Organizadores acreditam que ações recentes da Justiça, implicando Lula diretamente em escândalos de corrupção, têm potencial para alavancar manifestações contra o governo, que perderam força ao longo do ano passado.
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As recentes ações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que incluem um pedido de prisão preventiva por parte do Ministério Público de São Paulo e a condução coercitiva seguida de interrogatório na Operação Lava Jato, acirraram o clima de tensão política no país e podem ter reflexos sobre os protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff, marcados para este domingo (13/03).
Tanto o Movimento Brasil Livre (MBL) como o Vem pra Rua, os dois principais organizadores das manifestações contra Dilma, disseram esperar, para este domingo, o maior protestos de todos até agora.
Analistas políticos ouvidos pela DW Brasil não são, porém, unânimes sobre o efeito das recentes ações envolvendo Lula sobre os protestos. Alguns dizem que essas ações vão estimular mais pessoas a ir para as ruas. Outros afirmam que uma sensação de que a Justiça está funcionando pode, ao contrário, diminuir o ímpeto de pessoas insatisfeitas com o governo.
As mobilizações populares a favor do impeachment de Dilma perderam força ao longo do ano passado. No primeiro grande ato nas ruas, em 15 de março do ano passado, o Instituto Datafolha contabilizou 210 mil pessoas presentes na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Já na seguinte, em 12 de abril, o número caiu para 100 mil e, em 16 de agosto, subiu para cerca de 135 mil.
No último protesto, em 13 de dezembro, alguns dias depois de o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, autorizar o pedido de abertura do processo de impeachment de Dilma e da prisão inédita do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), a Polícia Militar estimou a participação de cerca de 30 mil pessoas e, o Datafolha, de 40 mil.
Adesão maior ou menor?
Para o especialista Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Wilson Center, em Washington, existe a impressão de que os recentes acontecimentos possam levar a uma "explosão" nas ruas. Ele prevê, porém, que a adesão será menor do que em protestos anteriores. "Um fator que joga contra as manifestações é o perigo de confrontos", afirma.
Para o professor de política Humberto Dantas, do Insper, o entendimento que algumas pessoas têm de que a Justiça está funcionando de forma eficiente poderá repelir a presença dos manifestantes. "Se o objetivo era protestar contra a impunidade, pode ser que uma parte da população não veja mais motivo para sair de casa", frisa.
Por outro lado, o cientista político David Fleischer, da Universidade Nacional de Brasília (UnB), diz que recentes acontecimentos da Operação Lava Jato podem fazer com que os protestos deste domingo sejam bem maiores. "Há muitas delações premiadas acontecendo, e elas darão gás para os atos. Tem muita coisa 'pipocando'", avalia.
Apesar da queda do número de manifestantes nos últimos atos, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo estima que os protestos deverão reunir cerca de 1 milhão de pessoas na Avenida Paulista. Com a expectativa de que apoiadores do governo protestem contra o impeachment da presidente, o esquema de segurança na capital paulista foi planejado com base no ato de março de 2015.
Naquele mês, a Polícia Militar estimou em 1 milhão o número de manifestantes na Avenida Paulista, cifra amplamente constestada após o protesto e cinco vezes maior que a divulgada pelo Instituto Datafolha.
Onda de radicalização nas redes sociais
A condução coercitiva de Lula na Operação Lava Jato e a denúncia à Justiça e o pedido de prisão do ex-presidente pelo MP-SP acirraram ainda mais o clima de tensão política no país. A ação do Ministério Público Federal, na sexta-feira passada, provocou manifestações espontâneas de pessoas contra e a favor do governo, com confrontos em frente à residência do presidente, em São Bernardo do Campo, e nas proximidades do local onde o ex-presidente realizou seu depoimento.
Para o cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais, as reações de alguns setores da sociedade contra a condução coercitiva de Lula foram muito fortes, e a Operação Lava Jato acabou por acentuar a divisão do país. "A Lava Jato passou da forte unanimidade entre a opinião pública para uma operação em que há fortes dúvidas de que ela não tenha elementos partidários e politizados", explica.
Ele afirma, ainda, que o país está vivendo uma forte onda de radicalização, que se manifesta principalmente nas redes sociais, mas que pode se estender para as ruas. "E isso seria muito ruim para a democracia brasileira", opina.
Para evitar possíveis confrontos entre grupos pró e contra o impedimento de Dilma, os manifestantes a favor da presidente não poderão protestar na região da Avenida Paulista, já que os grupos pró-impeachment fizeram a solicitação para realizar o ato há mais de dois meses. Já Dilma apelou a movimentos sociais para que cancelem atos marcados para o domingo em cidades onde já existem manifestações agendadas a fim de evitar violência e confrontos.
