Exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Berlim, filme "O jovem Karl Marx" mostra o curto, mas intenso período que antecedeu à publicação do Manifesto Comunista no ano de 1848.
Anúncio
"O jovem Karl Marx" no cinema
04:31
A barba tem de ser cortada, ao menos simbolicamente. Essa foi uma exigência do diretor haitiano Raoul Peck. E a barba em questão é a de Karl Marx. Peck é o diretor de O jovem Karl Marx, filme sobre a juventude do filósofo alemão cuja estreia mundial aconteceu no último domingo (12/02) na 67ª Berlinale, o Festival de Cinema de Berlim.
"A velha barba encobre não somente o rosto de Marx. No ano de 2017, ela também obscurece a possibilidade de uma discussão e uma reflexão cuidadosa", diz Peck, para quem, diante da arrebatadora barba de Karl Marx, esqueceu-se do cerne de sua mensagem. "Isso impede de descobrir a real contribuição deste pensador científico e político, seu extraordinário poder de análise, seus esforços humanísticos, suas preocupações legítimas."
No filme, Peck mostra o curto, mas intenso período que antecedeu à publicação do Manifesto Comunista no ano de 1848. Na época, com pouco mais de 20 anos, Marx conheceu em Paris Friedrich Engels, o filho de um industrial de Wuppertal, que trazia consigo uma rica experiência da Inglaterra. Em Manchester, seu pai tinha uma tecelagem.
Marx e Engels ficaram amigos. Junto a Jenny, esposa de Karl Marx, os jovens desenvolveram o Manifesto Comunista. O texto deveria reunir tudo o que os três consideravam importante observar numa época de grandes mudanças sociais.
"O filme acompanha a juventude de Marx e Engels, delineia a amizade inabalável entre os dois e mostra como um trio único nasce a partir das dificuldades que eles viveram durante a sua turbulenta juventude", descreve Peck a sua obra.
O diretor recriou a atmosfera do período febril da industrialização na Europa dos anos 1840: "Fábricas da indústria pesada na Inglaterra, a miséria extrema e a sujeira nas ruas de Manchester e, em contraste, o calor dourado dos palácios parisienses, a energia de uma juventude que quer mudar o mundo."
Paris e Manchester como cenários
Peck rodou um filme histórico. Karl Marx é interpretado pelo ator alemão August Diehl; Friedrich Engels, por Stefan Konarske, e Jenny Marx, por Vicky Krieps. A Paris do século 19, como também a tecelagem na Inglaterra, servem de cenário para um filme encenado de forma um pouco antiquada, em estilo televisivo excessivamente impecável.
De qualquer forma, talvez o tema do filme seja mais importante que experimentos estéticos e a cinematografia. No 100° aniversário da Revolução Russa e num mundo vivendo um período entre a globalização e novos pensamentos nacionalistas, ocupar-se de Marx vem na hora certa. Mesmo sob a forma de um filme de apelo popular, que mostra a um grande público como se chegou ao famoso manifesto.
Após a estreia no 67° Festival de Cinema de Berlim, na série Berlinale Special, o filme de Raoul Peck poderá ser visto na Alemanha a partir do início de março. No Brasil, a estreia nos cinemas está prevista para meados de junho.
Grandes filmes alemães dos anos 2000
A partir do ano 2000, chegaram às telas filmes de cineastas associados ao que se chamou de "segunda geração da Escola de Berlim", além de uma vertente do cinema alemão impulsionada por diretores filhos de imigrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/Les Film du Losange
Caixa preta Alemanha
O documentário de Andres Veiel, de 2001, apresenta dois personagens paralelos: Alfred Herrhausen, presidente do Deutsche Bank, morto em um atentado em 1989; e o terrorista Wolfgang Grams, morto em confronto com a polícia. O diretor busca depoimentos de pessoas próximas aos dois e esboça um retrato da sociedade alemã à sombra do terrorismo da RAF: "A luta passou, mas as feridas continuam abertas."
