Sob críticas, Bolsonaro assiste a desfile de blindados
10 de agosto de 2021
Passagem de veículos militares ocorre no mesmo dia em que a Câmara analisa a PEC do voto impresso. Ato com presença de ministros foi alvo de críticas de parlamentares, que veem tentativa de intimidação do presidente.
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O presidente Jair Bolsonaro participou nesta terça-feira (10/08) de um desfile que reuniu dezenas de blindados e outros veículos militares em frente ao Palácio do Planalto.
Bolsonaro assistiu ao comboio do alto da rampa do Planalto, ao lado dos três comandantes das Forças Armadas e de diversos ministros, incluindo Walter Braga Netto (Defesa), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Ciro Nogueira (Casa Civil) e Anderson Torres (Justiça). Nenhum deles usava máscara facial contra o coronavírus.
A parada militar começou por volta de 8h30 (horário de Brasília) e durou cerca de dez minutos, reunindo, além de blindados, jipes, tanques e caminhões militares. Durante o desfile, um militar vestido com traje de combate desceu de um dos veículos e entregou ao presidente um convite para um treinamento de militares da Marinha programado para este mês em Formosa, Goiás.
Em mensagem nas redes sociais na segunda-feira, Bolsonaro explicou que a tropa viria do Rio de Janeiro para o exercício militar em Formosa, e portanto passaria por Brasília. Na postagem, em meio à polêmica causada pelo desfile militar, o presidente convidou os presidentes do Legislativo e do Judiciário, entre outras autoridades do país, para assistir ao comboio.
A parada militar foi alvo de críticas de parlamentares por ocorrer no mesmo dia em que a Câmara deve votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, amplamente defendida por Bolsonaro. Alguns deputados e senadores viram o desfile de blindados como uma tentativa de intimidação, ainda mais por ocorrer num momento de tensão entre os três Poderes.
A PEC foi rejeitada por uma comissão especial da Câmara na semana passada, mas o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), decidiu mesmo assim levar a proposta ao plenário. A maioria dos partidos já apontou que vai votar contra o texto, e o próprio presidente reconheceu uma possível derrota na segunda-feira.
Para Lira, o fato de o desfile ocorrer no mesmo dia da votação na Câmara foi uma "trágica coincidência''.
Reação de parlamentares
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e a deputada Tabata Amaral (sem partido-SP) tentaram impedir a passagem do comboio militar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas a ação acabou sendo rejeitada.
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"É um absurdo gastar recursos públicos em uma exibição vazia de poderio militar. As Forças Armadas, instituições de Estado, não precisam disso. Os brasileiros, sofrendo com as consequências da pandemia, também não precisam. O Brasil não é um brinquedo à disposição de lunáticos", afirmou Vieira.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa (PT-PE), também repudiou o ato, que chamou de uma demonstração de força de Bolsonaro para tentar pressionar e intimidar os deputados que votarão a PEC do voto impresso nesta terça-feira.
"Queria manifestar o meu repúdio ao presidente da República, que em vez de estar preocupado em cuidar do país, está preocupado em cercar o Congresso Nacional e, com isso, tentar intimidar os parlamentares na votação de um tema que é simples, é parlamentar, é da legislação, e está sendo transformado numa espécie de pretexto para demonstrações desse tipo, e quiçá até tentativas de golpe no nosso país", disse Costa na segunda-feira, em reunião da comissão.
A líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS), afirmou que a parada militar é um exemplo de "intimidação real, clara, indevida e inconstitucional". "Se [o desfile] acontecer, só cabe à Câmara dos Deputados rejeitar a PEC, em resposta clara e objetiva de que vivemos numa democracia e que assim permaneceremos."
