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Smartphones e o déficit de atenção

Hannah Fuchs av
7 de fevereiro de 2019

Estudo alemão mostra que, em média, recorre-se 1.500 vezes por semana ao celular. Embora seja difícil definir o que é consumo abusivo, certo está que o excesso de uso dos aparelhos tem efeitos neurológicos nocivos.

Mulheres consultam celular em plataforma de trens
Foto: Imago/Westend61/W. Perugini

Na plataforma do metrô não há como não notar todas as cabeças abaixadas, em posição ortopedicamente questionável, os olhares fixados no celular. "Será que não dá para simplesmente deixar os pensamentos vagarem, sonhar um pouco?", pergunta-se o observador crítico.

E eis que, nem um minuto mais tarde, ele próprio se surpreende ao remexer o bolso em busca do próprio telefone móvel. Só para checar rapidinho o horário do metrô, claro. E depois a meteorologia. Umas notícias. E por aí vai.

No fim das contas, não é de espantar que, em média, o ser humano moderno pegue 1.500 vezes por semana o smartphone, portanto 214 vezes por dia e nove por hora. Para conferir esse fato, nem é preciso de ciência, pois atualmente os aplicativos que registram o comportamento do usuário já fazem essa estatística – que logo é apagada e esquecida, com uma simples passada de dedo.

Segundo uma enquete do portal Statista, os próprios usuários bem conhecem suas manias. A maioria dos entrevistados diz-se estressado pelo fato de logo ter que pegar o telefone, antes mesmo de se levantar pela manhã; de ficarem acordados à noite por mais tempo que planejado e, no geral, passarem tempo demais com o aparelho.

Mas, com toda a autocrítica, continua difícil controlar os próprios hábitos: a comunicação em escala global nunca foi tão rápida como hoje em dia, nunca foi tão fácil obter informações; a humanidade nunca foi tão bombardeada com notícias e saber, como um fogo de artifício digital.

Alexander Markowetz, autor e informático da Universidade de Bonn examinou, através de um app, no âmbito do Menthal Projekt, os hábitos telefônicos de 60 mil participantes. O resultado descreve como "assustadora" a "estafa digital": o consumo assumiu proporções tão anormais, que a espécie aos poucos vai se transformando em "Homo digitalis".

Considerando-se 16 horas de vigília e oito horas de sono, o pesquisador chegou à conclusão que a cada 18 minutos se interrompe a atividade real a fim de se ocupar com o smartphone, mesmo que seja só uma olhadinha nas horas. O que alguns consideram "multitasking", Markowetz classifica como "desvio de atenção".

No entanto é difícil determinar a partir de que ponto exatamente os hábitos de usuário assumem características doentias ou de dependência. Um relatório da comissão do governo alemão para educação, pesquisa e avaliação dos efeitos da tecnologia aponta que tanto o padrão de consumo quanto as próprias mídias estão em constante transformação.

Além disso, não há unanimidade sobre o que seria um "comportamento normal de uso das mídias". Por um lado, nesse caso não é possível comparar com os perfis dos antepassados. Assim, ainda não existe uma definição universal de "midiadependência".

O especialista em novas mídias Jörg Müller-Lietzkow defende que se defina a dependência com base no efeito, e não no tempo de consumo. Quando necessidades básicas como comer, beber, dormir são negligenciadas, ele considera a situação crítica.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define dependência, em geral, como desejo forte e perda de controle do consumo, assim como um incremento constante. Além disso, a OMS sempre pressupõe a dependência em relação a uma substância concreta, sejam drogas, álcool ou tabaco. Até o momento, apenas a gaming disorder, a dependência dos jogos de computador, foi reconhecida, em 2018, como distúrbio autônomo e com objeto definido.

A maioria, porém não é heavy user: de dependência real só há casos isolados. Aqueles com "pescoço de celular" na plataforma de metrô estão no campo intermediário. Porém é justamente esse grupo que o autor Markowetz considera o mais ameaçado, pois uma grande parte da população se acostumou a um estilo de vida nocivo – e isso não se refere apenas à postura corporal insalubre.

Um enigma para os pesquisadores, talvez até mesmo insolúvel, é até que ponto o consumo digital afeta a vida do ser humano moderno, sobretudo no longo prazo. Por um lado, na escala científica, os smartphones existem há um tempo relativamente curto.

O multitasking é um mito que ilude os usuários obsessivos do celular. "Quem pratica diariamente muito mutitasking, não se torna melhor em realizar várias tarefas ao mesmo tempo, mas sim, no longo prazo, treina para desenvolver um déficit de atenção", escreve o neurocientista Manfred Spitzer em seu livro Cyberkrank.

Um exemplo analógico confirma a falsidade do mito: quando se lê um livro e alguém faz uma pergunta, a pessoa não é ouvida. Segundo pesquisadores britânicos, trata-se de uma característica do cérebro humano, que não é adaptado a mutitasking. Psicólogos e neurocientistas denominam o fenômeno "surdez por atenção": quando o cérebro está com a capacidade esgotada, ele processa com menos eficácia os estímulos sensoriais.

No âmbito de um estudo, pesquisadores da Universidade de Stanford contrapuseram heavy media mutitaskers  (HMMs) e light media mutitaskers  (LMMs). Os HMMs, que estavam acostumados a enfrentar diversas atividades simultaneamente apresentaram rendimento pior do que os participantes menos versados em multitasking. Os cientistas deduziram que para os LMMs era mais fácil ignorar informações irrelevantes.

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