Culpa do dólar baixo
23 de novembro de 2007O euro forte coloca sob pressão a companhia aeronáutica européia Airbus. Assim, a empresa "não terá tabus em cortar gastos". A afirmativa foi feita por seu presidente, Thomas Enders, numa reunião com os conselhos de empresa de toda a Alemanha, nesta quinta-feira (22/11), em Hamburgo.
Ainda segundo Enders, a Airbus precisa avaliar todos os gastos e ver que visões de futuro ainda se pode permitir. Nesse ínterim, como noticiou o jornal Süddeutsche Zeitung, a companhia considera suspender as vendas de seis de suas instalações, transferindo as fábricas para uma nova subsidiária. O motivo seria as vendas estarem demorando mais do que o esperado.
A Airbus confirmou ainda informações do site Spiegel Online, segundo as quais Enders haveria anunciado "medidas radicais" para compensar as conseqüências da queda do dólar, já que o modelo empresarial vigente "não é mais sustentável".
Gestos ameaçadores
Devido à queda da moeda norte-americana, que lhe representa uma "ameaça à existência", a Airbus tem pela frente "prejuízos gigantescos", apesar de um volume recorde de encomendas, continuou o empresário. A maior parte de seus custos são em euro, porém ela vende seus aviões em dólar. Além disso, a base do controvertido plano de saneamento empresarial Power 8 fora o euro a 1,35 dólar, enquanto no momento a cotação é de 1,48 dólar.
O sindicato dos metalúrgicos alemães IG Metall criticou a atitude de Enders. "São gestos de ameaça que não nos levam a nada", declarou a diretora regional Jutta Blankau ao jornal Hamburger Abendblatt. Ela rebateu as alusões ao dólar, pois o presidente da Airbus mencionara haver "um plano de segurança quanto à cotação da moeda", portanto o problema não pode ser "tão decisivo assim".
Cabe ver o que Enders quer dizer com "sem tabus", ressalvou Blankau. Ele anunciou novas medidas para além do Power 8, a serem anunciadas na próxima semana. Contudo isso não significará cortes de postos de trabalho, assegurou no encontro com os conselhos de empresa. Por sua vez, Jutta Blankau lembrou que até 2012 estão suspensas quaisquer demissões para fins de saneamento na Airbus.
Cortes sobre cortes
Os funcionários da companhia aeronáutica tampouco vêem com bons olhos o anúncio de Enders. "Ainda nem sabemos quais são exatamente os cortes dentro do Power 8 e eles já vêm propondo a próxima rodada", comentou Michael Eilers, presidente do conselho de empresa na unidade de Nordenham.
Devido aos atrasos na construção do superjumbo A380, a Airbus enfrenta uma crise. O plano Power 8, aprovado no início deste ano, prevê o corte de 10 mil empregos, além da venda de seis fábricas.
Há apenas duas semanas, Louis Gallois, diretor-geral da EADS, a empresa-mãe da Airbus, anunciou novas medidas de economia, com o fim de poupar mais um bilhão de euros. Atrasos na entrega do avião de transporte militar A400M e a queda do dólar colocaram a EADS no vermelho. (av)