento e decidir o sucessor de Merkel na Chancelaria Federal. Nas últimas semanas, ela endossou enfaticamente o candidato de seu partido, a União Democrática Cristã (CDU), Armin Laschet, para sucedê-la.
Quanto ao futuro, Merkel disse que precisa de um tempo para definir seus próximos passos após 16 anos como chefe de governo alemã. "Resolvi não fazer nada por enquanto e esperar para ver o que acontece. E isso, eu acho, é muito fascinante", concluiu.
le/ek (AFP, dpa)
Angela Merkel retratada por artistas
Seja capturada em óleo ou como grafite, as várias abordagens artísticas provam a relevância e poder da chefe de governo conservadora, mesmo além das fronteiras da Alemanha.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/G. Georgiou
Em diálogo
Estudantes de arte búlgaros decoraram paredes de casas da vila de Staro Zhelezare inicialmente com retratos dos habitantes. Mais tarde, foram acrescentados políticos que parecem estar em diálogo com os locais, como aqui a chanceler federal alemã. Entrementes, as paredes também são pintadas com cópias de obras de arte do Museu de Arte Moderna de Nova York.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/H. Rusev
Arte de rua política
A arte começa na rua: na tradição dos "murales" − murais sul-americanos com mensagem política −, o artista de rua italiano Jupiterfab retratou, no muro de uma casa em Atenas, Angela Merkel em estreito contato com o ex-primeiro ministro grego Alexis Tsipras.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/G. Georgiou
Pinturas a óleo satíricas
A arte política também pode exibida em museu. Aqui, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, usando um chapéu como os de Napoleão, está sentado no colo de Angela Merkel nua. O artista e satirista britânico Kaya Mar (também na foto) retratou figoras como Theresa May, Donald Trump e o papa em contextos críticos.
Foto: picture-alliance/Photoshot/B. Strenske
Heroína humanitária
"Conhecemos muitas fotos dela em que parece bastante vazia e fria, mas eu queria ir além disso e retratar sua atitude humanitária", disse o artista norte-irlandês Colin Davidson em 2015, sobre seu retrato de Merkel mais tarde estampado na capa da revista "Time", por ocasião da escolha dela como "personalidade do ano", em parte por causa de seu posicionamento humanitário na crise dos refugiados.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Time Magazine
Ícone pop
A artista americana Elizabeth Peyton pintou um retrato da chanceler federal alemã para a revista de moda "Vogue" em 2017. Em sua representação estilizada, Merkel parece uma jovem. Peyton pinta retratos em formato pequeno de estrelas pop, e figuras históricas e contemporâneas das monarquias europeias, geralmente com pele clara e traços faciais finos.
Foto: Elizabeth Peyton
Na Coleção Federal de Arte
Arte que pertence a todos é o que busca a Coleção Federal de Arte (Bundeskunstsammlung), que desde 1970 coleciona arte alemã do pós-guerra, abordando temas como apropriação cultural, simbolismo de poder e questões de pertencimento nacional. Denominado "Sem título (A Ilha)", este desenho de Merkel, com boca vermelha e olhar crítico, foi feito pelo pintor holandês Erik van Lieshout em 2015.
Foto: Erik van Lieshout
Bush pinta Merkel
Não só artistas famosos, mas também pintores amadores retrataram Merkel. Um dos mais conhecidos foi o ex-presidente americano George W. Bush. Orgulhoso de sua arte, ele já pintou mais de 30 líderes políticos mundiais.
Foto: picture-alliance/dpa/L. W. Smith
Uma entre muitos
Há também numerosas de esculturas de Merkel, algumas polêmicas, como "Cidadania europeia", de Alexander Nikolic e Michael Kalivoda, que mostra Merkel defecando. Provocadora também é a série "Global Players", de Peter Lenk, mostrando a líder conservadora nua. Comparativamente bem comportada é a instalação "Transit", de Georg Korner, em que Merkel é uma entre 2.600 figuras.
Foto: Courtesy Georg Korner
O peso do cargo
A fotógrafa Herlinde Koelbl imortalizou Merkel em sua série "Traços do poder", como já fizera antes com o também chanceler federal Gerhard Schröder e e seu vice, Joschka Fischer. Em seu estudo de longo prazo, que examina a "transformação da pessoa através do cargo", Koelbl fotografou e entrevistou 15 personalidades da política e dos negócios, ao longo de anos. Na foto, Merkel em 1991 e 2006.
Foto: Herlinde Koelbl
Garota-propaganda para hipsters
Em sua série de fotos "Hipstory", o ilustrador israelense Amit Shimoni apresenta os poderosos e influentes como jovens hipsters. Na foto, uma série em com o ex-chefe de governo alemão Konrad Adenauer, o primeiro presidente dos EUA, George Washington, Merkel usando batom preto e vermelho, chapéu, casaco preto e piercing no nariz e, ao seu lado, o ex-presidente Barack Obama de dreadlocks.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Vítima de violência de gênero
Uma foto manipulada, em que Angela Merkel aparece com contusões e cicatrizes, integrou a campanha de arte de rua "Só porque sou mulher", do artista italiano AleXsandro Palombo. Espalhada pelo centro de Milão, em 2020. a série retratava personalidades femininas mundiais como vítimas da violência de gênero.
Foto: Antonio Calanni/AP Photo/picture alliance
No teatro musical
A atriz Annelinde Bruijs se apresenta como Europa durante um ensaio fotográfico para a peça "Merkel" no palco do Teatro Kikker. O coletivo de teatro holandês Nineties escreveu e produziu o retrato musical da chefe de governo alemã, Angela Merkel. A coprodução com a renomada companhia de teatro musical holandesa Orkater estreou em Utrecht em março de 2019.
O refugiado afegão Farhad Nouri, de dez anos, é conhecido como o pequeno Picasso, por sua precoce aptidão para o desenho. Na Sérvia, onde sua família se refugiou, ele passa os dias desenhando personalidades mundiais como Angela Merkel, Salvador Dali e Pablo Picasso.
Foto: picture-alliance/Pixsell/S. Ilic
Como personagem infantil
Merkel com cabelos e manta no pescoço lembrando a popular figura Píppi Meiaslongas, de Astrid Lindgren. A obra de Galina Schierholz fez parte da exposição "Retratos da chanceler federal − Leitores pintam Angela Merkel". A mostra com 80 obras foi uma campanha do jornal "Bild" por ocasião dos 60 anos da líder, em 2014.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Welz
Festa para os caricaturistas
Modelo nato para caricaturas, ao longo dos anos, os desenhistas apenas tiveram de acrescentar algumas rugas em volta dos olhos e da boca de Angela Merkel. A enorme quantidade de ridicularizações e deturpações que cartunistas de todo o mundo lhe dedicaram só confirma sua importância. Afinal, durante anos ela ocupou o primeiro lugar na lista das 100 mulheres mais poderosas do mundo.