Estrelada pela atriz alemã Romy Schneider, trilogia de filmes sobre a história da jovem imperatriz austríaca é uma tradição natalina na Alemanha até os dias de hoje.
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A época do Natal chegou na Alemanha, e isso significa que é hora de assistir à trilogia Sissi, que conta a história de uma jovem imperatriz vienense com um sorriso radiante e olhos azuis brilhantes. Lançados na década de 1950 e estrelados por Romy Schneider no papel principal, os filmes dirigidos pelo austríaco Ernst Marischka se encarregam de levar o espírito natalino para o público alemão até hoje.
Na época de seu lançamento, numa Alemanha dividida do pós-guerra, os alegres filmes sobre Sissi representavam um bálsamo para a alma de uma nação fragmentada. Hoje, eles continuam sendo clássicos de um típico feriado agradável.
Completamente irrelevante para os fãs da atualidade é o quanto o diretor distorceu a realidade histórica. Na vida real, a história de amor entre Elisabeth e Franz Josef, governantes da dinastia dos Habsburgo, não renderia "nem mesmo um curta-metragem", conforme escreveu o jornal Wiesbadener Tagblatt em 1957, quando a Áustria orgulhosamente apresentou o terceiro filme de Sissi no Festival de Cannes. No entanto, a crítica estava enganada.
Um sucesso de bilheteria
Um dia após a estreia bem-sucedida em Viena, na Áustria, em 1955, o primeiro filme, Sissi, foi lançado nos cinemas alemães. A história da charmosa adolescente bávara que entra para a realeza austríaca ganhou a continuação com dois outros filmes de sucesso detalhando a vida da jovem imperatriz: Sissi, a imperatriz, em 1956, e Sissi e seu destino, em 1957.
Os longas, que acabariam lançando a atriz alemã Romy Schneider ao estrelato, foram uma verdadeira sensação nas bilheterias. Embora os números exatos não estejam disponíveis, estima-se que eles atraíram 25 milhões de espectadores aos cinemas.
O enredo detalha os primeiros anos da imperatriz Elisabeth, da dinastia dos Habsburgo, e é baseado no romance homônimo da autora Marie Blank-Eismann, publicado na Alemanha em 1952 em duas partes. O livro também já havia ganhado vida em 1933 na forma de uma história ilustrada na revista Blütenregen.
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Recepção pela crítica
A crítica acusou o diretor de carregar muito no kitsch, mas alguns discordam. Embora seja verdade que os filmes não oferecem uma representação totalmente fiel da monarquia austro-húngara, a trama central está correta, incluindo a rápida alienação da jovem Elisabeth da corte vienense, seu entusiasmo pela Hungria, suas escapadas ao exterior e sua antipatia pela vida na realeza. "Não quero me tornar imperatriz! Quero viver livremente, sem restrições!", diz Sissi no filme.
Acima de tudo, a trilogia de Ernst Marischka trouxe elementos clássicos de Hollywood para o cinema europeu, fazendo uso de belas imagens para contar histórias comoventes, e deixando assim a sua marca na história da sétima arte.
Com o tempo, porém, a atriz alemã Romy Schneider passou a desgostar do papel que a tornou famosa, pois ele acabaria ofuscando sua carreira posterior. "Eu amava o papel naquela época", disse Schneider mais tarde numa entrevista. "Eu era a princesa, e não apenas na frente das câmeras. Eu era sempre uma princesa. Até que um dia, eu simplesmente não queria mais ser uma princesa", revelou.
Karlheinz Böhm, o ator que interpretou seu marido monarca, também chegou a reclamar que a produção levou o público para um "mundo de porquinhos de marzipã cor-de-rosa", uma alusão ao tradicional doce de amêndoas alemão dado no Ano Novo para desejar boa sorte. Böhm, pelo menos, conseguiu se libertar da imagem de bom moço ao interpretar um assassino psicopata no filme A tortura do medo, de 1960.
Ainda hoje, o fascínio em torno de Sissi continua vivo. A Netflix planeja inclusive uma adaptação da vida da imperatriz austríaca, com a atriz alemã Devrim Lingnau no papel principal. Enquanto isso, durante as celebrações de Natal, as casas de muitas famílias na Alemanha e na Áustria continuarão vidradas na telinha para preencher o intervalo entre um assado natalino e o café da tarde com cenas do romance imperial.
Romy Schneider, uma estrela mundial
Nascida na Áustria, Romy Schneider completaria 75 anos em 23 de setembro de 2013. Apesar de a atriz ter morrido há 31 anos, de maneira trágica, ela ainda encanta o público.
