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Snowden adverte contra monitoramento total

Friedel Taube (av)26 de dezembro de 2013

Channel 4 britânico escolheu ex-agente da NSA exilado na Rússia para sua mensagem de Natal "alternativa". Comparado aos atuais smartphones e GPS, o "Big Brother" de George Orwell não é nada, lembra Snowden.

Foto: picture alliance/AP Photo

O que têm em comum o papa Francisco, o presidente alemão Joachim Gauck e o whistleblower americano Edward Snowden? Todos os três pronunciaram, este ano, uma mensagem de Natal em que refletiram sobre a própria atuação e a dos seres humanos à sua volta. Seguindo a tradição, o pontífice o fez na Missa do Galo; Gauck, na televisão alemã.

Para Snowden, o palco foi a emissora de TV britânica Channel 4, que há 20 anos mantém em sua programação um discurso de Natal "alternativo". Ele é proferido por personalidades que, normalmente, não se esperaria numa mensagem natalina – por exemplo, em 2008, o então presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad.

Como o "Big Brother" de Orwell

Essa foi a primeira aparição pública, em meses, do ex-colaborador da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) e revelador de informações sigilosas do serviço secreto dos Estados Unidos. O vídeo, previamente gravado, foi transmitido nesta quarta-feira (25/12), às 17h15, horário britânico. A intenção de Snowden era esclarecer aos telespectadores sobre os riscos da tecnologia moderna.

"Uma criança nascida hoje crescerá sem a menor noção de privacidade. Ela nunca saberá o que significa ter um momento privado, para si, de pensamentos não gravados nem analisados." Este ano, comentou, o mundo tomou conhecimento de que os governos introduziram um sistema de vigilância em massa, que vê tudo o que fazemos.

Espionagem do celular de Merkel causou indignação na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa

O autor britânico George Orwell já alertara sobre os perigos desse tipo de tráfico de informações no livro 1984, observou o ex-funcionário da NSA. No entanto, as câmeras do "Big Brother", no romance de ficção científica publicado em 1949, não se comparam em nada com a nossa realidade. "Temos detectores em nossos bolsos que nos seguem aonde quer que vamos", acrescentou, apontando para a atual difusão global de smartphones e sensores de GPS.

Rechaço a acusação de Obama

Na última terça-feira, Snowden já se manifestara numa longa entrevista a partir do exílio russo – a primeira em muito tempo. Durante dois dias, ele se encontrou em Moscou com Barton Gellman, do jornal norte-americano Washington Post, para traçar um balanço inicial do escândalo de espionagem revelado por ele próprio.

"Para mim, em termos de satisfação pessoal, a missão está cumprida. Eu já venci", disse, numa referência ao debate público desencadeado pelas informações sigilosas que divulgou. Antes, ele tivera menos medo das consequências pessoais que as revelações lhe poderiam ter trazido, do que quanto à possibilidade de a população permanecer indiferente aos novos fatos.

Na semana anterior, o presidente americano, Barack Obama, declarara, numa coletiva de imprensa na Casa Branca, que Snowden haveria causado "dano desnecessário" aos Estados Unidos. Na entrevista ao Washington Post, o whistleblower rechaçou indiretamente a acusação.

"Não estou tentando arruinar com os Estados Unidos. Estou trabalhando para melhorar a NSA. Ainda estou trabalhando para a NSA, agora mesmo. Eles são os únicos que não se dão conta disso", afirmou.

"Perguntar é mais barato do que espionar"

Ao que tudo indica, o denunciante, considerado por muitos como herói da democracia, está também realmente preocupado com a reputação de seu país no exterior. Na entrevista, ele mencionou especificamente a Alemanha, onde o efeito do escândalo de interceptação de dados foi especialmente dramático.

O fato de o telefone celular da chefe de governo Angela Merkel ter sido monitorado pelas autoridades americanas foi considerado uma afronta, para além das fronteiras partidárias da Alemanha. Snowden enfatiza que, se houve engano e traição, foi por parte de Washington.

"Ainda estou trabalhando para a NSA", afirma SnowdenFoto: picture-alliance/dpa

"O governo dos EUA disse: 'Nós seguimos as leis alemãs, na Alemanha. Nós nunca monitoramos cidadãos alemães.'" No entanto, o que veio à tona é que até a chanceler estava sendo espionada. "Vocês acabaram de mentir para todo o país, na frente do Congresso", comentou o ex-agente na entrevista em Moscou, dirigindo-se diretamente ao governo de seu país.

E é justamente a isso o que Edward Snowden encorajou os espectadores, ao fim de sua mensagem de Natal: interpelar seus governantes com mais frequência. "Lembrem ao governo que, se ele realmente quer saber como nos sentimos, perguntar é sempre mais barato do que espionar".

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