Os envolvidos na Operação Lava Jato
A operação que investiga um megaesquema de corrupção na Petrobras já acusou mais de 200 pessoas, sendo que metade delas foi condenada. Relembre as principais ações penais da Lava Jato e seus envolvidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/N. Antoine
Youssef absolvido
Denúncia: Evasão de 124 mil dólares não declarados, lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas e tráfico de 700 kg de cocaína.<br/> Resultado: Dois condenados (René Luiz Pereira e Carlos Habib Chater, dono do posto que deu nome à operação), um absolvido em 1ª instância (o doleiro Alberto Youssef, na foto) e um absolvido em 2ª instância (André Catão).<br/> Data: 21 de outubro de 2014.
Foto: cc-by/Valter Campanato/ABr
Primeira condenação de Youssef e Costa
Denúncia: Lavagem de dinheiro e formação de grupo criminoso organizado. Houve desvio de dinheiro público na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por meio de contratos superfaturados.</br> Resultado: Oito condenados (entre eles, Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, na foto) e dois absolvidos.</br> Data: 22 de abril de 2015.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil
Youssef e o dinheiro do mensalão
Denúncia: Lavagem de dinheiro. Os recursos, que ultrapassam 1 milhão de reais, pertenciam ao ex-deputado federal José Janene, morto em 2010, e eram provenientes do esquema do mensalão.</br> Resultado: Quatro condenados: Alberto Youssef, Carlos Habib Chater, Ediel Viana da Silva (funcionário do Posto da Torre) e Carlos Alberto Pereira da Costa (laranja de Youssef).</br> Data: 6 de maio de 2015.
Foto: Reuters
Cerveró é condenado
Denúncia: Lavagem de dinheiro. Nestor Cerveró (foto), ex-diretor da área Internacional da Petrobras, comprou um apartamento de luxo no Rio de Janeiro – hoje avaliado em 7,5 milhões de reais – com dinheiro de propina da Petrobras.</br> Resultado: Um condenado.</br> Data: 26 de maio de 2015.
Foto: José Cruz/ABr
A primeira sentença a empreiteiros
Denúncia: Corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, envolvendo contratos da construtora Camargo Corrêa com as refinarias Abreu e Lima e Getúlio Vargas. As propinas pagas pela empresa ultrapassam os 50 milhões de reais.</br> Resultado: Seis condenados (entre eles, Youssef, Costa e três ex-dirigentes da Camargo Corrêa) e três absolvidos.</br> Data: 20 de julho de 2015.
Foto: AFP/Getty Images/Y. Chiba
Próximo alvo: executivos da OAS
Denúncia: Corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, envolvendo contratos da empreiteira OAS com as refinarias Abreu e Lima e Getúlio Vargas. As propinas pagas somam quase 30 milhões de reais.</br> Resultado: Sete condenados (Youssef, Costa, na foto, e mais cinco executivos ligados à OAS, entre eles, o presidente, José Aldemário Pinheiro Filho).</br> Data: 5 de agosto de 2015.
Foto: picture-alliance/AP/E. Peres
Novo operador: Fernando Baiano
Denúncia: Corrupção e lavagem de dinheiro, envolvendo pagamento e recebimento de propina em contratos com a Petrobras. As vantagens indevidas superam 50 milhões de reais.</br> Resultado: Três condenados (Nestor Cerveró, em sua segunda condenação, o lobista Fernando Baiano e um ex-consultor da Toyo Setal, Júlio Camargo) e um absolvido (Youssef).</br> Data: 17 de agosto de 2015.
Foto: Reuters/S. Moraes
Um petista e mais dois ex-Petrobras
Denúncia: Corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. As propinas negociadas chegaram a 40 milhões de reais.</br> Resultado: Dez condenados (entre eles, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, na foto, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco e Alberto Youssef) e um absolvido (Paulo Roberto Costa).</br> Data: 21 de setembro de 2015.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Villalba Racines
Primeiro político condenado
Denúncia: Corrupção e lavagem de dinheiro, envolvendo propinas de pelo menos 1 milhão de reais, por meio de contratos de publicidade firmados com a Caixa e o Ministério da Saúde.</br> Resultado: Três condenados: o ex-deputado federal André Vargas (foto), o irmão dele, Leon Vargas, e o publicitário Ricardo Hoffmann.</br> Data: 22 de setembro de 2015.