O treinamento militar da Marinha ao qual Bolsonaro foi convidado durante o desfile, conhecido como Operação Formosa, acontece todos os anos na cidade goiana próxima a Brasília, desde 1988. É de praxe o presidente da República ser convidado, mas não é comum que ocorra uma parada militar para o convite.
ek/lf (Agência Senado, ots)
Ataques de Bolsonaro contra a imprensa
"Encher tua boca de porrada", "você tem cara de homossexual", "imprensa lixo". Guerra do ex-presidente contra a mídia inclui ameaças, grosserias e xingamentos a comentários de cunho sexual contra profissionais da área.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
"Encher sua boca de porrada"
Ao ser questionado por um repórter sobre depósitos de Fabrício Queiroz e sua mulher que teriam sido feitos na conta da primeira-dama, Bolsonaro respondeu: "Vontade de encher tua boca com porrada, tá? Seu safado". A ameaça gerou uma série de críticas e notas de repúdio.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
Jornalista "bundão", "só usam caneta para maldade"
Um dia depois, ele voltou à carga contra a imprensa. “Aquela história de atleta, né, que o pessoal da imprensa vai pôr deboche, mas quando pega um bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor. Só sabem fazer maldade, usar a caneta com maldade”, disse em evento no Palácio do Planalto. Bolsonaro disse que jornalista ‘bundão’ tem menos chance de sobreviver ao coronavírus do que ele próprio.
Foto: AFP/E. SA
"Grande mídia publica patifaria"
“É uma manchete canalha e mentirosa, e vocês da mídia, tenham vergonha cara. A grande parte publica patifaria”, acusou, comentando matéria da Folha de S. Paulo que noticiava a troca da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro e suposta interferência de Bolsonaro no comando da Polícia Federal.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Lopes
"Vocês inventam tudo"
Em abril de 2021, Bolsonaro se negou a falar com a imprensa na saída do Palácio da Alvorada e atacou os jornalistas presentes: “Eu não vou falar com a imprensa, porque eu não preciso falar. Vocês não distorcem mais, inventam. O que eu li hoje…Inventam tudo. Então, podem continuar inventando aí”, disse o presidente.
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Você tem cara de homossexual"
"Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual", disse o ex-mandatário em dezembro de 2020, ao ser questionado sobre possível envolvimento de seu filho Flávio em suposto esquema de rachadinha quando era deputado no Rio de Janeiro.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres
"Pergunta para a tua mãe"
Na mesma ocasião, ao ser indagado sobre se teria comprovante do empréstimo de R$ 40 mil que diz ter feito a Fabrício Queiroz para justificar depósitos do então assessor de Flávio na conta da primeira-dama, retrucou: 'Pergunta para tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai'.
Foto: Reuters/A. Machado
"Imprensa lixo chamada Globo"
“Essa imprensa lixo chamada Globo. Ou melhor, lixo dá para ser reciclado. Globo nem lixo é, porque não pode ser reciclada”, disse o então presidente depois da repercussão de sua fala “E daí?”, dita quando o Brasil superou a China no número de mortes pela covid-19.
Foto: Getty Images/AFP/E. SA
"Perguntando besteira"
"Vocês da Folha têm que entrar de novo numa faculdade que presta e fazer um bom jornalismo. E não contratar qualquer uma ou qualquer um pra ser jornalista. Pra ficar semeando discórdia e perguntando besteira", afirmou o ex-presidente, ao ser questionado por uma jornalista da Folha de S. Paulo sobre o contingenciamento nos orçamentos das universidades federais.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Frazão
"Ela queria dar um furo"
“Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, ironizou o ex-presidente sobre a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. O comentário de cunho sexual se referia à acusação, realizada sem provas, de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa de que a jornalista teria tentado "se insinuar" sexualmente para ele em busca de informações.
Foto: Imago Images/Fotoarena/R. Pereira
"Canalhice da Globo"
“Isso é uma patifaria, TV Globo! É uma canalhice o que vocês fazem, TV Globo. Uma canalhice, fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco”, acusou, em outubro de 2019, após o Jornal Nacional noticiar que o porteiro de seu condomínio dissera que Bolsonaro autorizara a entrada suposto envolvido no crime.