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Sinais do aquecimento global na capital alemã?

28 de janeiro de 2019

Invernos em Berlim estão cada vez menos siberianos, e neve virou fenômeno raro. Há dez anos, cenário desta estação do ano era bem diferente do atual, relata a colunista.

Em 2013, neve mudou paisagem de parque em Berlim Foto: ODD ANDERSEN/AFP/Getty Images

Menos 20°C marcavam os termômetros em meados de dezembro naquele que fora meu primeiro inverno em Berlim. Temperaturas congelantes me pareceram bem normais nesta época do ano por aqui. Sair de casa eram um desafio, não havia quantidade de roupa que conseguisse manter o corpo aquecimento a céu aberto. Quanto menos tempo passava na rua, melhor. No interior de edifícios, o clima era bastante agradável devido ao aquecimento das casas.

Por isso, apesar dos -20°C, o inverno em Berlim era muito mais agradável – se um inverno pode ser agradável – do que na minha cidade natal, Curitiba, onde as temperaturas negativas não são tão frequentes e raramente passam de -2°C, mas, dentro das casas, que se assemelham a geladeiras, costuma parecer bem mais frio do que fora.

Naquele inverno, além das temperaturas siberianas, a neve era presença garantida, congelando calçadas por semanas. Sair de festas, bares e clubes virava uma aventura radical, afinal álcool não combina muito com gelo.

Desde então, dez invernos se passaram, e muito mudou. Este ano fez frio em dezembro, mas as temperaturas pouco passaram dos 5°C. Já neve ninguém viu. Desde a semana passada, uma onda do clima siberiano chegou a Berlim, com temperaturas chegando quase aos -10°C.

Ao longo deste período, percebi uma mudança significativa no clima, nos últimos anos: neve tem sido algo raro, faz frio, mas não tanto como seria o considerado normal para a época. E o último verão foi impressionante: com recorde de temperatura: 37°C durante o dia e média de 24°C de noite. As temperaturas em abril e maio estiveram cinco graus acima da média.

Além do calor, o verão foi marcado pela falta de chuva. A seca na região impulsionou incêndios florestais na região de Berlim, algo novo para mim. A estiagem também impactou rios e reservatórios, chegando a ameaçar o abastecimento de água na capital. Esse clima foi um desastre para a agricultura alemã, que registrou grandes perdas neste ano.

Outra mudança que percebi nos últimos anos foi o aumento significativo de fortes temporais, com vendavais que devastam tudo que há pela frente e chuvas intensas. Nesses dias, a recomendação das autoridades é evitar sair de casa devido ao risco de quedas de árvores.

Para especialistas, essas mudanças são efeito do aquecimento global. Alguns cientistas preveem que, se o clima continuar seguindo a tendência de mudança atual, em cem anos a Alemanha terá um clima e vegetação semelhante ao do norte da Itália, o que requererá uma grande adaptação na agricultura, e algumas culturas tradicionais na Alemanha não terão mais futuro.

Há muitos críticos que negam as mudanças climáticas, mas lentamente essas alterações vão dando seus sinais. Confesso que invernos mais amenos são muito mais agradáveis e também não gosto muito de neve na cidade, porém, os efeitos que essa mudança trará para a humanidade em geral não são nada animadores: fenômenos climáticos cada vez mais extremos, seca prolongada, aumento do nível do mar, extinção de espécies e impactos na produção agrícola.

Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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