Foto: X Verleih
Adeus, Lênin!
Nesta comédia de 2003, o diretor Wolfgang Becker revisita a queda do Muro de Berlim através da história da família Kerner. E brinca com as diferenças culturais entre as ex-Alemanhas Oriental e Ocidental. O filme recebeu diversos prêmios, entre eles o de melhor filme europeu do ano e se tornou um dos maiores sucessos de público da história recente do cinema alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Contra a parede
O filme de Fatih Akin recebeu o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim em 2003. O diretor volta mais uma vez os olhos para suas raízes, ao contar a inusitada história de amor entre dois jovens turcos na Alemanha, que lutam para se libertar das amarras das tradições familiares. A premiação marcou a consagração de Akin como um dos principais diretores do país.
Foto: picture alliance/dpa
Marselha
Angela Schanelec, uma das diretoras da "Escola de Berlim", traça, em seu longa de 2004, o retrato de uma geração perdida entre lugares, pessoas, idas e vindas, emoções contrárias. Adepta de uma linguagem cinematográfica elíptica e de rigor formal, e amante confessa do cinema de Robert Bresson, Schanelec "documenta" o cotidiano das personagens em seus filmes de ficção.
Foto: peripherfilm/R.Vorschneider
Edukators
"Edukators", de 2005, dirigido por Hans Weingartner, encerrou o longo jejum de filmes alemães no Festival de Cannes, tendo sido posteriormente bem recebido em muitos países. A narrativa em torno do amor, da amizade e da rebeldia serve como alerta à sociedade de que por trás de uma suposta vida feliz e perfeita podem se ocultar sinais de uma ordem mundial nada justa e igualitária.
Foto: picture alliance/dpa
A vida dos outros
O longa-metragem dirigido por Florian Henckel von Donnersmark sobre as atividades da Stasi, a polícia secreta da ex-Alemanha Oriental, levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Ao refletir sobre a vigilância estatal, o filme de 2006 apresenta uma narrativa que não reconstrói contextos reais, mas cria uma parábola sobre as possibilidades de resistência aos mecanismos de um Estado repressor.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena Vista
Yella
Dirigido por Christian Petzold, um dos nomes da chamada Escola de Berlim, "Yella" (2007) coloca na tela os bastidores do mercado financeiro, com suas imagens, atitudes, valores e riscos. Segundo o próprio diretor, as contradições do neoliberalismo são justamente as contradições da protagonista, que deixa sua pequena cidade no Leste alemão para trabalhar no Oeste com empresários inescrupulosos.
Foto: Hans Fromm
13 curtas sobre o estado do país
Inspirado no projeto coletivo anterior "Alemanha no Outono" (1978), os 13 curtas-metragens radiografaram em 2009 os problemas do país em 140 minutos – desde o fantasma da vigilância até as heranças do nazismo e do terrorismo. Com cineastas como Fatih Akin, Wolfgang Becker, Tom Tykwer e Hans Weingartner, a seleção marcou os 50 anos do fim da Guerra Fria e os 20 anos de queda do Muro de Berlim.
Foto: Piffl Medien GmbH
A fita branca
Produção alemã de 2009 dirigida pelo austríaco Michael Haneke, "A fita branca" levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Em preto e branco, ele traça um panorama da sociedade europeia às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o prenúncio de catástrofes iminentes. "Uma história infantil alemã", subtítulo do filme, remete tanto à "violência infantil" como à "infância" do nazismo do país.
Foto: picture-alliance/dpa/Les Film du Losange
Todos os outros
Rituais secretos, brincadeiras, desejos não realizados e jogos de poder permeiam as relações do casal que protagoniza este filme dirigido em 2009 pela cineasta Maren Ade. "Todos os outros", apontado como um dos mais franceses entre os filmes alemães, é um impressionante exercício de observação e sutileza sobre o amor e suas inerentes decepções, das quais ninguém escapa.