Foto: AFP/Getty Images
Diferentes facetas
Em 23 de setembro de 2013, Romy Schneider completaria 75 anos. Nascida na Áustria, a atriz é considerada uma das grandes estrelas de cinema da Alemanha. Sua vida privada também foi constante alvo dos tabloides. Muitos fotógrafos celebraram sua mágica beleza e carisma – como o alemão F.C. Gundlach, neste ensaio de 1961.
Foto: AFP/Getty Images
Sucesso como Sissi
A primeira aparição de Romy Schneider no cinema foi no filme "Quando Voltam a Florescer os Lilases", de 1953 (foto). Mas foi em 1955 que ela alcançou o sucesso, no papel da imperatriz austríaca no filme "Sissi", cujas sequências também foram um grande sucesso de público. A trilogia "Sissi" foi vista por cerca de 25 milhões de pessoas em todo o mundo.
Foto: picture-alliance
Primeira tentativa de fuga
O imenso sucesso rapidamente se tornou um fardo para Romy Schneider. Ela se sentia estereotipada. Ao lado do diretor alemão Helmut Käutner, ela rodou a comédia "Monpti – Um Amor em Paris" – sua primeira tentativa de escapar da pressão e expectativa do público. Aqui ela faz uma pausa nas filmagens ao lado do ator Horst Buchholz.
Foto: picture-alliance/dpa
Amor com muito drama
Em 1958, Romy Schneider foi para a França rodar "Christine" ao lado de Alain Delon. A química passou das telas para a vida real e o casal protagonizou filmes legendários como "A Piscina" (1969). A Alemanha não aprovou a carreira francesa de Schneider, especialmente depois de ela desistir de rodar o quarto filme como Sissi para se dedicar a trabalhos no país e se mudar para Paris.
Foto: Imago/Granata Images
Esplendor do cinema mundial
A atriz se tornou rapidamente um ícone do cinema europeu. Em 1977, ela estrelou a adaptação para o cinema de do romance "Retrato de Grupo com Dama" (foto) de Heinrich Böll. Na década de 1960, Schneider trabalhou com os mais famosos diretores do cinema mundial. Ela rodou "O Processo" (1962) ao lado de Orson Welles e foi capturada pela câmera do italiano Luchino Visconti em "Boccaccio 70" (1962).
Foto: Imago/United Archives
Fracasso na Alemanha
Quando o diretor iugoslavo Aleksandar Petrovic selecionou Romy Schneider para o papel principal de "Retrato de Grupo com Dama", adaptação cinematográfica do romance de Heinrich Böll, muitos pensavam que esse seria o grande retorno da atriz ao cinema alemão. No entanto, o filme, que teve sua estreia no Festival de Cannes de 1977, foi um fracasso de crítica e público.
Foto: picture-alliance/dpa
Sissi sem glacê
Em 1972, Romy Schneider interpretou novamente a imperatriz Sissi – dessa vez no filme "Ludwig II", de Luchino Visconti. Mas o épico drama histórico de Visconti, sobre o infeliz rei bávaro, não tem nada em comum com os doces filmes estrelados por Schneider nos anos 1950. Ela amadureceu no papel e provou ser uma grande atriz. Ao seu lado, como Ludwig II, estava Helmut Berger.
Foto: Imago/United Archives
Parceria de sucesso
O diretor francês Claude Sautet foi um parceiro constante na carreira de Romy Schneider. Entre 1969 e 1978, os dois realizaram cinco filmes juntos, entre eles "As Coisas da Vida" (a foto mostra uma cena de amor entre Schneider e Michel Piccoli) e "César e Rosalie".
Foto: Imago/United Archives
Vida privada como protagonista
Na segunda metade da década de 1970, a vida privada de Romy Schneider passou a estar mais frequentemente nas manchetes. Casamentos e relacionamentos destruídos, álcool e comprimidos desempenhando, cada vez mais, um grande papel em sua vida, deixando a atriz sensível e instável. Um círculo vicioso, no qual seus filmes também passaram a fazer cada vez menos sucesso.
Foto: picture-alliance/United Archives
Glória merecida
Apesar da vida privada tumultuada e de filmes fracassados, Romy Schneider é uma das poucas grandes estrelas mundiais do cinema alemão. Ela era uma talentosa atriz de um carisma inigualável, que mostrava uma imensa versatilidade em seus papéis. Mas um de seus mais interessantes projetos nunca foi concluído: o filme "O Inferno" (foto) de Henri-Georges Clouzot foi cancelado em 1964.