Fundação sueca Right Livelihood atribui prêmio ao ex-analista da NSA por "sua coragem e habilidade ao revelar a vigilância por parte de um Estado, que viola processos democráticos e direitos constitucionais básicos".
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O ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden, que denunciou a existência de programas de vigilância em massa dos EUA, foi distinguido nesta quarta-feira (24/09) com o Nobel Alternativo de 2014, um prêmio de direitos humanos atribuído pela fundação sueca Right Livelihood.
"O prêmio honorário Right Livelihood é atribuído a Edward Snowden pela sua coragem e habilidade ao revelar amplamente e sem precedentes a vigilância por parte de um Estado, que viola processos democráticos e direitos constitucionais básicos", anunciou a fundação, que entrega o prêmio anualmente, no seu site.
A distinção honorária, sem qualquer dotação em dinheiro, foi igualmente atribuída ao jornalista Alan Rusbridger, diretor do diário britânico The Guardian, que revelou documentos divulgados pelo ex-analista da NSA. Rusbridger foi distinguido por "construir uma organização global dedicada a um jornalismo responsável e em interesse público, que não se intimida com os desafios colocados pela exposição de más práticas empresariais e governamentais".
Três outras personalidades foram distinguidas com prêmios com uma dotação financeira de 1,5 milhão de coroas suecas (cerca de 490 mil reais): a Comissão Asiática de Direitos Humanos e o seu diretor, Basil Fernando, o ativista norte-americano da luta contra o aquecimento global Bill McKibben e a advogada paquistanesa Asma Jahangir.
No comunicado, a fundação escreve que os prêmios de 2014 reconhecem o "trabalho corajoso e efetivo pelos direitos humanos, liberdade de imprensa, liberdades civis e luta contra as alterações climáticas".
O texto precisa que, contrariamente ao ocorrido anualmente desde 1995, o prêmio de 2014 é anunciado no site da fundação porque o Ministério do Exterior da Suécia não permitiu o uso de sua sala de imprensa para o anúncio. O diretor da fundação, Ole von Uexkull, disse acreditar que isso aconteceu porque Snowden está entre os premiados. A razão oficial são "questões de segurança", disse o diretor.
Não está claro se Snowden comparecerá à cerimônia de entrega do prêmio, em 1º de dezembro em Estocolmo, já que está exilado na Rússia. Ele responde a processo por vazamento de informações sigilosas nos EUA e poderia se extraditado se fosse até a Suécia.
O Right Livelihood Award, mais conhecido como Nobel Alternativo, foi criado em 1980 para apoiar as personalidades que "oferecem respostas práticas e exemplares aos desafios mais urgentes que o mundo enfrenta", lê-se na página da fundação.
Perseguidos e celebrados
O maior temor de serviços secretos, governos e empresas desonestas é a revelação de seus segredos pelos funcionários. Para desencorajar imitadores, os delatados perseguem os "whistleblowers", em certos casos até a morte.
Foto: picture-alliance/dpa
Herói ou traidor?
Para muitos, Edward Snowden é um herói – para o governo dos EUA ele é um traidor. O ex-consultor da CIA tornou público o programa sigiloso de vigilância da agência de segurança NSA. Snowden está foragido, vários países lhe negaram o asilo político, inclusive o Brasil. A história mostra que denunciantes ("whistleblowers") não devem esperar benevolência por parte das instâncias superiores.
Foto: Getty Images
Mal-estar entre amigos
O soldado dos Estados Unidos Bradley Edward Manning foi preso em maio de 2010, por publicar na plataforma Wikileaks vídeos e correspondência da embaixada norte-americana. Especialmente desagradável para Washington foi a divulgação de certos e-mails que criticavam e ridicularizavam governos parceiros. Manning foi condenado à prisão perpétua.
Foto: picture-alliance/dpa
Pai de todos os "whistleblowers"
Em 1974, ao longo de meses, Mark Felt, então vice-presidente do FBI, explicou detalhadamente a dois repórteres do jornal "Washington Post" como a equipe da campanha eleitoral de Richard Nixon teria espionado o escritório da oposição democrata. O relato levou à renúncia de Nixon, mas Felt consegui manter-se anônimo por mais de 33 anos.
Foto: AP
Proteção de repórteres leais
A revelação do caso Watergate é geralmente atribuída aos dois repórteres do jornal "Washington Post", Bob Woodward e Carl Bernstein. Contudo, seu principal mérito foi proteger o anonimato de Mark Felt, além de verificarem as informações em outras fontes. Assim o vice-presidente do FBI ficou livre de perseguições, só se revelando em 2005. Três anos mais tarde, ele falecia.
Foto: AP
Processo sumário na Rússia
Ao retornarem ao tribunal em 2013, os advogados do denunciante russo Serguei Leonidovitch Magnitsky se confrontaram com uma cela vazia. O réu morrera em 2009, numa prisão de Moscou, em circunstâncias não esclarecidas. Magnitsky revelara à imprensa certas práticas de corrupção dentro de empresas públicas russas. Ele foi preso por ter supostamente cometido fraude fiscal.
Foto: Reuters
Motivação complexa
Em 2011, o ex-gerente bancário Rudolf Elmer entregou ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, os dados de 2 mil presumíveis sonegadores de impostos. Assim como tantos outros "whistleblowers", o suíço foi movido por vingança, ganância, senso de justiça. Ele responde a inquérito por quebra de sigilo bancário; contra Assange corre um mandado de prisão por suposto crime sexual cometido na Suécia.
Foto: AFP/Getty Images
Lei da UE protege denunciantes
Em 1996, o funcionário da União Europeia Paul van Buitenen tentou informar seus superiores sobre certas irregularidades financeiras. Como estes preferiram ignorar as denúncias, ele recorreu a deputados da UE. No fim das contas, 17 comissários europeus tiveram que renunciar – mas Van Buitenen também foi coagido a deixar a Comissão. Desde 2000 existe na UE uma lei que protege os "whistleblowers".
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Fim de viagem para uma denunciante
Karen Silkwood, que trabalhava numa unidade de tratamento de plutônio em Oklahoma, constatou graves falhas nas medidas de segurança para os operários. Ela preparou um dossiê para a imprensa contendo as irregularidades constatadas, mas, a caminho de entregar o documento, morreu num acidente de carro. Causa oficial do acidente: estafa.
Foto: picture-alliance/UPI
Lutador incorrigível
O artigo para o "Sunday Times", no qual Mordechai Vanunu denunciava o programa nuclear israelense, nem tinha sido impresso, quando o jornalista foi sequestrado pelo serviço secreto Mossad. Em Israel, foi condenado a 18 anos de prisão por traição da pátria. Libertado em 2004, declarou que iria continuar a luta pela paz e contra as armas nucleares. No entanto, está proibido de deixar Israel.
Foto: AFP/Getty Images
Vingança contra a indústria do cigarro
Uma das motivações de Jeffrey Wigand pode ter sido vingança contra seu antigo empregador. A empresa British-American Tobacco o havia demitido em 1993. Quatro anos depois, ele revelava na televisão que muitos cigarros contêm aditivos visando aumentar a dependência dos fumantes. Na foto, ele participa de um evento antifumo, ao lado do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.
Foto: Getty Images
Destino final: zona de trânsito?
Desde que chegou de Hong Kong, Edward Snowden está confinado à zona de trânsito do aeroporto de Moscou. O governo norte-americano procura lhe barrar as possibilidades de asilo político. O denunciante expôs os EUA às críticas de todo o mundo, e é preciso desencorajar eventuais imitadores. Washington até ameaça o Equador com o fim das negociações de livre comércio, caso conceda asilo a Snowden.