Asilado na Rússia, ex-analista da NSA diz que revelação do megaesquema de espionagem americano foi "moralmente necessária" e pede o perdão da Casa Branca. "Se não fosse por essa divulgação, estaríamos pior."
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O ex-colaborador da Agência de Segurança Nacional americana (NSA) Edward Snowden pediu nesta terça-feira (13/09) que o presidente Barack Obama lhe conceda o perdão antes de deixar a Casa Branca. Em 2013, Snowden revelou um amplo esquema de espionagem do governo dos Estados Unidos.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian por videoconferência a partir de Moscou, onde está asilado desde 2013, Snowden afirmou que as suas ações foram "moralmente necessárias" e, mais do que isso, beneficiaram o país. "Se não fosse por essa divulgação, por essas revelações, estaríamos pior", disse.
"Sim, há leis que dizem uma coisa, mas talvez seja por isso que exista o poder do perdão – para as exceções, para as coisas que parecem ilegais no papel, mas que, quando as vemos do ponto de vista moral e ético, quando vemos os resultados, mostram que eram necessárias", acrescentou.
Snowden ainda destacou que "nunca houve evidências públicas de que qualquer indivíduo tenha sido prejudicado" como resultado de suas revelações.
O americano de 33 anos vive há três anos na capital da Rússia, desde que divulgou milhares de documentos secretos da NSA, expondo o sistema de vigilância mundial americano. Nos EUA, ele foi acusado de divulgar segredo de Estado e pode pegar até 30 anos de prisão.
Na entrevista, Snowden pede que Obama lhe conceda o perdão antes de deixar a presidência em 2017, ano em que também expira sua permissão de residência na Rússia. Em todo caso, ele disse estar preparado para ir à prisão nos EUA, pois está "disposto a fazer muitos sacrifícios" pelo seu país.
Enquanto isso, o governo americano insiste que Snowden volte aos Estados Unidos para enfrentar as acusações. Na segunda-feira, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, já havia declarado que os vazamentos feitos pelo ex-analista "prejudicaram os EUA" e constituem "crimes sérios" contra o país, por isso pediu a extradição do americano. Em 2015, o governo americano rejeitou um pedido com mais de 150 mil assinaturas para que o whistleblower fosse perdoado.
Nos próximos dias, estreia nos cinemas mundiais o filme Snowden, do diretor Oliver Stone, que relata a história por trás dos vazamentos. O cineasta veterano já chegou a declarar publicamente sua opinião favorável ao perdão de Snowden por parte de Obama.
EK/lusa/afp/rtr/ots
Perseguidos e celebrados
O maior temor de serviços secretos, governos e empresas desonestas é a revelação de seus segredos pelos funcionários. Para desencorajar imitadores, os delatados perseguem os "whistleblowers", em certos casos até a morte.
Foto: picture-alliance/dpa
Herói ou traidor?
Para muitos, Edward Snowden é um herói – para o governo dos EUA ele é um traidor. O ex-consultor da CIA tornou público o programa sigiloso de vigilância da agência de segurança NSA. Snowden está foragido, vários países lhe negaram o asilo político, inclusive o Brasil. A história mostra que denunciantes ("whistleblowers") não devem esperar benevolência por parte das instâncias superiores.
Foto: Getty Images
Mal-estar entre amigos
O soldado dos Estados Unidos Bradley Edward Manning foi preso em maio de 2010, por publicar na plataforma Wikileaks vídeos e correspondência da embaixada norte-americana. Especialmente desagradável para Washington foi a divulgação de certos e-mails que criticavam e ridicularizavam governos parceiros. Manning foi condenado à prisão perpétua.
Foto: picture-alliance/dpa
Pai de todos os "whistleblowers"
Em 1974, ao longo de meses, Mark Felt, então vice-presidente do FBI, explicou detalhadamente a dois repórteres do jornal "Washington Post" como a equipe da campanha eleitoral de Richard Nixon teria espionado o escritório da oposição democrata. O relato levou à renúncia de Nixon, mas Felt consegui manter-se anônimo por mais de 33 anos.
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Proteção de repórteres leais
A revelação do caso Watergate é geralmente atribuída aos dois repórteres do jornal "Washington Post", Bob Woodward e Carl Bernstein. Contudo, seu principal mérito foi proteger o anonimato de Mark Felt, além de verificarem as informações em outras fontes. Assim o vice-presidente do FBI ficou livre de perseguições, só se revelando em 2005. Três anos mais tarde, ele falecia.
Foto: AP
Processo sumário na Rússia
Ao retornarem ao tribunal em 2013, os advogados do denunciante russo Serguei Leonidovitch Magnitsky se confrontaram com uma cela vazia. O réu morrera em 2009, numa prisão de Moscou, em circunstâncias não esclarecidas. Magnitsky revelara à imprensa certas práticas de corrupção dentro de empresas públicas russas. Ele foi preso por ter supostamente cometido fraude fiscal.
Foto: Reuters
Motivação complexa
Em 2011, o ex-gerente bancário Rudolf Elmer entregou ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, os dados de 2 mil presumíveis sonegadores de impostos. Assim como tantos outros "whistleblowers", o suíço foi movido por vingança, ganância, senso de justiça. Ele responde a inquérito por quebra de sigilo bancário; contra Assange corre um mandado de prisão por suposto crime sexual cometido na Suécia.
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Lei da UE protege denunciantes
Em 1996, o funcionário da União Europeia Paul van Buitenen tentou informar seus superiores sobre certas irregularidades financeiras. Como estes preferiram ignorar as denúncias, ele recorreu a deputados da UE. No fim das contas, 17 comissários europeus tiveram que renunciar – mas Van Buitenen também foi coagido a deixar a Comissão. Desde 2000 existe na UE uma lei que protege os "whistleblowers".
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Fim de viagem para uma denunciante
Karen Silkwood, que trabalhava numa unidade de tratamento de plutônio em Oklahoma, constatou graves falhas nas medidas de segurança para os operários. Ela preparou um dossiê para a imprensa contendo as irregularidades constatadas, mas, a caminho de entregar o documento, morreu num acidente de carro. Causa oficial do acidente: estafa.
Foto: picture-alliance/UPI
Lutador incorrigível
O artigo para o "Sunday Times", no qual Mordechai Vanunu denunciava o programa nuclear israelense, nem tinha sido impresso, quando o jornalista foi sequestrado pelo serviço secreto Mossad. Em Israel, foi condenado a 18 anos de prisão por traição da pátria. Libertado em 2004, declarou que iria continuar a luta pela paz e contra as armas nucleares. No entanto, está proibido de deixar Israel.
Foto: AFP/Getty Images
Vingança contra a indústria do cigarro
Uma das motivações de Jeffrey Wigand pode ter sido vingança contra seu antigo empregador. A empresa British-American Tobacco o havia demitido em 1993. Quatro anos depois, ele revelava na televisão que muitos cigarros contêm aditivos visando aumentar a dependência dos fumantes. Na foto, ele participa de um evento antifumo, ao lado do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.
Foto: Getty Images
Destino final: zona de trânsito?
Desde que chegou de Hong Kong, Edward Snowden está confinado à zona de trânsito do aeroporto de Moscou. O governo norte-americano procura lhe barrar as possibilidades de asilo político. O denunciante expôs os EUA às críticas de todo o mundo, e é preciso desencorajar eventuais imitadores. Washington até ameaça o Equador com o fim das negociações de livre comércio, caso conceda asilo a Snowden.