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Snowden lança campanha para obter asilo no Brasil

17 de dezembro de 2013

Através de carta "ao povo brasileiro" e campanha na internet, ex-técnico quer que governo Dilma lhe conceda abrigo em troca de ajuda em investigações sobre ações da NSA no país. Tema está em pauta em CPI no Senado.

Centenas de pessoas realizaram em julho deste ano uma manifestação de apoio a Snowden em BerlimFoto: picture-alliance/dpa

O ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) americana Edward Snowden tem a intenção de pedir asilo político permanente ao Brasil, país que já lhe negou anteriormente tal concessão, segundo uma carta obtida e publicada nesta terça-feira (17/12) pelo jornal Folha de S. Paulo. Em troca, ele colaboraria com eventuais investigações sobre as ações da NSA.

Após Snowden ter revelado que a presidente Dilma Rousseff, vários de seus ministros e até a Petrobras foram monitorados pelos Estados Unidos, o Brasil encabeçou diversas iniciativas globais para regular a espionagem através da internet. Ainda não há resposta oficial do Planalto à carta, mas, segundo fontes ouvidas pelo jornal, o asilo não será concedido.

Em uma "carta ao povo brasileiro", Snowden diz que "emergiu das sombras da NSA" para "compartilhar com o mundo" as provas de que alguns governos estão montando um "sistema de vigilância mundial".

Ele afirmou, também, que decidiu denunciar essas práticas por estar convencido de que "os cidadãos merecem entender o sistema em que vivem" e que a "reação de certos países" diante de suas denúncias, entre os quais cita o Brasil, "foi inspiradora". Na carta, Snowden se refere à forma como o Brasil foi afetado pela espionagem americana.

"A NSA e outras agências de espionagem nos dizem que, pelo bem de nossa própria 'segurança' – em nome da 'segurança' de Dilma, em nome da 'segurança' da Petrobras –, revogaram nosso direito de privacidade e invadiram nossas vidas e fizeram sem pedir permissão à população de nenhum país", diz o texto.

O ex-técnico da CIA acrescentou também que "hoje, se você carrega um celular em São Paulo, a NSA pode rastrear onde você se encontra, e faz isso 5 bilhões de vezes por dia com pessoas no mundo inteiro".

Snowden recebeu asilo temporário da RússiaFoto: Reuters

Em discussão no Senado

Por meio de uma campanha na internet que permite a assinatura de petições, Snowden pretende obter o apoio da população brasileira para ir ao país. De acordo a ONG Avaaz, que hospeda em seu site a campanha, “se Snowden estivesse no Brasil, seria possível que ele pudesse fazer muito mais para ajudar o mundo a entender como a NSA e aliados estão invadindo a privacidade de pessoas no mundo todo".

Nesta semana, Snowden enviou uma carta à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), uma das relatoras da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem, no Senado, em que se dispõe a colaborar com o governo brasileiro caso haja "possibilidades legais" para tal.

Nesta terça-feira a CPI se reúne para discutir o tema e a possibilidade do asilo brasileiro a Snowden está na pauta. Em julho, o assunto chegou a ser debatido na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado. Por unanimidade, os parlamentares recomendaram a concessão de asilo ao ex-consultor.

Snowden reiterou sua disposição de "ajudar quando isso for apropriado e legal", mas afirmou que "o governo dos Estados Unidos trabalha arduamente para limitar" sua "capacidade de fazê-lo". O técnico em informática disse também que as "manobras" dos Estados Unidos "chegaram ao ponto de obrigar a aterrissar na Europa avião do presidente da Bolívia, Evo Morales", sob a suspeita de que Snowden estava à bordo.

Segundo o ex-analista da NSA, "até que algum país" lhe conceda asilo permanente, "o governo dos EUA vai continuar interferindo" em sua "capacidade de falar" e denunciar. O jornalista Glenn Greenwald, ex-colunista do jornal britânico "The Guardian" e um dos "contatos" de Snowden, publicou muitos dos documentos revelados pelo antigo empregado da NSA e mora no Rio de Janeiro.

"Se o governo brasileiro agradece as revelações, seria muito lógico protegê-lo", declarou Greenwald à Folha de S. Paulo.

Ex-técnico divulgou que NSA espionou Dilma Rousseff e Angela MerkelFoto: Eric Fefferberg/AFP/Getty Images

Ainda na Rússia

Ao obter refúgio temporário na Rússia, em junho deste ano, Snowden pediu asilo a uma dezena de países, entre eles o Brasil, mas o governo Dilma se limitou a comunicar que "não tinha intenção de responder", o que em termos diplomatas equivale a uma recusa.

Dois meses depois, documentos entregues por Snowden a Greenwald demonstraram que até as comunicações pessoais de Dilma eram espionadas, o que levou a presidente a cancelar uma visita de Estado que faria a Washington em outubro.

As relações entre Brasil e Estados Unidos esfriaram desde então, e Dilma decidiu promover um debate na ONU com o objetivo de estabelecer normas globais que impeçam a espionagem pela internet.

Além disso, a governante brasileira convocou uma conferência global para março do próximo ano em São Paulo, a fim de que o assunto seja debatido por chefes de Estado e governo, empresários, acadêmicos e movimentos sociais.

FC/efe/lusa/aBr/dpa

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