Foto: José Cruz/ABr
O segundo político
Denúncia: Corrupção e lavagem de dinheiro, envolvendo propinas de pelo menos 11 milhões de reais.</br> Resultado: Três condenados (entre eles, o ex-deputado federal Pedro Corrêa, que chegou a receber propina enquanto era julgado na Ação Penal 470, o mensalão, processo em que também foi condenado) e dois absolvidos.</br> Data: 29 de outubro de 2015.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
Mais empreiteiras na mira
Denúncia: Lobistas, doleiros, ex-diretores da Petrobras e executivos ligados à construtora Andrade Gutierrez (entre eles, o presidente da empresa, Otávio Marques de Azevedo, na foto) foram denunciados por formação de quadrilha, corrupção, organização criminosa e lavagem de capitais, após envolvimento no esquema da Petrobras.</br> Resultado: Denúncia aceita pela Justiça; réus aguardam sentença.
Foto: Reuters/F. de Holanda TPX Images of the day
Agora, a Odebrecht
Denúncia: Preso desde junho de 2015, Marcelo Odebrecht – então presidente da empreiteira Odebrecht – é acusado de envolvimento com o esquema de corrupção. A empresa pagava propina, que era repassada a funcionários da Petrobras.</br> Resultado: Foi condenado a 19 anos de prisão por crimes como corrupção e organização criminosa.</br> Data: 8 de março de 2016.
Foto: Reuters/E. Castro-Mendivil/Files
Mais uma vez condenado
Denúncia: O ex-ministro José Dirceu passou a ser réu da Lava Jato enquanto cumpria pena pelo mensalão. Ele e outras 14 pessoas foram denunciadas por vários atos de corrupção dentro da Petrobras.</br> Resultado: Dirceu foi condenado a 23 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Outras dez pessoas também foram condenadas.</br> Data: 18 de maio de 2016.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Alves
Outra denúncia contra Odebrecht
Denúncia: Marcelo Odebrecht é reu outra vez, junto a outros executivos do grupo, em processo que investiga irregularidades em oito contratos firmados pela empresa com a Petrobras. Segundo o MPF, as propinas chegaram a 137 milhões de reais.</br> Resultado: Denúncia aceita pela Justiça; réus aguardam sentença.
Foto: picture alliance/ZUMAPRESS.com
Collor acusado de corrupção
Denúncia: O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) é acusado de cometer crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, tendo recebido pelo menos 3 milhões de reais em propinas de contratos da Petrobras. Em julho, a Polícia Federal fez buscas em suas propriedades e confiscou três carros de luxo.</br> Resultado: Denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF), aguarda decisão.
Foto: ROBERTO SCHMIDT/AFP/Getty Images
Repasses ao PT
Denúncia: O pecuarista José Carlos Bumlai é acusado de corrupção, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro, por fraudes na compra de um navio-sonda pela Petrobras. Em depoimento, confessou ter feito um empréstimo de 12 milhões de reais no Banco Schahin para repassar ao PT. Entre os outros dez réus, estão Cerveró, Vaccari e executivos do Grupo Schahin.</br>Resultado: Denúncia aceita pela Justiça.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
A denúncia contra Cunha
Denúncia: O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é acusado de receber milhões de reais em propina no esquema de corrupção na Petrobas, que teriam sido depositados em contas em seu nome na Suíça. Ele responde pelos crimes de corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.</br> Resultado: Denúncia aceita pela Justiça; réu aguarda julgamento.
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Mulher de Cunha também é ré
Denúncia: A jornalista Cláudia Cordeiro Cruz, mulher de Eduardo Cunha, é acusada de esconder, em conta secreta no exterior, valores provenientes do esquema criminoso instalado na diretoria internacional da Petrobras. Ela responde pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.<br> Resultado: Denúncia aceita pela Justiça; ré aguarda julgamento.
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Lula e Delcídio
Denúncia: O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-senador Delcídio do Amaral e outras cinco pessoas são acusados de terem tentado atrapalhar as investigações da Lava Jato ao negociar para impedir que o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró assinasse acordo de delação premiada.</br> Resultado: Denúncia aceita pela Justiça; réus aguardam julgamento.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Dana
Ex-ministro e senadora denunciados
Denúncia: A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo (foto), são acusados de pedir e receber propina no valor de 1 milhão de reais oriundos da Petrobras. O montante teria sido usado na campanha de Gleisi ao Senado em 2010.</br> Resultado: Denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF), aguarda decisão.
Foto: Reuters/U. Marcelino
Lula e o tríplex
Denúncia: O ex-presidente Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter supostamente recebido 3,7 milhões de reais em vantagens indevidas da construtora OAS. Parte do montante está relacionada a um tríplex no Guarujá. Também são alvos da ação a mulher do petista, Marisa Letícia, e mais seis pessoas.<br> Resultado: Denúncia apresentada pelo MPF, aguarda decisão.