Situação na América do Sul é a mais preocupante, diz Opas
8 de abril de 2021
Diretora da Organização Pan-Americana da Saúde alerta que quase todos os países da região registram aumento de casos de coronavírus. Além do Brasil, Peru e Equador podem enfrentar colapso da saúde.
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A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) afirmou nesta quarta-feira (07/04) que a América do Sul é a região onde da situação da pandemia de covid-19 é a mais preocupante no mundo, devido ao aumento de casos registrado em quase todos os países do continente.
"Em nenhum lugar do mundo, as infecções são tão preocupantes como na América do Sul", afirmou Carissa Etienne, diretora da Opas, em coletiva de imprensa.
A Opas é uma agência de saúde pública ligada às Nações Unidas e que serve como escritório regional nas Américas para a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O alerta da entidade chega no momento em que o Brasil registra sucessivos recordes de mortes por covid-19. Na terça-feira, o número de óbitos em 24 horas chegou a 4.195. Foi a primeira vez que mais de 4 mil mortes pela doença foram contabilizadas no país em um único dia. Especialistas preveem ainda que o número diário de óbitos pode eventualmente passar de 5 mil.
"A situação no Brasil é preocupante em todo o país. Nossa preocupação no momento é também com os brasileiros no contexto do sistema de saúde sobrecarregado", afirmou Sylvain Aldighieri, diretor de incidentes da covid-19 na Opas.
Aldighieri alertou que o Brasil precisa ter mais acesso a vacinas e defendeu que o país receba mais doses por meio de parcerias globais. Ele acrescentou que a Opas pode aumentar a ajuda aos estados brasileiros, se solicitado, e disse que a organização já está prestando apoio no sequenciamento genético do vírus e no fornecimento de oxigênio e testes de coronavírus.
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Situação crítica em vários países
Diante da aceleração da transmissão da covid-19 na América do Sul, segundo Etienne, o Peru e o Equador estão perto de enfrentar um colapso em seus sistemas de saúde, com UTIs quase lotadas. Já o número de novos casos registrados em partes da Bolívia e da Colômbia dobrou na semana passada.
A diretora lembrou ainda que Estados Unidos, Brasil e Argentina estão entre os dez países com o maior número de casos do mundo. Somente na semana passada, mais de 1,3 milhão de novas infecções e 37 mil mortes por covid-19 foram registradas nas Américas, ou seja, mais da metade de todos óbitos contabilizados no mundo nesse período, de acordo com Etienne.
"Não podemos flexibilizar as intervenções sociais e de saúde pública sem bons dados e justificativas", alertou a chefe da Opas, lembrando que a queda no contágio depende de ações locais e de governos nacionais.
Diante do aumento dos casos, o governo argentino anunciou que vai impor um toque de recolher noturno por três semanas a partir desta sexta-feira.
cn/ek (Reuters, AFP)
Pandemia no Brasil pelos olhos de um fotógrafo de guerra
Após cobrir conflitos em 35 países, o fotógrafo francês Jonathan Alpeyrie dirigiu suas lentes à evolução da pandemia de covid-19 no Rio de Janeiro e Manaus. Um painel contundente.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Um rosto aos mortos
Com uma média diária de quase 4 mil mortos, o Brasil é um dos países mais atingidos pela pandemia. O fotógrafo francês Jonathan Alpeyrie esteve lá no terceiro trimestre de 2020, também para dar um rosto às muitas vítimas da covid-19. Como neste enterro no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, um dos maiores da América do Sul.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Último adeus com distanciamento
Morto pelo novo coronavírus, um sexagenário, membro importante da comunidade da Favela Santa Marta, no bairro de Botafogo, é levado para o túmulo por funcionários de vestes protetoras. Os moradores dos bairros cariocas mais pobres têm sido vítimas numerosas da fúria do vírus e de uma política de saúde mais do que caótica.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Boas intenções não bastam
Não faltam iniciativas bem intencionadas de mitigar os efeitos letais do vírus potente, veloz e em frequente mutação. Porém elas não bastam para compensar as falhas de um sistema de saúde cronicamente deficiente e de uma liderança política contraditória e mesmo irresponsável. A pandemia avança: o Instituto Oswaldo Cruz não descarta que, em breve, as mortes diárias cheguem a 5 mil ou mais.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Em meio à guerra da pandemia
O francês Jonathan Alpeyrie é um repórter de guerra clássico. Suas foto-reportagens já o levaram à Síria, Ucrânia, Afeganistão e a focos de conflito na África, entre outros. Em 2020 ele esteve em Manaus, onde a variante P.1 do coronavírus foi detectada pela primeira vez. Cientistas temem que ela seja duas vezes mais contagiosa do que a cepa original.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Cavando novas sepulturas
Atualmente pesquisadores partem do princípio que a virulenta mutação P.1 seja a predominante em todo o Brasil. O presidente Jair Bolsonaro é com frequência cada vez maior responsabilizado pelo descontrole da pandemia, após ter minizado a ameaça por tanto tempo. Neste cemitério de Manaus, novas sepulturas tiveram que ser cavadas em ritmo acelerado, para comportar os muitos mortos a cada dia.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Impacto econômico no Norte
O coronavírus já alcançou os recantos mais distantes do Amazonas, vitimando em especial as populações mais frágeis, como a indígena. Os jovens da foto vivem em palafitas a uma hora da capital. A pandemia os atinge também economicamente, pois, com o desaparecimento dos turistas, vão-se também suas possibilidades de ganhar a vida.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Fé, a última que morre
Com tantas incertezas, a muitos brasileiros só resta mesmo a fé para ajudá-los a atravessar o dia a dia sem desesperar. Na Favela Santa Marta do Rio de Janeiro, este pastor abençoa os moradores: ao lado da pobreza, narcotráfico, ocupação policial e outras formas de violência, agora seu novo desafio é também sobreviver ao coronavírus.